Sem saúde oral não há saúde geral

No mês em que se comemora o Dia Mundial da Saúde, salienta-se a oportunidade de abordar a conexão entre a saúde geral e a saúde oral e a sua relação bidirecional: uma boa saúde oral estimula uma boa saúde geral, e o inverso também é verdadeiro e uma não pode existir sem a outra.
A boca é descrita como uma porta de entrada para os tratos digestivo e respiratório e a sua saúde um indicador chave de saúde geral, bem-estar e qualidade de vida. Uma boa saúde oral e bons hábitos de higiene oral podem ajudar a prevenir problemas de saúde graves – e, da mesma forma, uma má saúde oral pode aumentar a suscetibilidade a certas doenças e outras condições.
A cavidade oral está exposta ao ambiente e desde muito cedo é colonizada por agentes infeciosos. Normalmente, as defesas naturais do corpo e os bons cuidados de saúde oral, mantêm as bactérias sob controlo. No entanto, sob certas circunstâncias, incluindo uma má higiene oral, as bactérias podem atingir níveis que podem levar a infeções orais, como cáries e doenças das gengivas. A manipulação dos dentes e das suas estruturas de suporte leva à libertação de bactérias existentes na cavidade oral para a corrente sanguínea, podendo atingir outros órgãos do corpo. Esta situação pode conduzir a doenças crónicas não transmissíveis tais como as cardiovasculares, as complicações diabéticas, as infeções respiratórias, artrite reumatoide, demência, assim como a maior taxa de partos prematuros e bebés de baixo peso à nascença.
Todas estas doenças, orais e algumas sistémicas compartilham de fatores de risco comuns.
As doenças crónicas não transmissíveis são a causa mais comum de morte e incapacidade, causando mais de dois terços das mortes em todo o mundo.
Quando se fala nos impactos destas doenças na saúde pública, reforça-se o cancro, as doenças cardiovasculares, as doenças respiratórias crónicas, a diabetes e os distúrbios mentais e neurológicos. No entanto, outras condições, como as doenças orais, apesar de representarem um desafio de saúde pública mantêm-se subestimadas por quase todos os países do mundo e não são consideradas (nem cobertas) como um elemento integral dos sistemas de saúde.
De facto, o Global Burden of Disease Study (1990-2017), analisando longitudinalmente a prevalência de 354 doenças, colocou em 1º lugar no ranking, as alterações orais, assim como as cáries não tratadas em dentes permanentes.
A Organização Mundial de Saúde estima que as doenças orais sejam a terceira condição mais cara de tratar – e se uma abordagem curativa for adotada ao invés de uma abordagem preventiva, a despesa só será superada pelas doenças cardiovasculares e pela diabetes. Globalmente o impacto económico destas doenças orais totalizou 442 biliões de dólares em 2010, com os custos diretos a corresponderem a 4,6% dos gastos globais com saúde.
O impacto das doenças orais não se resume só a dinheiro. Além das despesas diretas com o tratamento curativo, os custos indiretos resultam em milhões de horas perdidas na escola e no trabalho por ano.
Este impacto económico negativo, a longo prazo, dificulta o progresso individual, social e o desenvolvimento, com consequências significativas na qualidade de vida dos indivíduos e da sua participação na sociedade, bem como nos sistemas de saúde. Estudos recentes demonstram que os pacientes que receberam cuidados de saúde oral profissionais frequentes (em comparação com aqueles que não receberam) custaram ao sistema de saúde, significativamente menos, e resultaram em menos hospitalizações. A recente resolução sobre saúde oral aprovada pela Assembleia Mundial da Saúde, em maio de 2021, recomenda os Estados Membros o “fortalecimento da prestação de serviços de saúde oral como parte do pacote de serviços essenciais que oferecem a cobertura universal da saúde” e vem reforçar que os serviços de saúde oral, devem ser acessíveis universalmente, garantindo a equidade no acesso a esses serviços. As doenças orais podem ser silenciosas e muitas vezes percecionadas como uma consequência inevitável da vida e do envelhecimento, para as quais muitas pessoas não procuram tratamento profissional, mesmo quando precisam por razões várias, nomeadamente pelo custo, acessibilidade e pela ansiedade do tratamento que possam necessitar.

As doenças orais são evitáveis, podendo ser reduzidas ou prevenidas, por meio de medidas simples e eficazes, em todas as fases da vida, tanto a nível individual como populacional.
Todo nós reconhecemos a importância de uma boca saudável – um sorriso brilhante, hálito fresco, gengivas e dentes saudáveis. E acrescentamos a estes benefícios uma redução do risco de várias doenças sistémicas.
No Dia Mundial da Saúde – e todos os dias – faça escolhas certas e desenvolva hábitos que encorajem uma boa saúde geral e oral:
• Escove os dentes pelo menos duas vezes por dia durante dois minutos. Use uma escova de cerdas média/macia e uma pasta de dentes com flúor;
• Use o fio ou escovilhão diariamente para limpar os espaços entre os dentes;
• Faça uma dieta saudável e limite alimentos e bebidas açucarados;
• Evite o uso de tabaco e excesso de álcool;
• Vigie regularmente a sua saúde oral junto de um profissional de saúde oral.

Cuidar da saúde oral é cuidar da sua saúde geral!

You may also like...