Smart money, o grande desafio do ecossistema

Adelino Costa Matos Presidente da ANJE – Associação Nacional de Jovens Empresários

O sucesso dos processos de crescimento das startups está dependente da capacidade de captar capital, talento e conhecimento. Ora, para reunir estes três de fatores, o caminho mais expedito é atrair smart money. Ou seja, encontrar investidores que garantam não apenas capital, mas também know-how. Dentro deste grupo de investidores estão os business angels, normalmente atuais ou antigos empresários que, graças à sua experiência, podem complementar o capital investido com conhecimento técnico, informação especializada, visão estratégica, networking, relações com o mercado, etc.

No nosso país são cada vez mais os projetos apoiados por business angels, designadamente a partir de linhas de financiamento comparticipadas pelo Portugal 2020. Trata-se de um investimento importante para o desenvolvimento do empreendedorismo português, que precisa de capital mas também de estratégias sólidas e modelos de negócio adequados. Não faltam em Portugal boas ideias de negócio, mas depois há muitas vezes problemas na transposição dos projetos para o mercado.

A importância dos business angels é exponenciada pelo atual contexto do empreendedorismo português, em que assistimos a um boom de startups inovadoras e se verifica a necessidade de dar músculo financeiro a empresas em processo de aceleração e escalabilidade. As nossas startups de crescimento acelerado necessitam de ganhar músculo financeiro para reforçarem os seus recursos tecnológicos, para investirem em inovação, para atraírem talento e para ganharem poder negocial junto de fornecedores, clientes e investidores.

Os business angels portugueses têm, pois, de estar à altura destes novos desafios do ecossistema empreendedor. Os investidores devem procurar uma convergência de interesses e vontades, que depois se traduza em soluções de financiamento mais favoráveis para as empresas. Neste sentido, parece-me importante que os business angels sejam capazes de colaborar entre si e de partilhar o risco do investimento.

A cooperação entre business angels é muito bem-vinda, podendo ser concretizada através de fundos partilhados e mecanismos de coinvestimento. O risco é assim repartido por vários investidores, o que permite maiores volumes de capital para as startups. O aumento do capital disponível é crucial para a valorização do nosso ecossistema, que precisa de evoluir para níveis de investimento mais elevados. Fundos de pequena dimensão dão origem a carteiras pouco recetivas a projetos mais disruptivos e incapazes de alavancar startups já na fase growth.

Aliás, o nosso ecossistema está ainda muito focado no apoio a ideias de negócio e a projetos nas fases iniciais, faltando soluções financeiras para promover a aceleração, crescimento e consolidação das empresas. Não há muitos investidores portugueses com capacidade para acompanhar segundas e terceiras rondas de investimento, o que limita as possibilidades de alavancagem de projetos escaláveis. Empresas como a Farfetch, a Feedzai, a Talkdesk ou a Veniam, por exemplo, têm sido alavancadas em rondas de financiamento internacionais.

Tudo isto para dizer que os business angels têm um papel fundamental na diversificação das soluções de financiamento das empresas, sobretudo num momento de crescimento das nossas startups. Mas, para que a ação destes investidores seja mais efetiva, importa encontrar mecanismo de coinvestimento e partilha do risco que aumentem o capital disponível para as empresas.

Este é, sem dúvida, um dos grandes desafios do nosso ecossistema, que necessita de atrair volumes de investimento mais elevados e com know-how e networking.

Adelino Costa Matos

Presidente da ANJE – Associação Nacional de Jovens Empresários

 

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