Real Edifício de Mafra comemorou primeiro aniversário como Património Mundial

O Real Edifício de Mafra é Património Mundial da UNESCO e, para assinalar o primeiro aniversário, o presidente da Câmara Municipal de Mafra, Hélder Sousa Silva, esteve em entrevista com a Revista Business Portugal.

 

Hélder Sousa Silva, Presidente

No passado dia 7 de julho, foi celebrado o primeiro aniversário da inscrição do Real Edifício de Mafra na lista do Património Mundial da UNESCO. Que sentimento desperta esta ilustre distinção para os mafrenses?

A distinção é, ao mesmo tempo, um motivo de orgulho e um compromisso de futuro: um motivo de orgulho porque o monumento faz parte da identidade local, além do que constitui a razão pela qual Mafra se encontra incluída, desde a primeira metade do século XVIII, nos principais itinerários culturais, religiosos, turísticos e académicos internacionais; um compromisso de futuro porque, mais do que um ponto de chegada, este é um ponto de partida para a proteção acrescida do bem e para a promoção da sua fruição pública, posicionando-o como um local de (re)encontros, dos mafrenses com a sua história e dos visitantes nacionais e estrangeiros com um conjunto patrimonial excecional.

 

Que balanço faz deste primeiro ano, o qual ficou marcado, em fevereiro, pelo concerto inaugural do restauro dos carrilhões do Palácio Nacional de Mafra?

Ao resgatar do silêncio este grandioso conjunto sineiro, Mafra reforçou a sua vocação musical perante o mundo. Não obstante, durantes estes primeiros 365 dias como Património Mundial, o “compromisso de futuro” fez-se presente em muitas outras iniciativas: na abertura de propostas para o projeto de instalação do Museu Nacional da Música em Mafra; no desenvolvimento do projeto de criação do Polo de Ciências Musicais da Universidade Nova de Lisboa, a instalar na ala sul do monumento; no lançamento do concurso para a elaboração do Plano Estratégico do Jardim do Cerco e da Tapada Nacional de Mafra, na ótica da valorização da sua componente paisagística; na nova dinâmica de gestão da Tapada, introduzida pela atual direção; na elaboração do projeto “Mafra, referência nacional e internacional do turismo equestre”, desenvolvido em conjunto com a Escola das Armas; e também na instalação da sinalética do Real Edifício de Mafra, projetada por um artista da terra, reforçando a ligação afetiva com a comunidade local.

Ainda fazendo um balanço deste ano, e apesar da diminuição do número de visitantes decorrente da pandemia da Covid-19, apraz registar que, dos monumentos tutelados pela Direção-Geral do Património Cultural, o Palácio Nacional de Mafra foi o mais visitado na fase de desconfinamento, com mais do dobro de visitas do Mosteiros dos Jerónimos.

 

Na valorização do Real Edifício de Mafra, quais os próximos desafios que se colocam?

O primeiro desafio é, sem dúvida, concluir a implementação do modelo de gestão integral do bem, que é uno no seu conceito. Para além desta questão estratégica, impõe-se outros projetos: a promoção das acessibilidades para pessoas com mobilidade reduzida; e a implementação um modelo de visitação global do conjunto patrimonial, ligando o Palácio/ Convento ao Jardim do Cerco e à Tapada. Em suma, a ambição é proporcionar, a todos, uma experiência de fruição integral das diferentes valências.

 

Para além do património cultural, Mafra apresenta uma oferta turística diversificada. Podemos concluir que é um destino turístico para todos?

Enquanto destino turístico, o grande mérito do Concelho de Mafra é reunir, em 300 quilómetros quadrados, uma oferta multifacetada. Para além do conjunto patrimonial distinguido pela UNESCO, evidencia-se pelas condições naturais para a prática de desportos outdoor. Destaque para a singular costa marítima, onde se situam 13 praias e a Reserva Mundial de Surf da Ericeira, única na Europa. Ao mesmo tempo, este é, também, um território que soube perpetuar o modo de vida tradicional das suas gentes, nas artes e ofícios, nas festas e romarias ou na diversidade da gastronomia.

 

Definitivamente, Mafra convida à visita!

 

Real Edifício de Mafra: uno, único e excecional

O Real Edifício de Mafra é formado por um Palácio, uma Basílica, um Convento, um Jardim e uma Tapada, sendo uma das mais magnificentes obras de D. João V.

Desde a escolha do arquiteto (Johann Friedrich Ludwig, formado em Roma) que o projeto se instituiu como uma afirmação internacional da casa reinante portuguesa.

Aquando da sagração da Basílica, no dia 22 de outubro de 1730, o conjunto não estava ainda concluído, nem todas as obras de arte haviam chegado, mas há muito que o plano estava delineado: um Palácio Real dotado de dois torreões que, funcionando independentemente, eram as câmaras do casal régio; uma Basílica decorada com estátuas dos melhores artistas romanos e com um conjunto inusitado de paramentaria francesa e italiana sem paralelo no país; duas torres na fachada que albergam dois carrilhões mandados construir na Flandres e que constituem um património sineiro único no mundo; uma Biblioteca constituída por obras de grande interesse científico e das poucas que previa a incorporação de “livros proibidos”, bem como um acervo bibliográfico dos séculos XV ao XIX.

Das décadas seguintes são os retábulos da Basílica, da autoria de Alessandro Giusti, artista de origem italiana que, em Mafra, iniciou uma verdadeira escola de escultura. Merecem, ainda, destaque os seis órgãos, construídos para tocar em conjunto, o que já estava previsto no plano inicial na Basílica. O projeto foi entregue aos organeiros António de Machado Cerveira e Peres Fontanes. Estes foram cuidadosamente restaurados a partir de 1994, num processo premiado pela Europa Nostra.

O Palácio continuou a desempenhar as funções de Paço Real até ao final da monarquia, tendo mesmo sido em Mafra que D. Manuel II, último rei de Portugal, passou a derradeira noite antes de embarcar para o exílio. O Convento foi extinto em 1834 e, desde então, albergou diversas unidades militares que constituem, por si só, outro capítulo da história deste conjunto.

O Jardim do Cerco começou por ser a cerca conventual à disposição dos frades, mas, logo em 1718, D. João V mandou ali plantar todo o género de árvores silvestres. O conjunto alberga um grande lago central, para onde confluem águas da Tapada e de um poço anexo associado a uma gigantesca nora. Também ali se conserva um curioso Jogo da Bola.

A Real Tapada de Mafra (hoje designada Tapada Nacional de Mafra) foi criada em 1747 para servir as necessidades do Convento e para cenário venatório do monarca e da corte. Hoje, é um espaço vocacionado para a gestão florestal, cinegética, ambiental e turística.

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