Musami: Reutilizar para criar valor

Carlos de Andrade Botelho, diretor geral da MUSAMI, explana, na entrevista à Revista Business Portugal, o conceito da economia circular e os passos que deverão ser dados para que haja sustentabilidade para as populações mundiais.

Sendo a economia circular um dos principais temas desta edição e no papel de diretor geral de MUSAMI, como define Economia Circular?
A economia circular é um ato de amor. Quando amamos gera-se uma harmonia com o que nos envolve. Se concebermos produtos com a preocupação de harmonia com o ambiente, termos em conta todo o ciclo de vida do produto, o que nos conduzirá a exigir menos da natureza e de, no fim da sua vida, devolver à natureza o que dela retiramos, ou pelo menos substituir, como matérias-primas secundárias o que as novas produções vão requerer. Podemos estar a falar de recursos biológicos que podem ser tratados de forma a devolver carbono e outros nutrientes aos solos, reduzindo a mineralização dos solos e mantendo as suas capacidades agrícolas. Para outros materiais também podem ser reciclados e reintroduzidos em processos industriais. Mas há questões muito exigentes para pensarmos a economia circular que é aumentar a vida útil e reparabilidade dos produtos, um fator muito importante nos equipamentos elétricos e eletrónicos. A economia circular é uma economia que exige pouco da natureza e que redefine comportamentos, desde logo, no conceito dos produtos e na sua produção e comercialização, passando depois pelo consumo e por uma atitude assertiva quanto ao encaminhamento adequado no fim da vida.

Existe um longo caminho a percorrer no que diz respeito a esta questão da economia circular. Acredita que a mudança de mentalidades será o ponto de partida?
Existe um longo caminho que tem de ser percorrido e com muita rapidez. O aumento rápido da população mundial e da redução da pobreza exercem uma pressão muito acentuada sobre os recursos. Algumas políticas típicas da sociedade de consumo não trazem para os produtos o seu custo ambiental, pelo que não apelam a uma mudança de atitudes. Por isso, vamos ter mudanças acentuadas nos próximos anos.

Que influência/impacto tem este tema para a economia, sociedade e meio ambiente?
A escassez de recursos traz uma forte pressão sobre os preços das matérias-primas que se traduzirá por alterações relativas dos seus preços. Estes problemas gerarão tensões nos mercados que trarão novas oportunidades de negócio com novas soluções e ruturas tecnológicas. Ao nível da engenharia dos materiais e da biotecnologia vamos assistir a uma transformação que trará novos atores e novos produtos passando por uma alteração relativa das vantagens concorrenciais dos países. É muito importante acompanhar e responder aos problemas presentes com soluções e não com desânimo e catastrofismo.

Quais os maiores desafios sentidos no setor atualmente e o que seria necessário para cumprirmos essas metas?
O setor dos resíduos é muito regulado e tem poucas fontes de receita e estas são duas condicionantes do seu desenvolvimento. Se tiver, hoje, uma solução promissora e quiser experimentá-la, aparecerá um regulador conservador a dizer que não pode fazê-lo. O mundo não evolui assim. É necessário trazer inovação ao setor e as autoridades e reguladores devem apoiar esta atitude. Esta será outra revolução que terá de se verificar. O setor dos resíduos podia aproveitar as suas instalações para o desenvolvimento de novas tecnologias por universidades e empresas tecnológicas para produzir tecnologia nacional exportável. Este ambiente não está ainda criado, mas poderia trazer vantagens para as empresas nacionais. A questão das metas está muito associada ao que nós somos enquanto povo, a nossa cultura e valores sociais. Não me parece que exista um desígnio nacional para a economia circular. Enquanto a população não quiser contribuir para a harmonia com o ambiente, não se pode considerar que faltam tecnologias ou sistemas de tratamento. Está muito longe de ser esgotada a capacidade de tratamento dos sistemas valorizarem resíduos, mas se as famílias e as empresas não iniciarem um processo generalizado de contribuir para essa visão, os resultados serão sempre tímidos e as metas ficarão por atingir.

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