Medtronic: Líder mundial em tecnologia médica

Luís Pereira - General Manager

Luís Pereira, general manager da Medtronic, revela à Revista Business Portugal como se alcança a liderança mundial em tecnologia médica. Uma entrevista obrigatória numa edição com especial enfoque à saúde.

A Medtronic é uma empresa com mais de 60 anos, líder mundial em tecnologia médica. Qual a vossa missão e valores pelos quais se regem?

Na Medtronic trabalhamos diariamente, de forma ética e responsável,  para garantir que todos os doentes têm igual acesso à inovação terapêutica, que lhes são disponibilizadas as melhores soluções de tratamento de acordo com a sua condição, e que os profissionais de saúde têm o conhecimento e a experiência necessárias para lidar com as mais recentes técnicas em saúde. Também é para nós fundamental que os decisores e governantes nacionais nos vejam como parceiros na procura por um sistema de saúde mais eficiente. E é nesse sentido que queremos ser pioneiros na concretização de projetos de valor acrescentado, assentes nos resultados dos nossos produtos. Temos no nosso ADN o conhecimento, a experiência e a vontade para desenvolver as técnicas mais inovadoras em cada uma das áreas terapêuticas para as quais apresentamos soluções. Paralelamente também temos um forte compromisso com os doentes e é por isso que buscamos as melhores opções de tratamento passíveis de lhes ‘aliviar a dor, restabelecer a saúde e prolongar a vida’. São estes valores que fazem da Medtronic uma empresa líder em Portugal e um dos maiores fornecedores hospitalares – em volume e na capacidade de gerar inovação –, com um crescimento acima do mercado, um sucesso do qual muito nos orgulhamos.

Como estão organizadas as soluções terapêuticas que a Medtronic disponibiliza? E quais são os principais produtos?

A Medtronic está atualmente organizada em quatro grandes grupos de áreas de negócio, para as quais disponibiliza vários produtos e soluções terapêuticas: o CardioVascular Group (CVG), que reúne terapêuticas como o pacing, eletrofisologia, hemodinâmica, cirurgias cardíacas e vasculares, entre outras; o Restorative Therapeutic Group (RTG), do qual fazem parte, por exemplo, a neurocirurgia, a cirurgia à coluna, o tratamento de dor, a incontinência gastro urológica, a ORL, a navegação, o tratamento de AVC. Temos ainda o Minimum Invasive Therapies Group (MITG), que engloba todas as técnicas avançadas e convencionais de cirurgia, material essencial ao bloco operatório, e outras; e a área da Diabetes, que foi iniciada apenas com a diabetes tipo I (disponibilização de bombas de insulina e sistemas de monitorização da glicose no sangue) mas que atualmente apresenta soluções inovadoras também para a diabetes tipo II. Paralelamente, estamos ainda a desenvolver a Integrated  Health Solutions (IHS), uma área de serviços que visa ajudar a tornar efetiva a qualidade dos procedimentos e a eficiência hospitalar. Todos os nossos produtos são importantes e alcançam excelentes resultados. No entanto, penso que é importante salientar alguns dos nossos mais recentes casos de sucesso: a CoreValve, uma válvula cardíaca que se implanta no coração através de um cateter, sem necessidade de cirurgia cardíaca, evita, desta forma, os efeitos secundários e agressivos que uma intervenção desta natureza acarreta para os doentes. A Activa, um gerador  de estimulação cerebral profunda que reduz os sintomas de distonia, torna os doentes mais autónomos e possibilita-lhes caminhar e movimentar-se de forma equilibrada e segura. O Micra é o pacemaker mais pequeno do mundo. O LinQ, que faz o registo de eventos cardíacos, é injetável subcutaneamente e por isso não requer intervenção cirúrgica. O LigaSure é o nosso sistema de energia bipolar modificada para selar vasos que garante altíssima qualidade e segurança durante a cirurgia. O-Arm é um sistema de navegação de raio-X a três dimensões. As bombas de insulina MiniMed, em conjunto com sistemas de monitorização contínua da glicose, constituem uma real substituição do pâncreas. O Sistema BIS controla a profundidade anestésica dos doentes durante a cirurgia, e é por isso uma inovação indispensável para a qualidade cirúrgica.

Qual é o acesso que os portugueses têm à tecnologia da Medtronic?

A maior parte dos produtos  da Medtronic são de utilização hospitalar e, por isso, são os profissionais de saúde e especialistas das áreas para as quais temos soluções terapêuticas os prescritores das nossas técnicas. São estes profissionais que têm o conhecimento e a competência profissional para o fazer mas também são os próprios que reconhecem a eficácia e impacto positivo que as nossas opções de tratamento têm na promoção de uma melhor saúde e de uma maior qualidade de vida dos doentes. Contudo, a decisão da compra depende sempre dos orçamentos hospitalares, sujeitos aos processos legais de contratação pública e privada, que como sabemos têm bastantes restrições orçamentais, tornando o processo de escolha relativamente às opções tecnológicas muito mais criterioso. Cremos que os profissionais de saúde e os sistemas de saúde em Portugal caminham no sentido de encontrarem sempre opções terapêuticas ajustadas a cada doente. E, em conjunto com eles, procuramos sempre garantir que o acesso é o mais universal possível. Desta forma, oferecemos o treino necessário aos profissionais de saúde, para que as tecnologias sejam sempre o mais eficazes possível. Em Portugal existem grande profissionais, quer na prestação de cuidados, quer na gestão da saúde, mas temos ainda um caminho a percorrer se queremos alcançar as mesmas taxas dos países mais desenvolvidos em termos de tecnologia de ponta.

É também fundamental que os portugueses estejam informados sobre a sua doença e quais as melhores soluções disponíveis para o tratamento da mesma. O doente desempenha cada vez mais um papel crucial na promoção da sua saúde porque existe, atualmente, muita informação disponível em qualquer canal ou plataforma. Também cabe ao doente investigar, saber filtrar, questionar e sentir-se confiante com a solução apontada pelo clínico. O doente deve perceber claramente qual é a especialidade médica mais adequada, quer para acompanhar a sua condição, quer para lhe indicar os melhores tratamentos disponíveis no mercado. Este conceito de patient empowerment não é somente o direito que doente tem de exigir o acesso aos melhores cuidados de saúde, é também o compromisso de seguir criteriosamente o tratamento que lhe é prescrito e abster-se de comportamentos que comprometam a sua saúde.

Relativamente ao estado da saúde no nosso país, quais são, no seu entender, os principais desafios que enfrenta atualmente e que poderá enfrentar futuramente?

Dado o curto ciclo de vida que as tecnologias médicas têm, todo o processo de entrada de mercado tem que ser célere, caso contrário o país corre o risco de não acompanhar o desenvolvimento tecnológico da saúde. Mas as empresas e os prestadores de saúde terão também de ser capazes de ir demonstrando o valor das tecnologias, através da medição do resultado clínico a que se propõem. Esta avaliação contínua das tecnologias de saúde é um grande desafio para todos os intervenientes. Paralelamente, e tal como é do domínio público, existe um grave problema no financiamento da saúde. No geral dos países da União Europeia, o cidadão português é dos que mais contribui diretamente no co-pagamento dos seus cuidados de saúde e o Estado Português é dos que menos percentagem do seu orçamento reserva para a saúde pública. O desafio é encontrar o equilíbrio sem esquecer, claro, a procura pela maior eficiência possível.

Para os próximos anos, quais as perspetivas ou projetos delineados no sentido de potenciar as soluções da Medtronic? Quais os principais objetivos?

A Medtronic está disponível para desenvolver mais parcerias no sentido de ajudar as unidades hospitalares a serem mais eficientes porque acreditamos que este caminho favorece uma maior eficácia das tecnologias. E é por esta razão que estamos a trabalhar no sentido de introduzir nos processos contratuais formas de partilha de risco em troca do aumento do tempo contratual. Esta solução permitirá uma melhor avaliação do valor aportado para o doente, ou seja, que cada euro gasto representa mais valor de saúde para o doente. Temos presente que os modelos de negócio terão de evoluir no sentido do Value Based Health Care, conceito preconizado por Michael Porter.

Quais são as suas preocupações relativamente ao estado da saúde em Portugal?

Discute-se muito sobre a sustentabilidade do SNS, mas é preciso ter presente que para que o SNS seja sustentável deve garantir-se também a sustentabilidade de todos os agentes na área da saúde, nomeadamente a dos fornecedores. Em termos económicos, Portugal parece estar bastante longe da realidade grega, mas é um facto que na área da saúde, só estes dois países apresentam prazos de pagamento tão dilatados, acima dos 250 dias. As empresas têm conseguido manter em Portugal o reconhecimento das suas vendas, mas esta fotografia tem de melhorar rapidamente. Diretamente ligado a esta realidade está o subfinanciamento público da saúde, um problema que requer análise célere porque é necessário que, com urgência, se dedique uma maior percentagem do Orçamento de Estado à área da saúde.

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