Blefarite

 

 

Profª Drª Andreia Martins Rosa, Médica oftalmologista no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, na Unidade de Oftalmologia de Coimbra, Hospital da Luz Coimbra e Martins Rosa- S. Saúde, Santa Maria da Feira. Professora Auxiliar Convidada da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra

A blefarite é uma inflamação do bordo das pálpebras, associada ou não à infeção das mesmas. É uma das doenças oculares mais comuns no mundo e está presente em praticamente todas as faixas etárias.

A blefarite ocorre quando as glândulas de Meibómius, que produzem a gordura das lágrimas, localizadas perto da raiz das pestanas, entopem, causando irritação e vermelhidão. Por vezes há uma infeção aguda da margem da pálpebra, originando um hordéolo (ou terçolho). Mais frequentemente, a blefarite é crónica e afeta os dois olhos.

Os sintomas costumam ser piores de manhã e incluem prurido, sensação de areias ou calor nos olhos, bordos palpebrais vermelhos e inchados, presença de partículas gordurosas nas pestanas, olhos colados ao acordar, sensibilidade à luz, lacrimejo e visão enevoada, que melhora com o pestanejar. O entupimento e inflamação prolongados das glândulas pode levar ao aparecimento de um chalázio – uma massa no bordo palpebral, que torna a pálpebra vermelha e inchada.

 A blefarite pode ser causada por dermatite seborreica (caspa no couro cabeludo ou sobrancelhas), rosácea, alergias, tanto a medicamentos oculares, como a soluções de limpeza de lentes de contacto ou mesmo a maquilhagem e por pequenos parasitas nas pestanas, invisíveis a olho nu. É agravada (e também agrava) o olho seco, leva a vários episódios de conjuntivite e, nos casos mais graves, a problemas na córnea, como úlceras e neovascularização (pequenos vasos de sangue na camada transparente do olho). 

O diagnóstico é essencialmente clínico, através da observação cuidadosa das pálpebras, cílios, glândulas, conjuntiva e da pele. 

Avalia-se também a facilidade de expressão da gordura das glândulas de Meibómius, bem como a sua regularidade e densidade, a produção de lágrimas e sua estabilidade e, por vezes, procede-se à identificação laboratorial de microrganismos, podendo ser necessário recolher cílios e crostas das pálpebras. A prevenção da blefarite passa por manter as pálpebras limpas, livres de crostas, escamas gordurosas e restos de maquilhagem.

A higiene das pálpebras é, aliás, a medida mais simples e eficaz para tratar a blefarite e consiste em três passos: calor húmido, massagem e limpeza. O calor húmido pode ser feito com compressas ou lenços de pano limpos e embebidos em água morna, colocados durante cerca de dez minutos sobre os olhos fechados. Também existem máscaras comercializadas para esse efeito, que são muito úteis. A humidade e o calor facilitam a saída da gordura das glândulas e tornam mais fácil a remoção de crostas e detritos dos cílios e pele das pálpebras. A massagem consiste em aplicar pressão (com os dedos, um cotonete ou um toalhete) em todo o bordo das duas pálpebras. Para a limpeza pode usar-se um champô neutro diluído em água morna, mas existem também soluções de limpeza e toalhetes, preparados com agentes antisséticos não irritativos. Em alguns casos é necessário usar produtos com ação contra um parasita das pálpebras, à base de óleo da árvore do chá (tea tree oil), aplicar lágrimas artificiais, anti-inflamatórios, fazer um tratamento com antibiótico tópico ou oral e, naturalmente, controlar qualquer condição subjacente que esteja a agravar o quadro, como a dermatite seborreica, rosácea ou alergias. Existem também dispositivos que emitem luz, calor ou uma combinação destes para promover a saída da gordura das glândulas.

Na maioria dos casos o médico oftalmologista fará um esquema de tratamento que inclui algumas destas medidas, de acordo com a avaliação clínica, e é habitual haver uma melhoria significativa dos sinais e sintomas, podendo, contudo, ser necessário repetir o tratamento passado algum tempo.

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