Dia Mundial do Cérebro : Esclerose Múltipla

A Esclerose Múltipla (EM), também conhecida como ‘esclerose em placas’, é uma doença de natureza autoimune que leva ao aparecimento de lesões inflamatórias recorrentes no Sistema Nervoso Central (SNC). As lesões atingem sobretudo a mielina (substância branca) e por isso é também designada como uma doença desmielinizante.

Dr. José Vale Ex-Presidente da Sociedade Portuguesa de Esclerose Múltipla Director do Serviço de Neurologia do Hospital Beatriz Ângelo Coordenador Serviço de Neurologia do Hospital Lusíadas Lisboa Professor de Clínica da Faculdade de Medicina de Lisboa

A doença manifesta-se habitualmente em idades jovens (20-40 anos) e tal como outras doenças autoimunes atinge predominantemente as mulheres (3:1); estima-se que em Portugal existam cerca de 8000 pessoas afetadas.

Na forma mais comum, a doença evolui por surtos, traduzidos pelo aparecimento de sintomas que resultam do aparecimento de novas lesões no SNC. Os sintomas mais comuns incluem: alterações da sensibilidade (dormência/ formigueiros), falta de força de um segmento corporal, perda de visão, visão dupla, incoordenação dos movimentos, ou alteração do controlo urinário.

Numa fase inicial, estes sintomas regridem completamente em semanas, mas com a evolução da doença podem começar a deixar sequelas e a gerar incapacidade. Esta situação pode ter consequências muito negativas em termos profissionais, familiares e sociais.

As causas da doença não são ainda conhecidas. Admite-se que o fenómeno de autoimunidade que caracteriza a EM resulte de uma combinação adversa de fatores genéticos e ambientais. No que respeita aos fatores ambientais, estudos realizados em grandes populações indicam que: o défice de vitamina D, a obesidade infantil, hábitos tabágicos e a infeção pelo vírus Epstein-Barr (‘doença do beijinho’) aumentam o risco de vir a desenvolver EM. O conhecimento atual sobre estes fatores de risco não permitem para já a implementação de um plano de prevenção.

Não existe nenhum teste específico para estabelecer o diagnóstico de EM. O diagnóstico é baseado na conjugação dos achados clínicos e dos resultados de alguns exames complementares, particularmente da Ressonância magnética e alguns exames laboratoriais (sangue e líquor).

Embora existam critérios de diagnóstico bem estabelecidos, é fundamental que cada caso suspeito de EM seja avaliado por um neurologista com experiência nesta patologia.

Nas últimas três décadas, mercê do desenvolvimento das novas técnicas de imagem e da biologia molecular, registaram-se avanços notáveis na EM. Atualmente é possível fazer o diagnóstico muito precocemente, são mais bem conhecidas as alterações imunológicas que caracterizam a doença e, mais importante, foi possível desenvolver  fármacos eficazes no controlo da doença.

O tratamento tem várias vertentes. O tratamento sintomático inclui o tratamento dos surtos (corticoides) e dos sintomas persistentes – fadiga, défices motores, disfunção urinária, entre outros. O tratamento específico para doença é feito com fármacos que são tomados regularmente e que visam controlar o processo autoimune – imunomoduladores. Atualmente dispomos de mais de uma dezena de imunomoduladores e está em curso uma extensa investigação com novas moléculas.

Estes novos fármacos vieram melhorar significativamente o prognóstico da doença e embora ainda não se vislumbre uma cura, é plausível que daqui a alguns anos possamos tornar a EM uma doença crónica controlável.


Dia Mundial do Cérebro
A World Federation of Neurology (WFN) instituiu o Dia Mundial do Cérebro com o objetivo de chamar a atenção para as grandes questões do cérebro e procurar promover a saúde neurológica e mental. Para se alertar sobre a importância dos cuidados com essa região do corpo humano, este dia passou a ser celebrado em vários países a 22 de julho.

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