Uma caixa próxima de si

Nesta edição da Revista Business Portugal, estivemos à conversa com José Madeira, administrador da Caixa de Crédito Agrícola Mútuo de Guadiana Interior, que prima por manter uma relação de proximidade com a sua população. Apresentamos-lhe aqui uma Caixa com mais de 100 anos de história e que continua a contribuir para o desenvolvimento de um interior cada vez mais desertificado.

 

José Madeira, Administrador

Começo por pedir que nos conte a história desta Caixa de Crédito Agrícola.

A origem da Caixa de Crédito Agrícola de Serpa remonta a 1911, sendo uma das primeiras Caixas a nível nacional. Na altura, começou pelos Sindicatos Agrícolas, que depois se transformaram em Caixas Agrícolas. Anos mais tarde, houve um movimento de união de algumas dessas entidades, por força do desenvolvimento e da nova legislação dos bancos e entidades financeiras, que nos obrigavam a crescer em termos de capital. Em consequência disso, em 1997, há a fusão das Caixas de Serpa, Moura e Vidigueira, criando a Caixa de Crédito Agrícola Mútuo de Guadiana Interior. Continuamos a crescer e hoje a nossa estrutura engloba seis concelhos, sendo composta por doze agências, estando a sede em Moura. Ao longo dos anos, temos conseguido crescer sustentadamente nos números, nos clientes e na atividade financeira e somos hoje a principal entidade bancária nos concelhos onde operamos.

 

Há uns anos havia a ideia de que a CCA era apenas direcionada para os agricultores. Quer desmistificar isso?

De facto, no início a CCA estava ligada ao setor primário, mas com alguma abertura das entidades de supervisão foram-se abrindo outras portas e outras atividades, como o crédito à habitação ou o crédito ao investimento. Hoje conseguimos fazer praticamente todas as operações que outra banca faz, embora ainda haja algumas restrições e regulamentações específicas em termos do volume de financiamento fora da atividade agrícola.

 

Não descurando que estamos numa zona em que a agricultura é um dos principais fatores para o desenvolvimento, gostaria de perceber que serviços prestam aos investidores agrícolas.

Fazemos todo o tipo de apoio ao setor agrícola, nas diversas atividades. Temos apoios de diversas ordens, desde investimento, tesouraria, projetos agrícolas, antecipação das ajudas agrícolas, temos todo um conjunto de produtos financeiros à disposição dos empresários agrícolas. Disponibilizamos ainda várias linhas de apoio, inclusive na área dos seguros, sejam no setor agrícola ou noutro.

 

Sente que, na região, as pessoas confiam na CCA?

Sim, pela longevidade e pela credibilidade que temos dado ao longo destes anos. Felizmente, conseguimos ultrapassar a crise financeira, sem grandes sobressaltos, porque somos um banco com capitais nacionais próprios e não temos capitais estrangeiros ou de outras entidades fora do nosso grupo. O capital de cada Caixa é criado pelos seus sócios e pelos clientes, que depositam confiança em nós e fazem os seus projetos de investimento connosco.

 

Enfrentam muitas adversidades ao manterem-se no interior?

Tem sido difícil para as Caixas que estão no interior resistir, porque a população tem vindo a diminuir, tornado cada vez mais difícil rentabilizar as agências. Nós temos conseguido manter estas agências abertas, mas não é fácil pois sem pessoas não há atividade financeira. Também somos pressionados pela Caixa Central que, cada vez mais, nos exige uma maior dinâmica comercial e maior rentabilidade e quando não se olha ao número de pessoas de determinados locais, há a tentação de fechar esses balcões, por já não serem rentáveis, no entanto, esta administração tem procurado contrariar o fecho das suas agências. Temos ainda uma rede de cerca de 35 multibancos espalhados pelos vários concelhos, em locais onde mais ninguém tem uma caixa de multibanco, a par das agências. Isto tem as suas vantagens e desvantagens porque, apesar de não termos concorrências nalguns locais, torna-se difícil fazer negócio à medida que a população vai decrescendo e envelhecendo.

 

Mas garantem segurança aos vossos atuais e possíveis clientes?

Sim, o CA, nos últimos anos, tem vindo a crescer em termos sólidos e financeiros e as pessoas vão-se apercebendo desses números, o que faz com que acreditem cada vez mais na instituição. Depois das crises que existiram a nível nacional e mundial, algumas entidades ficaram descredibilizadas e isso também nos afetou, mas fruto dos resultados que vamos obtendo, ano após ano, as pessoas voltam a acreditar e depositar a confiança nas Caixas Agrícolas.

 

Ainda mantêm uma grande proximidade com o cliente?

Sim, ainda temos essa vantagem. As pessoas gostam de ser reconhecidas e ser tratadas pelo nome e a outra banca tem mais dificuldade nisso, porque está nos grandes meios e é mais difícil conhecer o cliente. Aqui, sabemos o nome, a atividade, conhecemos a família… é um aspeto muito diferenciador.

 

Está ligado à CCA há quanto tempo? O que o motivou a abraçar este projeto?

Há 25 anos. Na altura, eu estava na lista como suplente e por falecimento de um dos diretores subi ao cargo. A partir daí comecei a gostar desta atividade e sempre me motivei com o tipo de relação que mantemos com as pessoas. O que me fez gostar disto e continuar foi poder contribuir para o desenvolvimento da região e ver que a instituição tinha condições para apoiar tanto empresas como famílias e outras entidades, como associações locais. Para além de ser motivador ver o crescimento da instituição, é também ver o crescimento da relação com estas entidades.

 

Como gostaria de ver a instituição daqui a 10 anos?

O panorama na área financeira não está fácil, pois as exigências são cada vez maiores e as condições económicas com taxas negativas dificultam o crescimento e rentabilidade das instituições. É difícil prever, mas gostaria que daqui a 10 anos tivéssemos um crescimento sustentado, como temos vindo a ter até hoje, mas devido às conjunturas que temos, até mesmo da própria Europa, não temos tarefa fácil. O Banco Central Europeu segue, cada vez mais, uma política de juntar e criar entidades muito grandes e as instituições mais frágeis vão ficando um pouco de lado, o que é de lamentar, porque são estas entidades mais pequenas que estão mais perto das pessoas. Para o próprio crescimento e sustentabilidade da economia dos países, é importante que os mais pequenos também tenham o seu espaço e sejam defendidos.

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