Em entrevista à Revista Business Portugal, Paulo Clemente, Presidente da União das Freguesias de Marrazes e Barosa, partilha a sua visão sobre a liderança autárquica, os desafios da fusão das freguesias e as prioridades para o futuro, destacando a gestão eficiente dos recursos e a modernização dos serviços.
Paulo Clemente revela uma trajetória de experiências que moldaram a sua abordagem na gestão pública. Com um passado multifacetado na educação e na música, sublinha a importância de saber guiar e inspirar. “A docência ensina-nos a lidar com alunos, a motivá-los e a gerir expectativas. Como maestro, aprendi a coordenar um grupo de pessoas e a incentivá-las a trabalhar em conjunto”. Estas habilidades são fundamentais na liderança de uma freguesia, “pois permitem gerir recursos humanos com eficácia e garantir uma resposta eficiente às necessidades da população”, reflete.
Os desafios da fusão de freguesias
A União das Freguesias de Marrazes e Barosa, em 2013 trouxe consigo uma série de desafios complexos. De acordo com o Presidente, o processo exigiu uma gestão cuidadosa e atenta às particularidades de cada localidade. “O primeiro grande desafio foi congregar as duas freguesias num objetivo comum: responder às necessidades do território de forma equitativa. O nosso objetivo era que a freguesia de Barosa, sendo significativamente menor que Marrazes, não se sentisse excluída do processo”, ressalta.
A integração administrativa também representou um obstáculo significativo: “Quando a freguesia de Barosa foi agregada, não possuía funcionários”, explica o Presidente. Para solucionar este problema, “a Junta tomou a iniciativa de contratar uma funcionária para assegurar o atendimento da população e, posteriormente, reforçou a equipa com uma segunda”. Além do reforço da equipa de funcionários, a melhoria dos serviços de saúde foi outra prioridade para a nova gestão. “Também ampliámos os serviços de saúde, melhorando as condições da delegação de saúde local”, enfatiza. Estas ações demonstram que a fusão das freguesias, apesar dos seus desafios, tem sido encarada com um olhar atento às necessidades de cada uma das localidades, promovendo uma integração harmoniosa e equitativa.
Carências e desafios do território
Paulo Clemente traçou um panorama da realidade local, onde os desafios se acumulam devido a limitações de recursos. A grande extensão territorial, a escassez de verbas e a necessidade de respostas rápidas à população figuram como os principais obstáculos na gestão do dia a dia. “Os impostos gerados na freguesia não ficam cá”, lamenta.
A União das Freguesias abriga três zonas industriais e vários supermercados de grande porte, contudo a receita fiscal proveniente destas atividades não beneficia diretamente a localidade. “O IMI gerado anualmente ronda os 4,5 milhões de euros, dos quais apenas 1,5% retorna à freguesia, o que equivale a cerca de 50 mil euros”, enfatiza.
Além disso, existe uma dependência do apoio da Câmara Municipal para a realização de obras de maior envergadura. “Com recursos limitados, a Junta depende do apoio da Câmara para a realização de grandes obras”, sublinhando a fragilidade financeira que impede a autonomia da freguesia na concretização de projetos.
A área territorial, que se estende por 33 quilómetros e engloba cerca de 650 ruas, impõe ainda mais desafios na manutenção e conservação dos espaços públicos. “As exigências da população são muitas e os recursos disponíveis nem sempre permitem dar resposta imediata a todas as solicitações. Outro grande desafio é o de multiculturalidades, esta União das Freguesias é um mundo. Ter a capacidade de criar uma comunidade mais inclusiva e plural, que valorize a diversidade cultural, promovendo a igualdade de oportunidades ”. Desta forma, a União das Freguesias de Marrazes e Barosa enfrenta uma realidade complexa, onde a gestão eficaz de recursos limitados se torna um exercício diário de superação.
Desmaterialização e comunicação digital
A autarquia tem investido na desmaterialização de processos administrativos, promovendo a comunicação digital e a redução do uso de papel. No entanto, este processo enfrenta desafios significativos. “Há uma grande resistência ao formato digital, pois parte da população tem pouca literacia informática. Muitos não sabem preencher documentos eletronicamente, o que dificulta a transição para processos totalmente digitais”, destaca o presidente.
Ainda assim, a modernização da gestão da Junta já trouxe avanços importantes. “A documentação interna já é totalmente digital e as comunicações oficiais também. Nas Assembleias de Freguesia, a documentação é disponibilizada em formato digital, sendo impressa apenas a pedido. A assinatura digital também tem sido implementada, mas ainda temos um longo caminho a percorrer para atingir o objetivo de papel zero”.
Objetivos do futuro
Entre os principais projetos que Paulo Clemente pretende concretizar até ao final do mandato, destaca-se a requalificação do pavilhão desportivo da freguesia e a reabilitação de várias ruas. “Temos um conjunto de intervenções planeadas para cerca de 50 ruas. O objetivo é concluí-las antes do final do mandato, mas, realisticamente, sabemos que algumas poderão não ser finalizadas dentro do prazo previsto”.
Quanto ao seu legado enquanto Presidente, Paulo Clemente prefere manter uma visão de continuidade. “Se dissesse que quero fechar um ciclo, estaria a admitir que não pretendo continuar. Mas a obra nunca acaba. Como se costuma dizer, ‘enquanto o homem sonha, a obra continua’. Quero fazer o melhor que puder e, depois, caberá à população decidir se devo continuar ou não”.
Mensagem à população
Paulo Clemente deixa um apelo à comunidade: “É fundamental preservar o bem público, pois só assim conseguiremos uma maior eficiência. Os que trabalham na autarquia dão o seu melhor para melhorar as condições de vida de todos os residentes. Esse é o nosso principal objetivo”, conclui. A liderança de Paulo Clemente reflete um equilíbrio entre visão estratégica e proximidade com os cidadãos. Apesar dos desafios, a União das Freguesias de Marrazes e Barosa continua a evoluir, impulsionada por uma gestão dedicada e focada no desenvolvimento sustentável da comunidade.