“Uma farmácia para todos”
Ana Fernandes, Diretora Técnica da Farmácia Oliveira, revela a adaptação às necessidades da comunidade, a importância da formação contínua para a qualidade dos serviços prestados e os desafios que o setor enfrenta, nomeadamente, a redução das margens de lucro e o acesso a medicamentos.
A Farmácia Oliveira, localizada no meio das planícies alentejanas, fica situada numa das principais avenidas de Beja. Como e quando surgiu a Farmácia?
A Farmácia Oliveira foi adquirida pelos meus pais em 1977. O meu pai lecionava na Faculdade de Farmácia, em Lisboa, e a minha mãe estava a terminar o estágio final do curso de Ciências Farmacêuticas. Souberam que uma farmácia estava à venda em Beja, cidade onde a minha mãe nasceu e foi criada e, visto já estar grávida de mim, decidiram abraçar este novo projeto numa cidade mais tranquila.
Nessa altura, a farmácia encontrava-se na zona histórica de Beja, num prédio centenário que, com o passar dos anos, tornou as condições de trabalho e salubridade precárias. Assim, a minha mãe tomou a decisão de mudar a localização da farmácia, pediu a transferência ao INFARMED e aqui estamos nós, nesta avenida, que tem vindo a desenvolver-se nos últimos anos.
De que forma a Farmácia Oliveira concilia a oferta de produtos e serviços tradicionais com áreas mais especializadas, como a nutrição e a estética?
Nós, tal como muitas outras farmácias do país, talvez devido ao “esmagamento” das margens de lucro – a margem das farmácias portuguesas continua a ser a mais baixa da Europa, a par da Roménia – e à enorme concorrência online e das grandes superfícies, fomos levados a expandirmo-nos, e bem, segundo a minha opinião, para outras áreas, que não só nos ajudam a subsistir, como facilitam o acesso dos utentes a uma panóplia de serviços, os quais promovem a sua saúde e bem-estar.
No nosso caso específico, foi uma situação gradual. O facto de termos umas instalações amplas e com diversos gabinetes, também ajudou à sua implantação. Hoje, temos os serviços de estética, nutrição, podologia, massagem, osteopatia, temos acordos com a Bébé3D e a Medicapilar, e continuamos na demanda de encontrarmos outros serviços que possam ir de encontro às necessidades dos nossos utentes.
A formação contínua das equipas de profissionais qualificados é cada vez mais um investimento da generalidade das empresas. Neste contexto, como garante a Farmácia Oliveira a qualidade dos serviços prestados?
A formação continua é obrigatória, quer para a componente farmacêutica – para mantermos a nossa cédula profissional –, quer para a componente técnica, pois as entidades patronais têm de fornecer um mínimo de 40 horas anuais de formação aos seus funcionários. Em ambos os casos, existem muitas ofertas de cursos para reciclar o nosso conhecimento e estarmos a par de novos desenvolvimentos. Eu, pessoalmente, gosto muito das formações da Escola de Pós-Graduação em Saúde e Gestão da ANF – Associação Nacional das Farmácias. Considero que se encontram sempre atualizadas e ajustadas ao momento (talvez, por vezes, um pouco extensas). No decurso do ano corrente já frequentei e terminei mais de 10 formações, tal como a minha equipa farmacêutica.
A componente técnica da equipa nem sempre consegue usufruir das formações da Escola de Pós-Graduação em Saúde e Gestão, pois muitas são exclusivas para farmacêuticos, mas hoje em dia já existem muitas empresas com oferta formativa no âmbito de saúde e bem-estar. Tenho um arquivo onde guardo todos os certificados de aproveitamento das formações e assim sei que todos vamos disfrutando de novos conhecimentos, mantendo a qualidade dos nossos serviços.
O que considera serem as maiores oportunidades e desafios que a Farmácia Oliveira enfrenta atualmente na área da saúde e do bem-estar?
Encontramo-nos num cenário de conflitos internacionais que altera toda a dinâmica comercial dos países. Existem faltas de matérias-primas ou subidas exageradas das mesmas, laboratórios farmacêuticos que se deslocaram para outros países, ocorrendo falhas nas cadeias de entrega de medicamentos. A lista de medicamentos rateados aumenta de mês para mês, tal como os medicamentos esgotados ou indisponíveis. Eu penso que o maior desafio para as farmácias, neste momento, é conseguir encontrar, e o termo é mesmo este, o fornecedor que, na altura certa, poderá ter uma maior quantidade do medicamento de que os utentes necessitam. Claro que, hoje em dia, tudo tem um estigma comercial, pelo que, para além de existir um rateio grande de medicamentos, consoante o valor de compras que fazemos ao fornecedor, maior ou menor será a quantidade de medicamentos a que, como farmácia, temos acesso. É uma gestão de stock muito exigente.
Oportunidades… está-se a iniciar uma sensibilização para a importância estratégica da gestão das situações clínicas ligeiras na Farmácia Comunitária, aliviando a sobrecarga do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e facilitando o acesso dos utentes aos cuidados primários. Responder a doenças sem gravidade, vacinar, renovar a medicação do utente, são situações perfeitamente plausíveis para ocorrerem em Farmácia Comunitária. Temos capacidade técnico-científica para tal, temos um amplo acesso aos utentes e, em estreita comunicação com os médicos, poderemos melhorar os resultados em saúde para a pessoa que vive com doença e a prevenção da doença para a população em geral. Penso que este será o caminho evolutivo para as farmácias, que será um benefício para todos.
Como analisa o panorama atual do setor farmacêutico?
Tal como dito anteriormente, as farmácias estão a passar por uma altura em que as margens dos medicamentos são muito reduzidas. Assim, o farmacêutico tem de ser, também, um gestor do seu próprio negócio. Temos de nos fidelizar a Grupos de Compras para obter melhores condições de compras de medicamentos e assim subsistir no mercado. Os Grupos, por outro lado, regem-se com obrigatoriedades de quotas de venda dos laboratórios, seus parceiros. Ou seja, tenho que alinhar as minhas compras para cumprir os objetivos dos Grupos, e libertar assim margem para enfrentar os encargos mensais da farmácia, em vez de ser unicamente uma profissional de saúde, eticamente isenta de qualquer imposição.
No âmbito do Dia do Farmacêutico, que mensagem gostaria de transmitir à comunidade sobre a importância do papel do farmacêutico e das farmácias na sociedade?
Eu penso que não é necessário transmitir a importância do farmacêutico ou das farmácias à sociedade. Todos os dias somos reconhecidos pela mesma em relação às dúvidas expostas, pelos conselhos pedidos ou pelo simples olhar agradecido de resolução de um problema. Somos farmacêuticos, somos profissionais de saúde e por vezes apenas um ombro amigo. Trabalhamos todos os dias com o objetivo da promoção da Saúde e prevenção da Doença. Damos o nosso melhor.