O segredo está na simplicidade

Estivemos à conversa com o arquiteto Sérgio Vieira Barbosa que defende que a arquitetura deve ser marcada pelo design de formas puras, simples e refinados, utilizando a luz.

Sérgio Vieira Barbosa, Arquiteto

Dedica-se à “ARTE” da arquitetura há quase 30 anos e afirma que tem um propósito maior. Qual é o legado que pretende deixar para as próximas gerações?

A arquitetura, como em todas as artes, tem como missão contribuir para a evolução da humanidade. Se através do meu trabalho e do que faço, puder contribuir para esse legado de evolução, sinto-me realizado.

Acredita que ser arquiteto “é poder fazer mais e melhor para os outros” e foca-se nos equipamentos públicos, como centros de dia, IPSS ou lares de idosos. A componente social é importante para si?

Na sequência da pergunta anterior, é neste tipo de programa (encomenda) que me sinto mais realizado por ser um desafio muito mais complexo do que pode às vezes parecer. São desafios em que sei que vai haver um impacto real e profundo numa comunidade. Por ser um desafio, o meu projeto vai ter que responder a necessidades, exigências, especificidades que obrigam a um exercício intelectual complexo, mas que quando superado e conseguido, traz um tremendo “gozo”, passo a expressão.

A empresa dedica-se exclusivamente a este tipo de projetos?

Não, de todo! Aliás, olhando para o passado do atelier, que oficialmente tem 12 anos nos moldes atuais, na realidade tem mais de 20 de experiência. Temos projetos na área do turismo, onde comecei com trabalhos de alguma dimensão, em parceria com outras empresas e hoje tenho algumas intervenções mais pequenas, de turismo rural e alojamento local, que me continuam a entusiasmar muito, equipamentos desportivos que vão desde pequenos ginásios de fitness até de maior dimensão, como clubes de Fitness e até complexos desportivos urbanos, intervenções em contexto urbano como sendo remodelações de áreas públicas e equipamentos públicos, como por exemplo cemitérios, requalificações urbanas, propostas para planos de pormenor, entre outros. Mais recentemente fizemos um estudo para uma ecovia, e outros de maior ou menos envergadura, mas que mais uma vez me atraem por serem algo que tem uma ação. Estas interligações são extremamente aliciantes.

 

Ao analisarmos o seu trabalho, percebemos que defende uma arquitetura, utilizando as suas palavras “de soluções puras, simples, refinadas pela luz” … pode-nos explicar melhor o que define este conceito?

Quando comecei a minha formação nos anos 90, a arquitetura era “mais pura”, no sentido em que não tínhamos acesso a tantos materiais de construção, softwares, soluções construtivas e onde a construção apoiava-se muito na arte e engenho de todos os técnicos. Hoje temos acesso a uma diversidade de soluções informáticas, construtivas e especialistas, o que nos permite concretizar os nossos “sonhos mais atrevidos”. A nossa escala literalmente, passou da régua e esquadro para um contexto de trabalho em que a escala só depende da nossa capacidade de utilizar tudo o que quisermos. Acredito que a boa arquitetura se vê quando a obra ainda está ainda em cru e o que acrescentarmos deve ser só para a tornar mais confortável e quando muito, ajudar a salientar a boa arquitetura que já lá está. Ao defender a simplicidade, defendo que devemos pensar no fundamental, que tem que ter força, ou seja, identidade por si só e onde a luz tem o papel fundamental, para dar sentido ao todo e para dar carácter aos espaços. Também é muito importante ser coerente com a encomenda que me é entregue, respeitando o orçamento, as necessidades, a vontade do cliente, os objetivos a atingir e os enquadramentos legais dos mesmos.

 

A sua missão é “pensar a arquitetura apoiada por uma plataforma multidisciplinar”. Como é que a põe em prática?

Não é uma missão, mas a única maneira que sei trabalhar. Desde sempre aprendi a trabalhar com técnicos de diversas áreas onde apoio o meu projeto. O apoio técnico dos profissionais acompanha-nos ao longo de todo o processo e só assim me sinto confortável. Esse método de trabalho permite que a insegurança que muitas vezes assola o cliente, seja minimizada, porque sabe que tem o apoio de todos. Inevitavelmente aparecem problemas no decorrer dos processos. Na nossa empresa temos engenharia, paisagismo, topografia, fiscalização, gestão e coordenação de obra, apoio à construção, estabelecemos parcerias com solicitadores e apoio jurídico e, sempre que necessário, recorremos a serviços externos para questões especificas, como arqueologia, ambiente, sustentabilidade, ambiente, desporto, turismo, indústria e financiamentos, para mencionar alguns.

 

A curto prazo, quais os objetivos mais importantes para a empresa?

Os nossos objetivos assentam em três vertentes. Uma que estamos a fazer desde 2021, é mudar a orgânica interna por forma a nos adaptarmos às novas realidades pós-pandemia, fortalecer a nossa capacidade de poder trabalhar em qualquer parte do país e do mundo, sem desvirtuar a nossa maneira de trabalhar original. Estabelecer princípios de atuação e sabermos ser flexíveis conforme as diversidades que vão aparecendo. Em segundo lugar, estamos a fomentar um conjunto de parcerias nacionais e estrangeiras para alargar a nossa área de atuação, focando-nos no mercado nacional, porque acreditamos que o nosso país, embora muito pequeno, tem boas ofertas para investidores nacionais e estrangeiros. Numa terceira vertente, pretendemos formar quadros nas áreas que para nós são fundamentais, investir na modernização das nossas ferramentas e ter uma rede de parceiros forte que se enquadrem com a nossa filosofia empresarial. Acredito que vamos viver tempos imprevisíveis e só com uma base sólida, acreditando nos nossos valores, reforçando conceitos e saber ser resilientes é que os vamos conseguir superar.

 

 

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