Castanheira de Pera “uma oportunidade de vida”

Situado no coração da Serra da Lousã, no topo norte do distrito de Leiria, o concelho de Castanheira de Pera é um exemplo de resiliência e adaptação às mudanças socioeconómicas. Em entrevista, o presidente da Câmara Municipal, António Henriques, oferece uma visão detalhada e otimista sobre este município.

 

 

António Henriques, Presidente

 

 

Um passado industrial

Com uma área de cerca de 67 quilómetros quadrados, Castanheira de Pera tem uma história marcada pela forte presença da indústria têxtil e de lanifícios. “Está na origem do concelho de Castanheira de Pera, que era uma freguesia, que chegou a ser o terceiro maior centro de produção em Portugal”, comenta António Henriques. Foi essa importância industrial que levou à emancipação da freguesia do concelho de Pedrógão Grande, tornando-se um concelho independente há 110 anos.

No entanto, a crise dos têxteis nas décadas de 80 e 90 trouxe desafios significativos. “Depois dessa grande crise, efetivamente houve aqui uma perda, que até 2022 foi irrecuperável, no ponto de vista das pessoas”, afirma. O impacto foi severo, levando a um envelhecimento da população, com 17% dos residentes com mais de 65 anos.

Desafios demográficos e oportunidades emergentes

A crise demográfica é uma preocupação central para o presidente. “Somos o concelho que tem mais idosos por cada jovem e isso é de facto preocupante”, observa. Contudo, vê potencial na proximidade e na qualidade de vida oferecida por Castanheira de Pera. “Cada vez mais temos de olhar para a questão da proximidade como uma vantagem”, destacando a capacidade de resposta rápida e eficaz às necessidades da população.

Essa proximidade, aliada à qualidade de vida e ao custo acessível, está a começar a atrair novos residentes. “De dezembro de 2022 até novembro de 2023 nós temos mais 106 novos residentes no nosso concelho”, citando dados do Instituto Nacional de Estatística (INE). A pandemia da Covid-19 foi um fator determinante, levando muitas pessoas a procurar refúgio em ambientes rurais mais tranquilos e saudáveis. A imigração também desempenha um papel crucial na recuperação demográfica de Castanheira de Pera. António Henriques reconhece a importância de acolher e integrar imigrantes de forma eficaz. “Temos a obrigação de receber, acolher e essencialmente incluir”, afirma. Destacando a necessidade de entender e ajudar esses novos residentes a se integrarem, tratando das suas necessidades.

O presidente vê um futuro promissor para Castanheira de Pera, acreditando que a qualidade de vida, a segurança e a proximidade oferecidas pelo concelho serão fundamentais para inverter a curva demográfica negativa. “Acho que a tendência será as pessoas começarem a olhar para estes concelhos e territórios de baixa intensidade como oportunidade de vida”.

Com uma abordagem inclusiva e um foco na proximidade e na qualidade de vida, Castanheira de Pera está a traçar um caminho resiliente e promissor. “Nós somos capazes de dar respostas a todos os níveis, quer sociais e económicos, muito rápidas e próximas da nossa população”, mostrando otimismo e determinação em enfrentar os desafios futuros e transformar o concelho num lugar vibrante e acolhedor para todos.

 

Condomínio Empresarial dos Esconhais

 

 

 

Revitalização económica

António Henriques reconhece que para atrair pessoas é essencial criar uma base económica sólida. “As empresas quando pensam em fixar-se num local procuram chave na mão, procuram condições para começar de imediato a sua atividade, e isso tem sido uma preocupação que nós temos desde o início do mandato”, afirma. Para atender a essas procuras, a Câmara fez investimentos significativos em infraestrutura, como a reabilitação do parque industrial e a criação do Condomínio Empresarial dos Esconhais, que ocupará cerca de dez mil metros quadrados e acolherá várias empresas, incluindo aquelas voltadas para o teletrabalho e novas tecnologias.

Além disso, a recuperação de uma antiga escola primária, com um investimento total de cerca de 620 mil euros, demonstra o compromisso em criar ambientes propícios para novas empresas e iniciativas tecnológicas. O desenvolvimento da área empresarial da Retorta é outro exemplo dos esforços contínuos para atrair investimentos.

Para tornar o concelho mais atrativo para empresas, a câmara municipal adotou ainda uma série de medidas de incentivo, como a isenção da derrama e a prática de preços competitivos. “Temos de promover e divulgar, e é isso que temos vindo a fazer, é o que permite às pessoas conhecer Castanheira de Pera”.

 

 

Praia Fluvial do Poço Corga

Passadiço da Ribeira das Quelhas

 

 

 

Desafios de interiorização e coesão territorial

O presidente acredita que a interiorização e a coesão territorial são fundamentais para o desenvolvimento equilibrado do país. “Verdadeiramente sinto que nunca houve uma estratégia para um Portugal completo”, comenta. A criação do Ministério da Coesão Territorial após os incêndios de 2017 foi um passo positivo, mas ressalta a necessidade de medidas mais robustas e diferenciadas para incentivar empresas e trabalhadores a se estabelecerem em regiões de baixa densidade demográfica. Apesar dos desafios, António Henriques está confiante de que Castanheira de Pera está no caminho certo. “É necessário dar outros passos que, aí sim, já ultrapassa os municípios e é exigível ao estado que faça discriminação mais positiva, em outras áreas que os municípios não podem atuar”, afirma. Defendendo a necessidade de medidas fiscais diferenciadas para empregadores e trabalhadores, que são cruciais para o desenvolvimento sustentável do concelho.

António Henriques elogia ainda a colaboração entre os municípios da região de Leiria, destacando a solidariedade demonstrada pelos concelhos maiores ao abdicar de verbas e projetos em favor dos territórios de baixa densidade demográfica. “Isto é o verdadeiro espírito da coesão”, afirma. Mas também destaca a importância da visita do Presidente da República no 10 de junho, como um sinal significativo de reconhecimento e apoio aos territórios do interior.

Resposta aos incêndios de 2017

Os incêndios devastadores de Pedrógão Grande, em 2017, deixaram uma marca indelével na região. “Nunca podemos dizer nunca, mas efetivamente aprendemos com a tragédia”, afirma António Henriques. Desde então, foram implementados diversos projetos para minimizar os riscos futuros e promover a recuperação tanto a nível humano quanto florestal. Uma das iniciativas mais importantes é o projeto dos condomínios de aldeia, que tem como objetivo alterar a paisagem florestal para uma agrícola, criando faixas de proteção ao redor dos aglomerados urbanos. “Nos 100 metros de perímetro das casas, tem de haver uma faixa de proteção, onde espécies como o eucalipto e o pinheiro não podem estar”, explica. Até ao momento, 36 aldeias já se candidataram a participar deste projeto, que promove a resiliência e a valorização económica de terrenos abandonados.

Reconhecimento e projetos premiados

O trabalho da Câmara Municipal tem sido amplamente reconhecido, resultando na premiação de Castanheira de Pera como Autarquia do Ano. “Temos vários projetos que foram candidatados e premiados em áreas como educação, floresta e património”, celebra o presidente. Entre os projetos destacados está a iniciativa “Castanheira melhor floresta”, que foca na gestão sustentável do eucalipto, uma parte crucial da economia local.

Outro projeto inovador é a Rota do Neveiro, que resgata a tradição local de produção e transporte de gelo para a corte de Lisboa no século XVIII. “Este projeto define muito do nosso trabalho e da nossa identidade”, comenta.

 

 

Santo António da Neve

Passadiço da Ribeira das Quelhas

 

 

 

Comemoração dos 110 anos do município

As celebrações dos 110 anos de Castanheira de Pera estão recheadas de eventos e inaugurações. “Vamos ter connosco o doutor Pedro Machado, que teve um papel fundamental no turismo da região centro”, destaca o autarca. A requalificação da praia fluvial do Poço Corga, com um investimento de 500 mil euros, será uma das obras inauguradas. Além disso, o cartaz de eventos inclui um concerto dos Xutos e Pontapés, comemorando os seus 45 anos de carreira. “Estes eventos são muito importantes, ajudando a fortalecer a economia local e proporcionando oportunidades culturais aos nossos habitantes”, explica. No dia 3 de julho, o concelho também celebrará a entrada na Rota das Aldeias do Xisto.

Para António Henriques, o maior desafio do concelho é a revitalização demográfica. “O objetivo é voltarmos a ter capital humano, voltarmos a ter pessoas e crianças nas nossas escolas”, afirma. Todas as decisões são tomadas com esse objetivo em mente, focando também em melhorias na saúde, ação social, turismo, desporto e lazer. “A curto prazo, este é o nosso grande projeto”.

Descobrir Castanheira de Pera

António Henriques convida todos a explorar as belezas naturais e culturais de Castanheira de Pera. “Começar pelo alto do Cabeço do Pereiro, passando pela Rota do Neveiro e o nosso magnífico passadiço da Ribeira das Quelhas”, recomenda. Outras atrações incluem a praia fluvial do Poço Corga, o complexo Praia das Rocas, que atraiu cerca de 93 mil pessoas no ano passado, e o Jardim da Casa da Criança Rainha D. Leonor. O concelho oferece uma variada oferta hoteleira e gastronómica, com um hotel e muitos alojamentos locais de qualidade. “Na parte gastronómica, temos bons restaurantes, mas ainda falta dar um passo em termos de oferta”, admite. Destacando a hospitalidade dos habitantes locais, que está no ADN da região. “As pessoas que vêm a Castanheira de Pera sentem muito a região e os seus habitantes, somos bons anfitriões”. Com um foco no desenvolvimento sustentável e na qualidade de vida, Castanheira de Pera está determinada a reverter a sua crise demográfica e a posicionar-se como um destino atrativo para novos residentes e investidores. “Só nos conseguimos posicionar se tivermos pessoas”, conclui, reafirmando o seu compromisso com um futuro próspero para o concelho.

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