“Um olhar humanizado à advocacia tradicional”
Anna Luiza Pereira é uma advogada experiente e conceituada, com uma trajetória destacada, que atua em casos de grande relevância e complexidade. A sua dedicação, conhecimento profundo da legislação e habilidades estratégicas fazem dela uma profissional altamente requisitada por clientes que procuram soluções jurídicas eficazes e inovadoras.
A liderança feminina na advocacia é, muitas vezes, descrita como assertiva e persuasiva. Como é que ao longo da sua carreira de mais de 25 anos, incorporou essas qualidades na sua prática jurídica e que impacto acredita que isso teve nas pessoas e instituições com as quais trabalhou?
Ao longo dos meus mais de 25 anos de carreira, procurei aliar o conhecimento técnico-jurídico da prática da advocacia a uma abordagem focada na empatia e na comunicação eficaz. A figura do advogado hoje já sofreu mudanças, mas quando ingressei no mercado de trabalho, a visão de um profissional com excelência traduzia-se no modelo baseado na formalidade e na distância entre o cliente e o seu advogado, que era tido como o detentor do conhecimento. O início da minha carreira foi na área do Direito Empresarial, onde os profissionais advogados são tidos como grandes juristas e conselheiros sérios. Aos 22 anos de idade, estar naquele meio foi bastante desafiador. Um meio profissional onde ainda hoje é maioritariamente masculino, saber posicionar-me foi decisivo. Alguns anos depois, fiz uma transição de área e abracei o Direito de Família. Naquela altura, enfrentava um processo de divórcio e sentia que os advogados especializados naquela área mantinham a postura combativa e com pouca conexão emocional com os seus clientes. Através da minha vivência pessoal, escolhi levar ao Direito de Família uma advocacia mais mediadora e sensível. A assertividade permitiu-me defender os interesses dos meus clientes com firmeza, enquanto a persuasão foi fundamental para negociar acordos e mediar conflitos, sem abandonar o olhar emocional que esses tipos de conflitos requerem. Iniciei um escritório boutique no Rio de Janeiro e acompanhei pessoalmente as trajetórias dos meus clientes. Essas qualidades foram especialmente importantes em casos de direito de família, onde as emoções estão à flor da pele. Acredito que o meu estilo de liderança com afetividade contribuiu para a execução de um trabalho mais colaborativo e respeitoso, influenciando positivamente advogados das partes contrárias e os meus clientes. Acredito que levar esse olhar mais amistoso ao profissional do Direito ajudou a promover a equidade de género no meio jurídico, inspirando outras mulheres a perseguirem as suas ambições na advocacia familiarista. Atualmente, continuo a trabalhar com mudanças de vidas, que requerem sensibilidade e profissionalismo. Atuo não só com Direito de Família, mas com imigrantes em Portugal. São áreas distintas, mas igualmente carentes de profissionais que entendam das dores dos seus clientes. Foi isso que sempre quis: trazer um olhar humanizado à advocacia tradicional.
Considerando a sua vasta experiência e suas diferentes atuações, incluindo a sua participação na Comissão de Direito de Família da OAB/RJ e Comissão de Direito Internacional Privado do IBDFAM, quais foram os maiores desafios que enfrentou como mulher e como é que conseguiu superá-los mantendo o seu foco e determinação?
Um dos maiores desafios que enfrentei foi a necessidade de provar constantemente a minha competência em um ambiente predominantemente masculino. Há 25 anos, uma jovem advogada precisava de muitos diferenciais para estar entre os melhores. Foram algumas experiências más que me levaram a entender que apenas o discurso de diferença de género não é suficiente. Não dá para erguer uma bandeira vitimista e esperar que o outro a aceite. Para superar isso, sempre me mantive atualizada e procurei continuamente o aprimoramento profissional, o que me permitiu demonstrar conhecimento e habilidade superiores. Não deixar o medo impedir o seu crescimento e expansão da sua atuação, trazer as suas experiências como mulher e mãe também foram fundamentais. O mundo jurídico precisa de um olhar sensível sim, e foi com isso que pude destacar-me. Além disso, estar numa rede de apoio com outras mulheres na advocacia foi essencial para enfrentar preconceitos e discriminações. Hoje, vejo eventos de alta magnitude liderados por mulheres jovens, advogadas e empreendedoras. Procuro estar entre elas, especialmente com profissionais mais jovens que eu. Aproveito para levar a minha experiência e ganhar conhecimento disruptivo e inovador com as profissionais mais jovens. Manter o foco e a determinação foi possível através de uma gestão equilibrada entre a vida profissional e pessoal, e a firme crença de que a minha atuação abriria portas para outras mulheres no Direito.
É a idealizadora de um perfil influente no Instagram que fornece informações sobre a vida de imigrantes em Portugal e temas do Direito. Como é que vê o papel da inovação e da criatividade na comunicação jurídica e de que maneira acredita que a sua presença online contribui para a transformação do acesso à informação jurídica?
Vejo a inovação e a criatividade na comunicação jurídica como ferramentas essenciais para democratizar o acesso à informação e tornar o direito mais acessível a todos. Através do meu perfil no Instagram e canal do Youtube, @annaluizappereira, utilizo uma linguagem clara e direta para explicar temas complexos, tornando-os compreensíveis para o público em geral. Essa abordagem inovadora não só educa, mas também qualifica os imigrantes, proporcionando-lhes os conhecimentos necessários para tomar decisões informadas sobre as suas vidas em Portugal. A presença online também cria um canal direto de comunicação com as pessoas, permitindo que eu entenda melhor as suas necessidades e desafios, e assim, oferecer conteúdo relevante e de impacto. Recentemente, criei com uma amiga um novo canal no Youtube e Spotify, @papocomfado, podcast onde apresentamos histórias transformadoras de imigrantes em Portugal. Tem sido um sucesso! Aproximar a minha narrativa profissional numa linguagem acessível e com histórias reais faz tocar o imigrante ou aquelas famílias que tem o sonho de sairem de seus países. Sou muito grata às redes sociais pela difusão do meu trabalho como advogada em outro país. Vivi da advocacia por mais de 20 anos no Brasil e a escolha de mudar para Portugal com a minha família em 2020, em plena pandemia, era um desafio gigante. Graças ao livre acesso às informações das redes sociais pude colocar-me na advocacia internacional privada em Portugal e, hoje, trabalhar em mais de 28 países prestando serviços.
As empresas procuram cada vez mais líderes que possuam a habilidade de multitasking. Tendo em conta as suas especializações em diversas áreas do Direito e a atuação em diferentes jurisdições (Brasil e Portugal). Como é que gere as múltiplas responsabilidades ao mesmo tempo e que conselhos daria para outras mulheres que aspiram a cargos de liderança na advocacia?
Gerir múltiplas responsabilidades exige organização, disciplina e uma excelente gestão de tempo. Uso ferramentas de planeamento para priorizar tarefas e garantir que todas as áreas de atuação recebam a devida atenção. Além disso, delegar responsabilidades e confiar na minha equipa são práticas essenciais para manter a eficiência. O conselho que daria para outras mulheres é: acreditem na sua capacidade de liderar e procurem continuamente o desenvolvimento pessoal e profissional. Não tenham medo de pedir ajuda e construir uma rede de apoio. Enfrentar desafios com resiliência e manterem-se focadas nos objetivos são chaves para alcançar sucesso em cargos de liderança na advocacia.