Oftalmologia em 2024 perspetiva sobre avanços e obstáculos para a saúde ocular

 

J. Salgado-Borges. MD, PhD, FEBO Diretor Clínico da Clinsborges, Embaixador em Portugal do TFOS (Tear Film & Ocular Surface Society) e Membro da EUDES (European Dry Eye Society) www.clinsborges.pt / www.salgadoborges.com

 

A oftalmologia tem evoluído de forma notável, impulsionada tanto por inovações tecnológicas quanto pela consciência ambiental. Esta evolução vai além dos avanços em técnicas e equipamentos, refletindo-se também na abordagem mais abrangente dos oftalmologistas face à saúde ocular, onde as considerações de sustentabilidade ganham relevo. Estas mudanças climáticas, como o aumento da poluição do ar e da exposição à radiação UV, influenciam diretamente várias condições oculares.

Simultaneamente, a inteligência artificial (IA) surge como um fator revolucionário na oftalmologia, transformando o diagnóstico e tratamento de doenças oculares. A fusão da sustentabilidade com a IA na oftalmologia não só promete elevar a qualidade dos cuidados prestados, mas também garante o bem-estar ambiental e das gerações futuras. Este artigo explora estes avanços e desafios, com enfoque particular na miopia, uma condição crescente na sociedade atual.

Sustentabilidade na Prática Oftalmológica

As alterações climáticas têm um impacto profundo na saúde ocular. O aumento da poluição do ar, por exemplo, está associado a um risco acrescido de doenças oculares como a síndrome do olho seco, cataratas e até degeneração macular relacionada com a idade. Além disso, o aumento da radiação ultravioleta (UV) devido à diminuição da camada de ozono pode conduzir a um maior risco de cataratas e de lesões na retina. Estas mudanças ambientais exigem uma resposta adaptativa da oftalmologia, tanto em termos de tratamento como de prevenção.

Para mitigar o impacto ambiental da oftalmologia, torna-se imperativo adotar estratégias sustentáveis. Uma delas é a redução do uso de materiais descartáveis. Isto pode ser alcançado através da substituição de instrumentos descartáveis por opções reutilizáveis e esterilizadas, sempre que possível. Além disso, a adoção de tecnologias mais eficientes, que consomem menos energia e recursos, é essencial.

 

 

O Papel da Inteligência Artificial na Oftalmologia

A inteligência artificial (IA) está a revolucionar o diagnóstico de doenças oculares. Com a sua capacidade de processar grandes volumes de dados de imagens oculares, a IA pode identificar padrões que podem passar despercebidos ao olho humano. Isto é particularmente valioso no diagnóstico precoce de condições como o glaucoma e a retinopatia diabética, onde a deteção atempada é crucial para a prevenção da perda de visão. A IA também está a facilitar a personalização do tratamento, permitindo uma abordagem mais adaptada às necessidades individuais dos pacientes.

Num mundo onde o acesso a cuidados oftalmológicos especializados é desigual, a IA oferece uma solução para democratizar este acesso.

Em áreas com recursos limitados, sistemas baseados em IA podem ser utilizados para realizar triagens e diagnósticos iniciais, identificando pacientes que necessitam de cuidados urgentes. Esta tecnologia pode ajudar a superar barreiras geográficas e económicas, permitindo que mais pessoas tenham acesso a um diagnóstico preciso e atempado, essencial para a prevenção da cegueira e outras deficiências visuais graves.

 

 

Combate à Miopia em 2024

A miopia é uma das condições oculares que mais tem crescido em prevalência, especialmente entre os jovens. Em 2024, a utilização da IA no diagnóstico e gestão da miopia representa um avanço significativo. Sistemas baseados em IA são capazes de analisar padrões em imagens retinianas para identificar sinais precoces de miopia, permitindo intervenções mais cedo. Esta deteção precoce é fundamental para controlar a progressão da miopia, especialmente em crianças e adolescentes, onde a progressão rápida pode levar a complicações mais graves no futuro.

As inovações em lentes de controle de miopia representam um marco importante no combate a esta condição. Estas lentes de contacto ou oftálmicas são projetadas para modificar a forma como a luz é focada na retina, o que permite ajudar a retardar a progressão da miopia no olho em crescimento. Podendo ainda ser personalizadas com base nas necessidades específicas de cada paciente, graças à tecnologia avançada de medição e mapeamento ocular. Este avanço não só melhora a qualidade de vida dos pacientes jovens, mas também reduz o risco de complicações associadas à alta miopia, como o descolamento de retina e a degeneração macular.

 

 

Desafios e Perspetivas Futuras

A integração da inteligência artificial (IA) com práticas sustentáveis na oftalmologia apresenta desafios únicos. Um dos principais desafios é assegurar que o desenvolvimento e implementação de soluções baseadas em IA sejam realizados de forma ambientalmente responsável. Isso inclui considerar o consumo de energia e os materiais utilizados na produção de dispositivos de IA, bem como o impacto ambiental do descartar desses equipamentos. Outro aspeto importante é garantir que a IA seja empregue de maneira a promover a eficiência, reduzindo o desperdício de recursos e minimizando a necessidade de procedimentos repetitivos. A conscientização sobre estas questões e o desenvolvimento de normas para a utilização sustentável da IA são essenciais para harmonizar estas duas vertentes.

No futuro, espera-se que a combinação da IA com práticas sustentáveis transforme profundamente a oftalmologia. A IA pode contribuir para uma prática mais eficiente e menos invasiva, com menor impacto ambiental. Espera-se que a personalização dos cuidados através da IA resulte em menos visitas ao consultório e procedimentos desnecessários, reduzindo assim a pegada de carbono.

Além disso, a promoção da sustentabilidade na oftalmologia, através da utilização de tecnologias de IA, pode ajudar na gestão de recursos e na implementação de práticas mais verdes no ambiente clínico. Este alinhamento entre a IA e a sustentabilidade promete não só melhorar a qualidade dos cuidados oftalmológicos, mas também contribuir para um sistema de saúde mais consciente e adaptado às necessidades de um mundo em mudança.

 

 

Conclusão

Os avanços na Oftalmologia, especialmente no que concerne à IA e à sustentabilidade, têm o potencial de melhorar substancialmente a qualidade dos cuidados praticados, ao mesmo tempo que minimizam o impacto ambiental. Estes desenvolvimentos representam um caminho promissor para uma oftalmologia mais consciente e adaptada às necessidades emergentes de um mundo em rápida transformação.

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