Para um Envelhecimento Saudável

Os avanços das condições sanitárias e a melhoria das condições assistenciais traduziram-se no último século num aumento da esperança média de vida, estimando-se que dentro de pouco tempo, as pessoas com mais de 65 anos possa corresponder a 1/3 do total da população portuguesa.
Esta alteração demográfica terá consequências políticas, sociais e financeiras desafiadoras para o suporte social e para as famílias, dado o incremento das doenças e fragilidades e consequentemente o nível de dependências.
Já não é mais possível adiar um conjunto de reformas que possam responder às necessidades dos idosos e, incrementar políticas preventivas para uma boa saúde física e mental, e melhorar a capacidade de adaptação, ultrapassando os desafios que o processo de envelhecimento traz, mantendo a autonomia e a independência.
Ao longo dos últimos anos temos sido confrontados com uma sociedade onde o capital financeiro escasseia, servindo aos políticos para justificar a impossibilidade de responderem às necessidades emergentes de grupos sociais vulneráveis e destes, os mais velhos são os mais negligenciados.
Politicas que privilegiem a prevenção na saúde, a educação, a cultura e o bem-estar ao longo da vida poderão ser tradutoras de um melhor Capital Mental.
O Capital Mental engloba o desenvolvimento de uma boa capacidade de adaptação perante situações stressantes que vão ocorrendo ao longo da nossa vida (capacidade de resiliência) e uma contínua aprendizagem ao longo da vida, desenvolvendo uma boa reserva cognitiva.
Desde as idades mais precoces devem existir programas educacionais de promoção de saúde, que integrem o exercício físico, a alimentação saudável, a educação e a interação social.
Os mais biológicos falaram que estamos a esquecer a genética e as doenças. Certamente estas constituem uma peça do puzzle que é necessário valorizar, mas também sabemos que se tivermos uma vida sã (bom exercício físico, aliado a uma alimentação saudável e abstinência de substâncias tóxicas/ drogas), iremos reduzir esse impacto da genética e diminuir a incidência da doença. Neste caso estamos a falar da educação para a saúde e com isso melhoramos a resiliência.
Os mais académicos dirão mas onde entra a cultura? Sabemos hoje que a educação continuada, a música (quer ouvida, mas sobretudo tocada ou cantada), a dança, a leitura, o teatro, o cinema, a pintura, os jogos tradicionais…, constituem um bom exercício cognitivo, que quando desenvolvido ao longo da vida, incrementa uma boa reserva cognitiva que poderá atrasar o início demencial, atrasando o prenúncio genético e contrariando os fatores ambienciais negativo.
Não podemos deixar de referir que o exercício físico faz com que o nosso organismo se ative, libertando endorfinas que melhoram o nosso estado de humor/alegria, tonificando os músculos e, entre estes o coração e, por fim, estimulando o cérebro.
Se desenvolvermos este Capital Mental e, tivermos a sabedoria de valorizar os acontecimentos da vida positivos, desvalorizando os negativos, se tivermos a disponibilidade para partilhar a vida com a família, amigos e vizinhos, se estivermos disponíveis para sentirmos as mudanças que ocorrem à nossa volta e na natureza e formos mais altruístas e generosos, se soubermos esperar para receber as recompensas- hoje em dia temos a geração da internet onde se pode adquirir tudo num ápice- teremos certamente um melhor envelhecimento.
Por fim, não podemos descurar o sentido da espiritualidade, que dá conforto e tranquilidade à mudança operada pela idade e abre janelas para o futuro.
O futuro é já aí, pelo que temos de mudar a atitude de esperar que os outros nos tragam a felicidade desejada e devemos ser nós a prepará-la.

 

Artigo de Horácio Firmino, psiquiatra no Hospital da Luz em Coimbra e Constança Casas, psicóloga no Hospital da Luz em Coimbra.

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