Um refúgio de paz em Miranda do Douro

Numa entrevista exclusiva com Helena Barril, Presidente da Câmara Municipal de Miranda do Douro, mergulhámos no projeto do Mosteiro Trapista de Santa Maria da Igreja, uma iniciativa ambiciosa e singular que procura revitalizar o património cultural e religioso da região.

 

Helena Barril, Presidente

 

Espiritualidade e desenvolvimento do Mosteiro

Para avaliar o impacto da construção do Mosteiro em Palaçoulo, é essencial considerar o respeito pela vida monástica, uma vez que a rotina no Mosteiro será totalmente independente da dinâmica externa. O fluxo de pessoas gerado ao longo dos anos de construção do Mosteiro indica uma expectativa de aumento na procura pelo local. Desde o início, foram asseguradas condições de alojamento para as Monjas num edifício anexo, permitindo a sua permanência no território e o acompanhamento da obra principal. Isso resultou numa dinâmica crescente na hospedaria, na loja de produtos e na Capela, acompanhada por um aumento na procura. O complexo, como um todo, é um local de grande apelo religioso, transmitindo paz e tranquilidade, características que atraem os visitantes e enriquecem a oferta religiosa da região.

Investimento e retorno

A Câmara Municipal apoiou a construção do Mosteiro ao emitir os licenciamentos e ao criar infraestruturas para o fornecimento de água e um acesso viário de dois sentidos. Para isso, negociou com vários proprietários ao longo do percurso, conseguindo a cedência de parte dos terrenos para a largura necessária da via. Assim sendo, este investimento por parte da Câmara, não teve intenção de retorno financeiro. Fez-se uma primeira intervenção no alcatroamento da via, mesmo a tempo da inauguração do Mosteiro. Também o significativo investimento da Ordem Trapista de Santa Maria da Igreja trouxe grande impacto ao território, com a expectativa de que a vida no Mosteiro promova o espírito religioso, a comunhão de valores e princípios e inspire novas experiências.

Impacto e turismo religioso

O turismo religioso em Miranda do Douro, Trás-os-Montes e em Portugal é uma vertente significativa, mas ainda pouco explorada. A Catedral de Miranda atrai muitos visitantes, evidenciando a importância do património religioso local. Para valorizar essa riqueza, é fundamental desenvolver rotas religiosas e programas que promovam os locais de culto. Durante o último mandato, a Câmara Municipal organizou concertos em capelas e igrejas, unindo cultura e património religioso. O Mosteiro Trapista de Santa Maria da Igreja, que possui grande potencial para esses eventos, deve sempre respeitar a vontade das Monjas.

Embora o Mosteiro exija respeito pela vida das Monjas, a hospedaria está disponível para quem a desejar, e os produtos produzidos são vendidos na loja do Mosteiro, podendo também ser encontrados em várias lojas de Miranda e em Feiras e Certames Gastronómicos locais à medida que a produção aumenta. Apesar do modo de vida das Monjas merecer respeito, surge uma dinâmica interessante que poderá gerar uma economia de valor com o tempo.

A construção do Mosteiro em Palaçoulo foi uma iniciativa da Ordem Trapista de Santa Maria da Igreja, com a participação importante do atual Arcebispo de Braga, D. José Cordeiro, que na altura era Bispo da Diocese de Bragança-Miranda. Desde o início, a proposta foi bem recebida pela população de Palaçoulo e pelos habitantes do concelho, tendo sido rapidamente reunidos e trocados terrenos, realizadas as respetivas escrituras e iniciado o processo de licenciamento.

Inspiração para as novas gerações

Num contexto conturbado, marcado por guerras e catástrofes naturais cada vez mais severas, o surgimento do Mosteiro Trapista de Santa Maria da Igreja, em Palaçoulo, parece antagónico, mas traz-nos esperança de que existem lugares de paz. Estes locais servem de inspiração não só para os mais velhos, mas também para os jovens, oferecendo uma forte vertente religiosa que pode dar sentido à vida.

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