Dar alma aos projetos

Sheila Moura Azevedo, Fundadora do Shi Studio, destaca a importância da multiculturalidade e das suas experiências internacionais, utilizando diversas influências no design de interiores e arquitetura para atender a clientes de várias origens.

 

Sheila Moura Azevedo, Fundadora e Designer de interiores

 

Como a multiculturalidade e experiências internacionais moldaram a sua abordagem ao design de interiores e à arquitetura? Como integra estas influências nos projetos do Shi Studio?

A multiculturalidade e as viagens ajudaram-me a compreender melhor o Outro, a aceitar a diferença, a entender que somos todos diversos na forma de olhar e apreender o que nos rodeia. Por outro lado, percebemos ao viajar que somos todos humanos e em geral as ânsias e preocupações básicas são sempre iguais. A perspetiva em que vemos as coisas e em que nos posicionamos perante o Mundo é que muda. E o facto de ter nascido no Brasil, filha e neta de portugueses que já eram pessoas do Mundo, trouxe-me uma capacidade e flexibilidade que de outra forma dificilmente teria. Essa forma em que fui moldada desde que nasci, permite-me conseguir lidar com clientes de todas as origens e perceber que, quando faço o design de um hotel, por exemplo, as escolhas têm de “servir” a públicos diversos. A possibilidade que vou tendo de visitar outras culturas contribui todos os dias para o meu trabalho e para este posicionamento maleável, que não rejeita, mas antes abraça e consente, mostra mas não limita, aponta mas não dirige. No meu trabalho de interpretação do cliente esta perspetiva tem sido essencial e perpassa todo o meu trabalho.

Quais são os principais desafios que enfrenta ao trabalhar em projetos de reabilitação e como os aborda para garantir a preservação da traça das edificações enquanto adapta os espaços às necessidades modernas?

De facto sou apaixonada pela reabilitação. O desafio é enorme porque as condicionantes são várias e pré-existentes, como imposições legais, orçamentais e também morais, por esse respeito pela traça de que fala. O que faço é estudar muito bem a lição, pesquisar profundamente sobre o imóvel e o seu enquadramento histórico, geográfico e cultural. O respeito pela origem é total, e tentamos ao máximo manter o existente. As necessidades da vida atual nem sempre se compadecem de características de outros tempos, até porque é melhor atualizar um edifício e mantê-lo vivo e útil, do que respeitar tanto as características originais que o tornamos desinteressante ao investidor. Este jogo de equilíbrio, esta equação matemática, é uma das coisas que me dá gosto fazer, e no fim tornar o feio em bonito, o velho em novo, o inútil em útil, sempre com um orçamento exequível e lógico.

 

 

 

Como gere a coordenação e a colaboração entre os diversos especialistas para assegurar que os projetos sejam executados com excelência?

A nossa equipa multidisciplinar é algo que veio sendo construído e depurado ao longo dos anos. Neste momento somos realmente 17 pessoas internas, mas a multidisciplinaridade estende-se também a colaborações externas, algumas já com muitos anos e muita amizade pelo meio. Cada projeto tem um projetista coordenador e de uma forma mais macro sou eu que coordeno os trabalhos em geral com cada um deles. São 20 anos no mercado com muita experiência de coordenação de projetos.

Como é que o Shi Studio “dá alma” aos projetos de hotelaria e áreas comerciais, integrando a identidade e o marketing do negócio no design? Pode descrever um caso em que esta abordagem tenha transformado a experiência do cliente?

Alguém disse que “A alma é o segredo do negócio”. Fazer um projeto para um negócio é muito cativante. Não estamos a falar de uma pessoa ou família, mas sim de todo um universo de clientes que o nosso cliente quer atingir. E há um plano de negócios e um investimento que tem de ser reavido em determinado tempo. Já tivemos clientes que nos chegaram com uma ideia de negócio mas sem a tal “alma”. E nós mandamo-los para casa pensar. Sem alma é difícil ter um negócio que sobreviva. É o cliente que tem de trazer essa alma, essa paixão por um produto ou serviço, tem de haver aquela chama que será o motor do projeto e do negócio. Aí nós conseguimos trabalhar, desenvolver as ideias, traduzir essa alma para o espaço através das texturas, das cores, do equipamento, do funcionamento do organismo vivo que vai ser aquele negócio. Socorremo-nos de especialistas de marketing quando o cliente não os traz já com ele, dos designers de comunicação, aplicamos as regras do merchandising, e fazemos um projeto com pernas para andar! É um processo maravilhoso e criativo! Um exemplo são as zonas de “amenities” dos edifícios dos nossos clientes promotores imobiliários. Eles têm o nome do edifício, têm a história que querem contar, têm os serviços que vão disponibilizar, mas depois dentro do espaço arquitetónico do edifício é preciso determinar as áreas, atribuí-las a funções, criar os ambientes e os equipamentos que vão permitir ao utilizador ter a experiência que o promotor pretende dar ao seu cliente… Isto vai trazer ao utilizador um determinado estilo de vida que vai impactar diretamente no seu dia-a-dia, na agradabilidade do seu tempo, na sua felicidade. E isto é muito importante.

 

 

 

 

Como o Shi Studio integra práticas sustentáveis e soluções inovadoras nos seus projetos? Como estas práticas têm sido implementadas e o impacto que têm tido nos projetos recentes?

As questões de sustentabilidade estão sempre presentes no nosso pensamento de projeto. Favorecemos sempre as boas práticas. Os fornecedores com que trabalhamos já respeitam esta mesma filosofia por princípio, e por isso estamos tranquilos. Muitas vezes, por exemplo, o cliente quer deitar fora tudo o que tem e comprar tudo novo. E isso é psicologicamente importante para ele, pois há momentos de novos começos e momentos de viragem que exigem esta espécie de catarse. Nós vamos sempre tentando reutilizar parte do existente que faça sentido. Mas reaproveitar pode acabar por usar mais recursos do que colocar algo novo, e é esse equilíbrio que buscamos. Isto faz parte do ADN da empresa.

Quais os principais objetivos e estratégias do Shi Studio para o futuro? Existem novas áreas de exploração ou tendências que o estúdio está particularmente ansioso para integrar nos seus projetos?

A nossa estratégia passa por estarmos extremamente atentos ao mercado e às mudanças. Adaptarmo-nos e respondermos com competência e propriedade é fundamental. Repare que a forma de habitar e de hospedar está em mudança de há algum tempo para cá. A pandemia trouxe um aumento exponencial no número de nómadas digitais e de pessoas que passaram a trabalhar a partir de casa ou a partir de unidades hoteleiras. Quando juntamos a nossa casa ou alojamento com o nosso local de trabalho diário, as necessidades mudam radicalmente. Serviços disponíveis e áreas exteriores passam a ter enorme importância, momentos de descanso e lazer mudam de sítio, de frequência, de hora. E o projeto tem de dar resposta adequada. O ShiStudio está atento e adapta-se. Temos projetado zonas específicas nos edifícios para este tipo de novo habitante/trabalhador/utilizador. Estamos também a dar formação interna para estarmos todos preparados. Como é que um hotel faz frente à atração do alojamento autónomo? Como é que o alojamento local sobrevive com as novas regras? Como se vão posicionar os diversos players do mercado no futuro a curto, médio e longo prazo? O ShiStudio procurará estar cada vez mais preparado a responder a estes desafios extremamente interessantes e a poder dar resposta aos nossos clientes investidores e promotores.

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