“Partilhar com a sociedade parte do que dela recebemos”

Elena Aldana, Diretora-Geral Internacional de Relações Externas

A Mercadona está a poucos dias de celebrar um ano desde a abertura da primeira loja em Portugal, assinalando um arranque notável. Em entrevista à Revista Business Portugal, Elena Aldana, Diretora-Geral Internacional de Relações Externas, fala-nos dos projetos de expansão e dos desafios e ações desenvolvidas em tempos de pandemia.

 

Como foi a adaptação da Mercadona ao mercado nacional? Faz parte da vossa estratégia, mesmo com a pandemia, continuar a expandir?

A adaptação tem sido muito positiva e um processo constante de aprendizagem. Trata-se do primeiro projeto de internacionalização da Mercadona, por isso já partíamos da premissa inicial de que este seria um projeto de aprendizagem sobre a adaptação a um novo país, uma nova realidade.

Efetivamente, este novo cenário de pandemia fez-nos mudar o foco momentaneamente e concentrar todos os nossos esforços na implementação de medidas para garantir a segurança e saúde dos nossos colaboradores e clientes, assim como o abastecimento das nossas lojas junto dos nossos fornecedores durante todo o período, mas não obstante disso, mantivemos o nosso projeto de expansão e prevemos abrir dez novas lojas em 2020, nos distritos de Aveiro, Porto e, pela primeira vez, Viana do Castelo. A primeira deste ano foi na Cidade de Aveiro, na Av. Europa, no dia 16 de junho, e depois seguir-se-á o supermercado de Santo Tirso, que abrirá no dia 25 de junho.

 

De que forma reagiram e se adaptaram a esta pandemia?

A adaptação e a capacidade de reação foram incríveis pois, desde o primeiro dia, tivemos de reagir e alterar os nossos processos no mesmo minuto em que era publicada uma comunicação do Governo ou da DGS. Havia muita incerteza, mas sempre tivemos em mente que tínhamos de garantir a 100 por cento a segurança e saúde dos nossos colaboradores e clientes. Para tal, foram aplicadas medidas para os colaboradores, tais como o uso de máscaras, luvas, gel desinfetante e óculos de proteção (disponibilizadas pela empresa), assim como proteções de acrílico nas caixas de pagamento; os nossos clientes também tinham e têm à sua disposição gel desinfetante e luvas na entrada da loja e papel para desinfetar o manípulo do carrinho;  e nas próprias lojas foram aplicadas medidas extra de desinfeção, limpeza e a garantia de distâncias de segurança e entrada dos clientes.

 

Com o Covid-19 têm-se afirmado ainda mais como uma empresa com uma forte responsabilidade social. É este compromisso solidário que pretendem manter?

Temos como objetivo “partilhar com a sociedade parte do que dela recebemos”. Na Mercadona movemo-nos por este espírito de partilha com a sociedade onde estamos inseridos, motivo pelo qual reforçámos o nosso plano de responsabilidade social durante esta situação, que começou como uma crise de saúde e que já se tornou um problema económico e social. Neste aspeto, avançámos com a criação de uma linha de liquidez, junto dos bancos, para os nossos fornecedores no valor de 2.100 milhões de euros e continuamos com o nosso compromisso de ajudar a sociedade através das doações de bens essenciais.

Neste sentido, temos mantido contacto regular com as entidades que beneficiam destas doações, com o objetivo de conhecer, em primeira mão, as suas necessidades e acompanhar a situação de perto, doando bens essenciais. Entre janeiro e maio deste ano, foram doados mais de 270.000 quilos de bens essenciais a diversas instituições sociais em Portugal.

 

Doação Cruz Vermelha

Com que instituições têm colaborado e que campanhas têm promovido?

Desde o início que nos unimos à campanha de comunicação da Secretaria de Estado para a Cidadania e a Igualdade sobre a violência doméstica, comunicando nas nossas lojas os números de telefone para pedir ajuda, tendo em conta que as vítimas, nesta situação, estavam fechadas nas suas casas com os seus agressores. Em paralelo, colaborámos com várias instituições sociais aderentes deste programa com doações de alimentos.

Temos colaborado com os Bancos Alimentares Contra a Fome de Porto, Braga e Aveiro, distritos nos quais temos presença, à Cruz Vermelha Portuguesa ou a Cáritas Portuguesa.

Na semana da Páscoa, com o objetivo de proporcionar um momento doce, doamos a estas entidades 20.000 quilos de chocolates e, também, aos profissionais de saúde do Hospital de São João e Hospital das Forças Armadas que estão na linha da frente no combate desta pandemia.

No mês de abril, associamo-nos aos seis Centros de Acolhimento Temporário do Norte do país que acolhem utentes das Estruturas Residenciais para Pessoas Idosas e dos Lares Residenciais infetados com Covid-19. Numa primeira doação foram contabilizados mais de 11.500 quilos de bens de primeira necessidade a estes seis centros, mas continuaremos a realizar doações durante todo o período de implementação dos Centro de Acolhimento.

Mais recentemente, a Mercadona ofereceu 600 unidades de cremes hidratantes aos profissionais de saúde do Hospital das forças Armadas, polo do Porto. Estes cremes ajudaram a mitigar as marcas e a dor depois das horas de duro trabalho com os equipamentos de proteção. Também doámos 500 quilos de alimentos frescos à Associação Novo Futuro, em Vila Nova de Gaia, que ajuda e acolhe crianças em risco.

Além destas doações, colaboramos diretamente a partir das nossas dez lojas com dez Cantinas Sociais de proximidade. Uma colaboração diária, de segunda a sexta-feira, todas as semanas, que consiste na entrega de bens essenciais, alimentares e não alimentares.

 

Concorda que a aposta e apoio de empresas com a magnitude da Mercadona são fundamentais para os produtores nacionais, especialmente em alturas frágeis?

Totalmente de acordo. Na Mercadona temos uma política de apoio ao setor primário muito forte e, atualmente, trabalhamos com mais de 300 fornecedores portugueses, aos quais em 2019 já comprámos mais de 126 milhões de euros. A Mercadona sempre teve presente a preocupação de comprar e gerar riqueza no país onde está presente. Desde sempre que procuramos conhecer o setor primário em Portugal e os diversos produtores que existem de norte a sul do país, incluindo as ilhas. Já em 2016, estivemos a visitar e a percorrer toda a geografia nacional para saber mais e conhecer a situação e os problemas que muitos destes setores apresentavam. Os nossos departamentos de compras fazem um trabalho espetacular, pois estão em permanente contacto com fornecedores portugueses, a trabalhar de forma conjunta, “mão com mão”. É a nossa política de colaboração de longo prazo e a transparência no nosso relacionamento que nos distinguem como empresa do setor.

 

A Elena Aldana veio para Portugal para dar início ao primeiro projeto de internacionalização da empresa. Enquanto mulher, que mais-valias transporta para a visão da Mercadona?

Na minha opinião, e a partir da minha própria experiência de vida, considero que as mulheres têm uma força e coragem difíceis de igualar. Como regra geral e infelizmente, tivemos que lutar ao longo das nossas vidas para demonstrar que valemos pelo menos tanto quanto um homem. Já nos disseram tantas vezes que não conseguimos alcançar algo que acabamos por aceitar esta frase como um desafio, que nos faz crescer e lutar para demonstrar, com isso, que podemos alcançar tudo o que propomos.

Quando cheguei a Portugal, o projeto era uma folha em branco onde tinha que começar a elaborar um plano inteiro, uma estratégia para os próximos anos. Faltavam-me dedos nas mãos para contar o número de vezes que me disseram que o que estava a propor não era viável; isso só me motivou ainda mais para alcançar os meus objetivos e, uma vez alcançados, analisar qual era o próximo desafio. Ser mulher e enfrentar tantos “não” ao longo da minha vida, serviu-me para que hoje um “não” se torne mais numa motivação do que numa deceção.

Eu digo sempre à minha equipa que, todos pensamos que os nossos limites estão a uma certa distância, mas que, quando chegamos lá e começamos a empurrá-los, custa e até dói, mas é uma grande satisfação ver que é possível levar os nossos limites mais além e que, muitas vezes depende dos nossos próprios “travões” mentais e de assumir, de forma errada, que os nossos limites são fixos. Ficaríamos surpresos se soubéssemos tudo o que podemos alcançar.

 

Que características considera imprescindíveis para se ser um bom líder?

Para ser um bom líder, na minha opinião, é preciso ser persistente, lutador e resiliente.  Assim, temos de ser um exemplo para as nossas equipas: não serve dizer se não fazes. Tens de aconselhar com o exemplo: se pedes que se esforcem, tu tens de ser o primeiro a fazê-lo.

Motivam-me muito os líderes que te fazem crescer, os que são grandes profissionais e se esforçam para que tu também o sejas. Eu, pessoalmente, quero a melhor equipa junto a mim e, para isso, necessito que estejam motivados para que queiram chegar a ser os melhores. Só sendo assim, uma grande equipa coesa, a trabalhar como uma Cadeia de Montagem cujas peças estão engrenadas e encaixam na perfeição, sendo capazes também de propor melhoras inovadoras; só assim conseguimos que o efeito seja multiplicador.  Se todos remamos com força na mesma direção, somos mais rápidos e chegamos mais longe do que remando eu sozinha.

Elena Aldana nasceu em Madrid, há 39 anos, economista de formação, viu nas relações internacionais a sua paixão.

Viveu em cinco países diferentes: Espanha, França, Polónia, Brasil e agora Portugal, o que permitiu desenvolver uma capacidade de adaptação e integração a diferentes meios e culturas.

Integrou a Mercadona em 2013, onde tem desempenhado diversos cargos e em 2016, mudou-se para Portugal para dar início ao primeiro projeto de internacionalização da Mercadona. É voz ativa em diversas instituições, nacionais e europeias, em prol de um setor da distribuição mais coeso, que acrescente valor a todos os intervenientes da cadeia: do produtor ao cliente.

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