Antarte elegância intemporal

A Antarte, empresa portuguesa de mobiliário, celebra 25 anos de história com um olhar firme no futuro. A marca, que se destaca pelo design intemporal e pela inovação, tem vindo a expandir-se e a marcar presença em novos mercados, sempre com a sustentabilidade em mente. Em entrevista, Mário Rocha, CEO da Antarte, falou sobre os marcos que mais o orgulham e a visão para os próximos anos.

 

 

Mário Rocha, Fundador e CEO da Antarte

 

Este tem sido um ano muito positivo e cheio de novidades no seio da Antarte. Em abril deste ano inauguraram o Antarte Center, com a criação do Antarte Museum que pretende ser uma homenagem à história da marcenaria e ao mobiliário intemporal. Como vê o impacto deste museu na promoção do design e da marcenaria portuguesa a nível nacional e internacional?

O Antarte Museum é um feito único na Cultura em Portugal. É uma iniciativa de Responsabilidade Cultural, um novo patamar que deve estar na missão das empresas de vanguarda. Hoje falamos imenso de responsabilidade ambiental e social, mas a Antarte foi mais longe. Teve outra ambição e quis deixar um legado cultural ao país e à Europa –, uma vez que é o único museu na Europa – e provavelmente no mundo – que conta a história da marcenaria. Representa um investimento de 1,4 milhões de euros, totalmente financiado pela Antarte, mais de uma década a colecionar mais de mil peças de ferramenta e máquinas (com três séculos) e dois anos de investigação sobre este ofício milenar. Há zero euros de entidades públicas e o projeto viu a luz do dia com perspetivas de se tornar parte de roteiros Erasmus em entidades académicas portuguesas.

A recente inauguração da loja em Leiria marca um ponto importante na estratégia de expansão da Antarte. Que desafios e oportunidades surgem ao expandir a marca em capitais de distrito como Leiria? Quais são os próximos passos da marca nesse âmbito?

As capitais de distrito enquanto aglomerados populacionais de relevo, implicam o desafio de um investimento significativo na seleção das lojas, na criação de postos de trabalho e na comunicação. Dou um exemplo: a Antarte Leiria implicou um investimento de 2,5 milhões de euros e as empresas que materializaram o projeto de reconversão do espaço foram todas de Leiria. Os media locais também beneficiaram com a compra de espaço para divulgação da nova loja. Os próximos passos irão passar pela abertura de uma loja numa das mais dinâmicas capitais de distrito do sul do país até ao fim do primeiro semestre de 2025.

A Antarte apresentou, recentemente, as primeiras peças de mobiliário portuguesas desenhadas com recurso à Inteligência Artificial. Como é que a integração da IA no processo criativo coexiste com o know-how artesanal e a filosofia de design intemporal da marca?

A IA está ainda numa fase de aprendizagem. Diria que estamos na infância de uma ferramenta que vai mudar a forma como se relacionam a tecnologia e o raciocínio humano. Após uma longa série de inputs, foi dada liberdade criativa à IA para apresentar a sua visão de peças de mobiliário com o design intemporal da Antarte. Naturalmente que houve ajustes necessários para as peças passarem à fase de industrialização. Alguns detalhes dos móveis propostos pela IA não faziam sentido numa lógica de produção em escala.

Após a produção da cadeira do Papa Bento XVI, agora foram convidados a criar um cadeirão para o Papa Francisco. Quais foram as principais diretrizes e inspirações para este novo projeto? E como foi a coordenação entre a equipa da Antarte e as exigências do Vaticano?

Não pude recusar assumir a direção criativa do design do cadeirão que a Antarte produziu para o Papa Francisco após o desafio lançado pelo Presidente da República de Timor-Leste e Nobel da Paz, Dr. Ramos-Horta. As principais diretrizes enviadas pelo Vaticano indicavam uma peça que devia ser materializada com matérias-primas sustentáveis pelo que usamos algodão e linho, tecidos em tear. O design deveria representar a personalidade do Papa Francisco: simplicidade e leveza intemporais com o brasão do Vaticano a destacar-se no topo da costa.

 

 

A Antarte tem uma das maiores redes de lojas entre as marcas portuguesas de mobiliário

O Antarte Museum, inaugurado em 2024, é o único museu da Europa dedicado à Marcenaria

 

A Antarte é um exemplo de uma empresa familiar que conseguiu manter-se na vanguarda do design e inovação. Quais têm sido as maiores vantagens e desafios em manter uma gestão familiar num contexto empresarial tão competitivo e em constante mudança?

Um dos pontos essenciais numa empresa ágil é a sua cultura. A Antarte tem na gestão de topo quadros da família fundadora com valências diversas, mas que partilham uma cultura única de rigor, inovação permanente, aceitação de desafios e metas ambiciosas. Esta unidade na forma de encarar a gestão de curto e longo prazo permite que os projetos não fiquem parados no tempo e que se cumpram objetivos, quase sempre acima das expectativas.

A sustentabilidade é uma prioridade clara para a Antarte, com iniciativas como o uso de madeiras sustentáveis (criptoméria) e o projeto Love Nature. Como equilibram a procura por matérias-primas sustentáveis com a exigência de qualidade dos vossos produtos? Quais são os próximos passos da empresa na área da responsabilidade ambiental?

A sensibilidade do consumidor europeu torna mais fácil esta mudança. É um consumidor que sabe o valor de um produto feito com matérias-primas sustentáveis e está disposto a pagar um valor mais elevado se tiver a garantia de que está a adquirir algo do género. Estamos num setor que utiliza recursos naturais e temos de devolver à Natureza o que generosamente nos dá. Iremos voltar a apostar em iniciativas que promovam a recuperação da floresta autóctone tão maltratada pelos nossos produtores florestais; no uso de energias renováveis na fase de produção (quase 70% da energia usada nas nossas fábricas provém de painéis solares); e no desperdício zero. Saliento que aproveitamos aparas de madeiras para a produção de calor para aquecer as instalações fabris nos meses mais frios e para as estufas de secagem dos produtos lacados e envernizados.

 

O design intemporal é a imagem de marca das coleções de mobiliário da Antarte

 

A Antarte criou peças únicas para personalidades como José Mourinho, Fernando Santos e Cavaco Silva. Como se desenvolve o processo criativo quando a peça é destinada a uma figura pública? Existe uma pressão adicional por causa da visibilidade dessas peças?

A Antarte tem um histórico notável de projetos desta natureza. Em 25 anos de história temos mais de uma dezena. O mais emblemático foi a materialização da instalação de arte “Encontro” desenhada pelo mestre da arquitetura portuguesa, Álvaro Siza Vieira. O primeiro Pritzker português queria ser escultor na juventude, mas o pai insistiu em ser arquiteto. Foi um enorme desafio de interpretação do conceito pretendido por Siza Vieira para este trabalho encomendado pelo Vaticano para o seu pavilhão na Bienal de Veneza. Saliento a pressão do cumprimento de prazos, a logística de transporte e montagem das peças num destino fora de portas, mas sobretudo reproduzir fielmente o conceito que “o mestre” tinha em mente… e o facto de estar a realizar um sonho de juventude no ano em que celebrou 90 anos.

A Antarte tem um histórico de apoio a causas sociais, como o projeto “Árvore Solidária” e o donativo à Liga Portuguesa Contra o Cancro. De que forma estas iniciativas refletem os valores da marca e como pensa que elas influenciam a perceção pública da Antarte?

Trata-se de retribuir à comunidade o que nos entrega. Estes projetos são um dever cívico. Não há como questionar a sua nobre valia. Estes são os valores da Antarte que também se orgulha de ter recebido recentemente um certificado da CITE (Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego), pelas boas práticas na promoção da Igualdade Remuneratória entre Mulheres e Homens por trabalho igual ou de igual valor. Recordo ainda que a Antarte tem nos seus quadros, colaboradores de uma dezena de nacionalidades diferentes.

A Antarte está presente em diversos mercados internacionais, como França, Suíça e países africanos. Como foi o processo de adaptação do vosso design e oferta de produtos para mercados com culturas e estilos de vida tão distintos?

As coleções de mobiliário da Antarte estão na vanguarda das tendências em home decor. O facto de termos uma experiência de internacionalização quase desde a fundação da marca em 1998, e a aposta que fizemos em mercados sofisticados como os países do centro de Europa, deu-nos uma sensibilidade acrescida a antecipar o que os clientes pretendem. De notar que os consumidores portugueses sempre foram bastante vanguardistas na adoção de tendências e que exportamos imenso cá dentro. Em várias das nossas lojas, uma boa parte dos clientes são de outras nacionalidades. A nossa ampla rede de lojas permite-nos auscultar o mercado em permanência e ter uma oferta de produtos que seguem tendências globalizadas em home decor. No caso do Médio Oriente, a abertura de um ponto de venda no Dubai implicou alguns ajustes na oferta como a utilização de pormenores dourados nas peças de mobiliário, algo muito valorizado pelos gostos locais.

 

 

As coleções de mobiliário da Antarte têm nome de cidades referenciais em lifestyle

 

 

A Antarte tem como premissa a criação de peças de design intemporal. Como equilibram esta filosofia com as tendências temporárias do mercado de mobiliário e decoração? E como asseguram que as vossas coleções continuam a ser relevantes a longo prazo?

Diria que as peças Antarte estão num patamar acima desse conceito de tendências temporárias. A nossa filosofia de design faz-nos criar peças que se tornaram ícones e são até alvo de contrafação, tal como os artigos das marcas de luxo mundiais. Sempre que idealizamos coleções temos em conta a elegância do design, mas acompanhada de funcionalidade. Dou um exemplo: de que adianta criarmos um sofá com design vanguardista, mas que não proporciona conforto para ser desfrutado, sendo esta a sua função essencial?

A capacidade de as empresas ultrapassarem momentos adversos é também um fator de sucesso e longevidade. Há algum momento ou fase adversa que a Antarte tenha ultrapassado e da qual tenha retirado lições de gestão?

Como todas as empresas de sucesso, a Antarte passou e ultrapassou momentos difíceis. Recordo-me em particular do ano difícil de 2011. Tivemos de reconfigurar a nossa rede de lojas com o encerramento de quatro lojas em shopping para depois abrirmos três lojas de rua. Tivemos de reduzir o grupo de três empresas para uma empresa. Mas saliento que não despedimos um único trabalhador. Alguns quiseram sair por iniciativa própria. E hoje orgulho-me de a Antarte ter sido distinguida pela Scoring por um Índice de Desempenho e Solidez Financeira (IDS) “Excelente”, evidenciando uma Sustentabilidade Financeira acessível apenas a 5% das PME nacionais. A grande lição de gestão chama-se resiliência.

Após 25 anos de história, a Antarte continua a inovar e a expandir-se. Que marcos mais o orgulham e que visão tem para os próximos anos, tanto a nível de novos mercados como em termos de inovação no design e produção?

A nível de novos mercados, continuaremos a ponderar o momento certo de abordar o mercado norte-americano e expandirmo-nos nos mercados emergentes do Médio Oriente. Em termos de inovação, a Antarte irá continuar a ser a marca do design intemporal e que está na vanguarda das tendências em home decor entre as marcas de mobiliário nacionais. Uma marca que com apenas 25 anos tem projetos especiais desenvolvidos com Joana Vasconcelos, Álvaro Siza Vieira, Nini Andrade Silva, duas cadeiras personalizadas para os Papas, ou o único museu da Marcenaria na Europa, só pode encarar o futuro com a confiança de quem abraça desafios como oportunidades. Acredito que iremos continuar a receber convites para materializar iniciativas como estas e em breve teremos de ampliar o Antarte Museum para expor mais páginas douradas da nossa história.

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