Orientação no setor farmacêutico

Gabriela Alves, Diretora de Marketing da Bene Farmacêutica, destaca a importância de uma visão estratégica para antecipar mudanças e manter a competitividade num setor desafiante. Enquanto líder, aborda a inclusão, conciliando vida pessoal e profissional, e aconselha jovens mulheres a aliarem criatividade e pensamento crítico para uma carreira de sucesso.

 

 

Gabriela Alves, Diretora de Marketing

 

Na sua trajetória como Diretora de Marketing da Bene Farmacêutica, que importância atribui à visão estratégica num mercado tão competitivo como o farmacêutico?

A visão estratégica é fundamental em qualquer cargo de gestão, independentemente da competitividade do mercado. Entendo a visão estratégica como a capacidade de compreender , numa “perspetiva de helicóptero”, os processos que nos rodeiam, antecipar as mudanças que se avizinham e reconhecer o seu impacto na vida das empresas. Quem ocupa cargos de liderança deve não só ter esta visão estratégica, como a capacidade de fazer as adaptações necessárias  para enfrentar estas mudanças, de forma a manter a competitividade das empresas. No caso da Direção de Marketing da Bene Farmacêutica esta visão estratégica assume uma responsabilidade ainda maior pois temos uma marca de grande valor, que faz parte do dia a dia dos portugueses, e que nos obriga a uma atenção constante. Mas essa exigência é também um desafio, e talvez o mais interessante na posição que ocupo como Diretora de Marketing.

Sendo uma líder, num setor historicamente dominado por figuras masculinas, quais foram os maiores desafios que encontrou? Que estratégias utiliza para promover uma liderança inclusiva e apoiar o crescimento profissional de outras mulheres dentro da organização?

Ao longo da minha carreira nunca enfrentei nenhuma questão relevante com o facto de ser mulher, mas concordo que alcançar um lugar de liderança na Indústria Farmacêutica é mais difícil para uma mulher do que para um homem. Infelizmente, em Portugal, ainda assistimos a uma desigualdade acentuada entre homens e mulheres na gestão e responsabilidade da vida familiar, com uma sobrecarga maior para as mulheres. Apesar das assimetrias, temos excelentes exemplos de mulheres em posições de liderança, e não só, também em posições de gestão intermédia, comerciais e de suporte, de imensa qualidade e cada vez mais relevantes neste setor. Quanto às estratégia de inclusão, a Bene Farmacêutica não tem uma política definida neste domínio, mas posso dizer que, atualmente, somos mais mulheres do que homens em cargos de liderança na nossa empresa. No que diz respeito à equipa de marketing, a minha preocupação é dar a todas as pessoas com quem trabalho as condições necessárias para poderem desenvolver o seu trabalho de forma tranquila, embora exigente, para que os resultados aconteçam. Procuro sempre respeitar os compromissos e as condicionantes familiares e pessoais de todos, adequando objetivos e fluxos de trabalho, sempre que possível. Mas esta flexibilidade não é só para as colaboradoras mulheres, é também para os homens que connosco trabalham, para que as suas próprias mulheres tenham maior disponibilidade. É uma forma indireta, mas que considero fundamental para criar uma cultura de igualdade nas nossas empresas.

A gestão de um cargo de direção envolve longas horas e grandes responsabilidades. De que forma consegue conciliar a sua vida pessoal e profissional?

Nem sempre foi fácil, até porque tenho três filhos com idades muito próximas, e sempre tive um papel ativo na educação e na vida deles. A conciliação da vida profissional e pessoal é um processo de construção permanente, às vezes corre melhor, outras pior, mas os meus filhos foram sempre fundamentais e uma grande ajuda no sucesso deste processo de construção. Sempre tive, e tenho, um enorme prazer em passar tempo com eles, vê-los crescer, ganhar autonomia e aprendo imenso com eles!

 

 

 

 

 

Que conselhos daria a outras mulheres que pretendem alcançar posições de liderança no setor farmacêutico?

Os conselhos nunca são fáceis e não há uma fórmula igual para todas as pessoas mas, sem paternalismos, arrisco alguns conselhos: dêem sempre o vosso melhor naquilo que fazem, trabalhem em equipa, peçam ajuda se precisarem, aprendam com os melhores, usem a qualidade do vosso trabalho e do vosso desempenho para construir uma carreira e não tenham medo de “dar nas vistas” com as vossas conquistas profissionais, respeitem os outros, mas façam-se sempre respeitar.

A Bene apoia diversos projetos sociais, como o Programa abem e as Aldeias de Crianças SOS. Qual é a sua visão sobre o impacto destes projetos? Em que medida considera que o envolvimento em iniciativas sociais reforça a relação da Bene com os seus clientes e parceiros e fortalece a sua posição no mercado?

O projeto abem e as Aldeias SOS são projetos muito queridos para a Bene Farmacêutica. Estes projetos sociais são naturalmente importantes para a imagem da Bene Farmacêutica, mas aquilo que nos move não é a nossa imagem mas sim contribuir para a melhoria da vida dos beneficiários destes projetos. Pessoalmente, tenho algum cuidado com a divulgação destas ações, não porque não as considere importantes, mas porque encaro estes projetos numa perspetiva de solidariedade (partilha das preocupações e procura de soluções entre as instituições para colmatar as necessidades) e não numa perspetiva de caridade.

Que características são essenciais para uma liderança eficaz no setor farmacêutico? Que mensagem deixaria para as jovens que desejam construir uma carreira de sucesso neste setor?

A sociedade está num momento amplamente reconhecido como “revolucionário”; seja pelas novas tecnologias que nos permitem aceder à informação, de uma forma imediata, e transformá-la em conhecimento, seja pelas questões de sustentabilidade climática, pelas desigualdades sociais ou mesmo pela instabilidade política. Este contexto gera muita incerteza que contagia, invariavelmente, o mundo do trabalho. Para quem está a começar na IF é importante perceber que a “clássica carreira” na Indústria Farmacêutica vai ser naturalmente diferente, e não parece possível definir para já o que podem vir a ser os próximos 20 anos. Mas, pelas tendências atuais, percebemos que o trabalho é cada vez mais um espaço colaborativo e global, em que a inovação, e a capacidade de adaptação às mudanças são cruciais. Assim, as minhas principais mensagens são para que apostem na criatividade, pensamento crítico, trabalho em equipa, e na flexibilidade como ferramentas de desenvolvimento profissional e pessoal. E para quem quer trabalhar em cargos de liderança importa desenvolver o pensamento estratégico – sem isso não há liderança.

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