PUB

Entre ciência e coração: a liderança de Sandrina Lourenço

Data:

Partilhar

Com apenas 27 anos, Sandrina Lourenço acreditou que a fisioterapia podia ser mais do que reabilitação — podia ser transformação. Fundadora e Diretora Técnica da FisioRestelo, construiu um projeto que une ciência e empatia, tecnologia e escuta, razão e coração. Hoje, lidera uma equipa que inspira pela dedicação e pelo compromisso de cuidar com propósito, levando a fisioterapia portuguesa a novos horizontes sem nunca perder a essência humana que a distingue.

Ao longo da sua trajetória na FisioRestelo, quais foram os principais desafios que enfrentou ao consolidar a clínica como referência e como esses desafios moldaram a sua visão?

O maior desafio foi equilibrar qualidade clínica, gestão de pessoas e inovação sem perder a essência humana. Liderar ensinou-me sobre gestão, mas sobretudo sobre mim própria. Quando fundei a FisioRestelo, em 2013, tinha 27 anos e senti a necessidade de conquistar credibilidade num setor ainda tradicional. Aprendi a comunicar com assertividade e visão estratégica, mesmo em fases de crescimento pessoal.

Nos primeiros anos fazia de tudo: atendia, geria e pensava a estratégia, num ritmo intenso que exigiu sacrifícios. O ponto de viragem surgiu com a entrada da minha irmã, enfermeira e osteopata, cuja experiência consolidou a estrutura clínica e trouxe maturidade ao projeto. Juntas desenvolvemos um protocolo próprio inicialmente em ortopedia pediátrica, com foco na escoliose idiopática, que viria a distinguir-nos a nível nacional.

Com o tempo, começámos a receber pacientes de todo o país e do estrangeiro, o que validou o nosso trabalho e levou-nos a criar um modelo diferenciador de acompanhamento, com resultados acima da média. As experiências internacionais mostraram-me o valor do que já fazemos bem cá: a sensibilidade e o raciocínio clínico português são patrimónios que devemos preservar. Consolidar a FisioRestelo exigiu tempo, visão e uma equipa alinhada. Crescemos não por acompanhar o setor, mas por querer redefinir a fisioterapia músculo-esquelética pediátrica em Portugal, com base na ciência, na empatia e na vontade de deixar um legado duradouro.

 

 

Sandrina Lourenço, Fundadora e Diretora Técnica

 

 

De que forma a FisioRestelo tem integrado inovação nos serviços oferecidos, equilibrando tradição e exigências do mercado?

Unimos ciência e experiência clínica, valorizando a escuta ativa e a evidência científica. Apostámos em tecnologia e Inteligência Artificial para otimizar dados clínicos e personalizar intervenções, além de desenvolvermos metodologias próprias na área pediátrica.

Reunimos a equipa regularmente para discutir avanços científicos e adaptá-los à nossa realidade. Atualizamos anualmente metodologias e equipamentos, garantindo crescimento coerente com os valores da clínica. A inovação está em várias frentes: programas que unem movimento, neurociência e comportamento; avaliações baseadas em evidência; e ferramentas tecnológicas para diagnóstico e monitorização. Tudo sem perder o foco na relação terapêutica e na empatia.
Mantemos contacto com profissionais internacionais, partilhamos casos e evoluímos em conjunto. O nosso objetivo nunca foi competir, mas crescer com autenticidade e sentido humano.

De que forma a FisioRestelo adapta os tratamentos às especificidades individuais, mantendo excelência?

Cada pessoa traz uma história única. O nosso trabalho começa por compreendê-la. As decisões são tomadas em equipa, com base em análise clínica e sensibilidade. Usamos protocolos personalizados, mas o essencial é escutar, observar e adaptar. A comunicação é central: acompanhamos de perto, ajustamos em tempo real e envolvemos cuidadores e pacientes no processo. A excelência nasce da combinação entre técnica, reflexão e empatia. Valorizamos a educação em saúde e a autonomia, criando estratégias práticas e rotinas simples para que cada pessoa compreenda o seu corpo e tenha uma excelente qualidade de vida. A relação que construímos é de longo prazo: mantemos contacto, celebramos conquistas e promovemos continuidade. Mais do que reabilitar, queremos capacitar.

Enquanto líder, como define o seu estilo de gestão e de que forma acredita que este contribui para motivar e reter profissionais qualificados?

Cresci a observar modelos de liderança baseados na autoridade, mas aprendi que prefiro inspirar pelo exemplo. Para mim, liderar é criar contextos onde as pessoas crescem por vontade, não por imposição. Baseio a gestão na confiança, proximidade e exigência com sentido. Acredito na combinação entre rigor científico e sensibilidade humana. Encorajo autonomia, mas com suporte e direção clara.

A cultura da FisioRestelo reflete essa visão: é um espaço de partilha e pertença, onde o conhecimento e a humanidade coexistem.

O que me move é criar um ambiente onde as pessoas escolhem ficar porque se sentem reconhecidas e realizadas. Liderar é servir, cuidar e deixar um rasto de crescimento nas pessoas e no propósito que nos fez começar.

Que valores considera fundamentais para uma mulher liderar com sucesso no setor da saúde e que conselhos daria a outras empresárias?

A integridade é a base de tudo. É ela que orienta decisões e sustenta a confiança. A consistência transforma intenções em resultados e a coragem permite agir apesar do medo. Liderar é escolher o que é certo em vez do que é fácil.

Também é essencial empatia e humildade para ouvir e ajustar o rumo. Acredito que a liderança não é um cargo, mas o reflexo do que se pratica todos os dias. Diria às mulheres que não esperem estar prontas para começar. A confiança constrói-se no caminho, nos erros e nas pequenas conquistas. Haverá dúvidas e cansaço, mas também momentos de alinhamento e sentido. O sucesso não vem da sorte, mas da consistência e da confiança no que ainda não existe. Quando uma mulher avança, abre caminho para muitas outras.

Olhando para o futuro, quais os seus objetivos pessoais e profissionais e como se complementam na realização do seu projeto à frente da FisioRestelo?

Vejo a FisioRestelo como um organismo vivo, em constante evolução. Estamos a investir em investigação e na criação de uma área de formação que eleve a fisioterapia portuguesa, sobretudo na intervenção músculo-esquelética pediátrica.

Hoje valorizo mais o equilíbrio. Durante anos priorizei o trabalho e aprendi que o sucesso sem serenidade cobra um preço alto. Aprendi a desacelerar, a reconhecer o caminho e a encontrar leveza na exigência.

O meu objetivo é continuar a construir pontes entre ciência, prática e humanidade, mantendo a clínica como referência, mas também como espaço de conhecimento e cuidado.

A nível pessoal, procuro cuidar da mente, aprender continuamente e rodear-me de pessoas inspiradoras. O meu legado não é apenas clínico, é humano. Escolhi este caminho e voltaria a escolhê-lo.

Newsletter

Últimas Edições

Artigos Relacionados