“Tentei sempre dar um cunho humano às decisões que tomei”

Ana Costa Freitas, Reitora da Universidade de Évora

A Reitora da Universidade de Évora, Ana Costa Freitas, que deixa o cargo em maio deste ano, mostrou-se satisfeita com os oito anos da sua liderança, considerando que foram de crescimento para a academia. Em entrevista à Business Portugal, partilhou ainda a mensagem de que as mulheres devem traçar objetivos ambiciosos, tendo a certeza de que para os concretizar têm que trabalhar bastante.

A Reitora anunciou recentemente que vai passar o testemunho em maio deste ano. Que análise faz dos oito anos na liderança da Universidade de Évora?
Estes oito anos foram anos intensos, como seria de esperar. Penso que a Universidade traçou um caminho em 2014 com a aprovação do seu Plano Estratégico e ao seguir esse caminho conseguiu afirmar-se em algumas áreas que consideramos importantes, tendo atingido muitos dos objetivos propostos, como é exemplo uma maior ligação à região, a integração em Laboratórios Associados, a criação da Escola de Saúde e Desenvolvimento Humano, bem como a aposta na área “Aeroespacial e Transformação Digital”. Demos, sem dúvida, passos importantes na consolidação de algumas áreas e na definição de áreas estratégicas novas sempre muito ligadas à região e ao seu necessário desenvolvimento, sublinhando ainda que crescemos muito em número de alunos em parte, creio, porque nos demos a conhecer melhor a nível nacional e internacional.

Que cunho identitário procurou imprimir durante estes dois mandatos que esteve à frente desta instituição de ensino? Sente que conseguiu desenhar um modelo de universidade mais ligado à região com áreas âncora a pensar no futuro?
Eu tentei sempre, dar um cunho “humano” às decisões que tomei, tendo como primeira preocupação as pessoas. Penso que essa é a questão principal para se conseguir liderar uma equipa. Ouvir! Mas ouvir nem sempre quer dizer seguir as opiniões de todos. Eu costumo dizer que ouvir não pode ser impeditivo de decidir, porque a decisão é sempre solitária. Penso que a Universidade está, realmente, mais ligada à região, aos diferentes municípios e aos diferentes Politécnicos da região.
Esse foi também o objetivo estratégico das áreas âncora: “focar” Ao princípio todos queriam a “sua” área, entretanto foi-se percebendo que realmente com as 4 áreas que foram definidas todos eram incluídos e ficamos mais fortes, mais coesos e mais focados.

Houve uma evolução, mas continua a ser necessário sensibilizar a população em geral, para as capacidades das mulheres e para as leis que promovem a igualdade?
Há uma nítida evolução, sem dúvida, a Universidade de Évora é disso um bom exemplo o que me tem feito pensar se uma liderança feminina não tem o efeito “oposto”, ou seja, mais mulheres em lugares de topo.
Tenho pensado muito nestas questões e também por isso, criámos o Gabinete para a Igualdade de Género, porque acredito que este é o caminho certo a percorrer. Não queremos nem mais nem menos, queremos sim a igualdade e a inclusão. Esta é uma questão muito atual e há realmente ainda um caminho a percorrer, mas é um caminho de diálogo, de capacitação e de escolhas, não me parece que deva ser extremista e autoritário.

Como uma mulher que pode servir de exemplo e inspiração para outras, que mensagem gostaria de deixar às mulheres que estão agora a entrar no mercado de trabalho?
Uma mulher, tal como um homem, deixa sempre uma mensagem e pode servir de exemplo e de inspiração. Mas falemos apenas de mulheres, que normalmente traçam objetivos para a sua vida desde muito cedo e esses objetivos não devem ter limites ou ser auto-impostos. Devemos traçar objetivos ambiciosos, tendo a certeza de que para os concretizar temos que trabalhar muito, porque, como se costuma dizer, a sorte dá muito trabalho! Acredito que não há nada do que sonhamos que esteja vedado, muito menos que nos seja vedado por sermos mulheres. É curioso que esta é uma questão que possivelmente nunca foi, nem será colocada a um homem. Há realmente um caminho a percorrer neste sentido.

Licenciada em Agronomia, alguma vez imaginou que seria este o seu percurso? Onde é vê a Ana Costa Freitas no futuro? Poderá passar pela política?
Foi um percurso, como dizem, uma carreira pensada. A entrada na Universidade, fazer o doutoramento, fazer investigação, aprender e dar aulas, voltar para Évora para progredir na carreira, envolver-me em órgãos de gestão, aceitar ser Vice-Reitora, ser Conselheira no Gabinete de Conselheiros Políticos do Presidente da Comissão Europeia, em Bruxelas e ser Reitora. É um percurso. À medida que crescemos vamo-nos conhecendo melhor, todos os dias nos conhecemos melhor, e todo o nosso percurso de vida é feito com esse conhecimento que vamos alargando. Sempre que erramos tiramos conclusões e sempre que acertamos também. A investigação ajuda-nos muito a ser capazes de avançar mesmo quando não se sabe o que nos espera. Vitórias, derrotas, contrariedades, coisas boas e coisas más, fazem de nós o que somos. Eu sou a súmula dos dias que vivi e das escolhas que fiz no seio da família que tenho e que nunca dispensarei.
Sobre futuro? Penso muita coisa, ainda não tenho certezas, ainda tenho que viver o day after, que ainda me assusta levemente! Se passa pela política? Não sei, não me importava, gosto muito de analisar tudo o que se passa no país em termos políticos, acho que a democracia precisa MUITO que todos estejamos disponíveis. Se irá acontecer? Não faço ideia!

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