“Sempre quisemos ser uma empresa diferenciadora”

 

A Hortipor, empresa familiar dedicada à produção de tomate, foi fundada em 2001. Desde então, tem vindo a evoluir e a destacar-se no mercado convencional e, nos últimos tempos, também no biológico. Telmo Rodrigues, proprietário da Hortipor, esteve à conversa com a Revista Business e expôs as principais razões do sucesso da empresa.

Foi em Torres Vedras que a Hortipor deu início à sua atividade, mas, com o elevado crescimento do negócio, a área de produção acabou por se estender à costa alentejana e Espanha. Atualmente, a produção é assegurada durante o ano inteiro por 70 hectares de estufas, principalmente devido ao know-how de Telmo Rodrigues que lhe permite aproveitar as particularidades do nosso clima.

 

Evolução e oportunidades

Num piscar de olhos, a Hortipor afirmou-se no mercado. Apenas um ano depois de ser fundada, começou a trabalhar diretamente com cadeias de supermercados. Há mais de uma década que as cadeias de supermercados continuam a ser os maiores clientes da Hortipor em Portugal e Espanha. “Em 2006 foi quando começámos a lançar-nos na exportação”.

Estendeu-se à Europa e começou, assim, uma rota de exportação para a indústria de quinta gama lançada para países como Espanha, França e Alemanha. Com a subida das vendas, foi necessário aumentar a área de produção e nesse seguimento surgiram as primeiras estufas em Odemira. “Elegemos o concelho de Odemira para crescer. Tem o melhor microclima da Europa para produzir produtos hortícolas e frutícolas. Os tomates aí produzidos têm um sabor muito diferenciador e conseguimos produzir 12 meses por ano. Hoje, com os mecanismos que temos, como os sistemas de rega computorizados e a tecnologia, podemos tirar partido de qualquer tipo de solo, e aumentar a eficiência no uso de água e nutrientes, mas a principal vantagem é o clima, a luz e as temperaturas excelentes. De facto, o sabor do tomate fica diferente”.

Já em 2014, a Hortipor conseguiu agarrar um projeto de destaque, projetado por um dos melhores especialistas na venda a supermercados e exportação a mercados europeus, que consistiu na criação de uma empresa comercializadora em Espanha, onde a Hortipor participa em 41 por cento do capital. “Fizemos esta parceria e neste momento estamos a produzir e a embalar para os supermercados em Espanha diretamente desde Portugal. Estamos a fazer as marcas Premium dos principais supermercados no país vizinho. Isso foi também um trabalho reconhecido pela nossa qualidade e serviço ao cliente, conseguimos colher, embalar e entregar tomate de alta qualidade, em qualquer parte de Espanha, em menos de 24 horas”. A Hortipor tem um volume de negócios consolidado de 23 milhões de Euros, e exporta 70 por cento desse valor.

Até aqui, o progresso era notável, mas continuou. A primeira aventura em agricultura biológica surge em 2016, no Alentejo. “Fizemos a primeira estufa de agricultura biológica, uma área de negócio que pretendemos expandir. O nosso objetivo é o de fazer as coisas de uma forma muito profissional e cultivar variedades de tomate com sabor”. E uma vez que a quantidade de água, o clima, a vegetação e os insetos são fatores que influenciam a produção, o Alentejo foi, mais uma vez, a região eleita.

Para além da produção das melhores variedades de tomate, Telmo Rodrigues tem a preocupação de fazer chegar o seu produto à mesa de cada casa. O mercado português foi sempre uma aposta ganha, através dos grandes grupos de hipermercados. A partir deste trabalho qualitativo, a Hortipor cresceu e obteve a primeira certificação Global GAP, em 2005. Atualmente, a empresa é certificada em Global Gap, BRC, Clube de Produtores Sonae, Vida Auchan e membro da United Nations Global Compact.

 

Produção biológica e Resíduo Zero

Está na moda falar dos produtos da terra, produtos virgens, produtos do “bem” que vem dar um novo significado ao conceito de alimentação saudável. Nos últimos anos muitos têm sido os debates mediáticos sobre a adulteração dos alimentos, sejam eles animais ou vegetais, que consumimos em casa. Será o aspeto importante? Será que sabemos o que estamos a comer? Pois, em resposta a estas perguntas, o proprietário explica que “mesmo em agricultura convencional a primeira opção é sempre o recurso à solução biológica”. Apoiando a sua produção nas estufas, sente-se na obrigação de desmistificar o uso dos pesticidas nas estufas. “As pessoas têm a ideia de que um produto cultivado em estufas leva necessariamente mais pesticidas, mas é precisamente o contrário. O cultivo em estufa, não é mais que um cultivo protegido, menos vulnerável a ataques de pragas e doenças, e mais protegido das agressões climatéricas, comparativamente com a produção ao ar livre, que está muito mais vulnerável a essas situações”.

Em 2016 arrancou um novo projeto: a produção de tomate em Modo de Produção Biológico. “O objetivo é o de fazermos esta produção de forma muito profissional, utilizando as melhores variedades do mercado, tanto em aspeto como em sabor, mesmo comprometendo a quantidade de produção, e o nosso país tem excelentes condições para produzir este tipo de variedades. É um mercado promissor, que vai crescer muito rapidamente.”

Contudo, a oportunidade que viria a impulsionar a produção de tomate biológico em Portugal ocorreu no ano passado. Com a aquisição da Horticilha, empresa em Alcochete que já se dedicava à cultura biológica, a Hortipor aumentou significativamente a capacidade (produção biológica). “Foi um aumento de 17 hectares de produção de alta tecnologia. Estufas em vidro, com aquecimento e sistema computorizado. São as chamadas estufas HighTech”.

A estratégia era simples e começou com forte aposta no nosso mercado, uma vez que, em Portugal, o tomate biológico encontrado é praticamente todo importado. “Já temos uma marca criada, que se chama GooMato. O nosso objetivo é fazer o biológico de uma forma mais profissional. Vamos oferecer aos clientes um tomate três B’s: Bom, Bonito e Biológico.”

Para além da gama biológica, há outros métodos que também chamam a atenção. A pedido de clientes em Espanha, foi também adotada a linha de produtos “Resíduo Zero”. “Nós garantimos que os produtos têm Zero pesticidas (acima dos valores quantificáveis).

Depois de um ano completo a seguir e a vender este ideal para Espanha, a Hortipor, conseguiu alcançar um determinado nível de experiência e confiança em relação a este ideal. “Levamos um ano completo com algumas referências com esse trabalho, nomeadamente com as marcas Carrefour e Auchan”. E depois de Espanha, é altura de avançar “em Portugal também, a partir de algumas cadeias de supermercados, que já nos solicitaram para produzir Resíduo Zero”.

“Sempre quisemos ser uma empresa diferenciadora, por isso, quando os outros nos copiam, nós evoluímos e fazemos algo diferente. Ser mais um? Há tantos”.

Produtos diferenciadores e produzidos de forma excecional são as principais preocupações de Telmo Rodrigues. A guerra de preços e especulação não entra na lista. “Ser mais um é ser mais barato do que outro… e o outro ser mais barato que outro… Não é isso que nos interessa”, esclarece.

 

Variedades e exclusividade de produtos

Já lá vai o tempo em que o tomate de salada era o mais procurado. A par e passo com o mundo, foram introduzindo novas variedades de diferentes tamanhos, cores, sabores e texturas, e algumas delas produzidas e comercializadas em regime de exclusividade. Por ano, são ensaiadas entre 50 a 70 novas variedades, umas comerciais e outras pré comerciais, onde são analisadas as resistências das plantas, adaptação á região de produção e épocas do ano, o sabor, a produtividade, vida pós-colheita, o potencial de introdução no mercado….. e por fim a apresentação aos clientes, sua aprovação e introdução no mercado. “Neste momento, “temos mais de 20 variedades de tomate e há sempre umas que se distinguem mais, tais como Tomate Cherry Sweet, Tomate Tasty, Kumato, Mini Kumato, mais recentemente o Tomate Púrpura e o Bombom”, entre outras que fazem da Hortipor uma empresa distinta e que se destaca.

A variedade Tomate Cherry Sweet, produzida exclusivamente no Litoral Alentejano, brilha com o seu toque doce frutado, formato arredondado de pequenas dimensões, tal como uma cereja, porém, é distinto do habitual tomate cereja, pela sensação de explosão de sabor e textura crocante, que lhe valeu duas estrelas no Great Taste Awards. “É um tomate com muito boa cor, excelente sabor e é visualmente atrativo.” Na Península Ibérica, a Hortipor é a única a produzir esta variedade de tomate com “um sabor frutado”.

O Tomate Tasty, detentor também de duas estrelas no Great Taste Awards, surge, tal como o nome indica, no segmento do sabor. É um fruto redondo ligeiramente sulcado, suculento, textura muito suave, doce e acidez equilibrada. “É aparentemente normal e a sua particularidade é o sabor. O próprio interior tem uma cor diferente”.

A linha Kumato, que este ano também foi premiada com duas estrelas no Great Taste Awards, e Mini Kumato são variedades reconhecidas em toda a Europa. Para além da cor, que varia entre o verde dourado e o castanho escuro, sendo esse o seu aspeto natural, distinguem-se das outras variedades por serem mais doces e terem notas ligeiramente ácidas, que contrastam e produzem uma sensação única e bem definida. “Temos as duas versões em biológico desta linha”.

Há ainda o Tomate Mini Chucha, apelidado de tomate bombom, devido ao seu sabor. “Foi até um nome sugerido por um dos nossos clientes em Espanha, porque realmente estamos a comer aquele tomate e parece que estamos a comer bombons. A variedade que usamos difere muitos das convencionais pelo seu excelente sabor, e é exclusiva da Hortipor”.

Por sua vez, o Tomate Púrpura é um tomate com uma nova cor, púrpura, e um sabor surpreendente, com um perfeito equilíbrio agridoce, potenciado graças ao sabor Umami, saboroso e exótico. É também um tomate rico em Antocianinas totais. No fundo, já estamos a produzir e vender saúde. Mas estamos a falar de volumes pequenos para o mercado gourmet, porque é um produto muito caro e muito diferente dos outros tomates.

Todo o trabalho realizado no desenvolvimento e introdução de novas variedades e embalagens mais sustentáveis, e os resultados obtidos nos últimos anos, valeram um Prémio Inovação e duas Menções Honrosas, atribuídas pelos clientes à Hortipor.

 

Próximos desafios

Dezenas de hectares de área sustentam a manutenção da Hortipor. São 70 hectares de área coberta – estufas –, dos quais 50 têm aquecimento. E não há margem para desperdícios. Em grande parte, a energia utilizada varia entre biomassa e gás natural, mas todo o CO2 da combustão é reutilizado para melhorar a fotossíntese.

Daqui em diante, a Hortipor promete continuar a evoluir como tem feito ao longo destes 18 anos de existência, tornando-se uma empresa maior e melhor. “As melhores variedades que existem na Europa, os mais convencionais, nós já os produzimos em biológico”. Portanto, continuar a liderar o mercado é o conceito principal e parar não é opção.

Há ideias lançadas e as novidades irão surgir. Os próximos objetivos são aumentar a área de produção na unidade espanhola, onde dispõe de 22 hectares de terra de muito boa qualidade e água, numa região onde o clima é fantástico, dispondo de muita luz natural no inverno e temperaturas amenas, para produção de tomate nomeadamente, de inverno. “Em Portugal, no inicio do próximo ano vamos avançar com um novo projeto de instalação de 10 hectares de estufas de alta tecnologia, para produzir em Modo de Produção Biológico e converter 8,5 hectares das atuais estufas para este modo de produção”. “A nossa aposta é também o mercado local, o mercado bio e o mercado português, porque somos daqui”.

You may also like...