Malnutrição: A Nutrição Clínica é um direito que (ainda) não está acessível aos portugueses

João Carlos Serra, Sales & Marketing Director Enteral Nutrition and Outpatient Market da Fresenius Kabi Pharma Portugal

Os profissionais de saúde, entre eles os nutricionistas, médicos, farmacêuticos e enfermeiros, demonstram cada vez mais uma maior sensibilização para a importância de incluir os cuidados nutricionais nos tratamentos globais de cada doente.
Mas não são só os profissionais de saúde, também os doentes, os seus familiares e cuidadores procuram mais informação relativa à nutrição clínica, com o objetivo de gerir os seus sintomas de impacto nutricional e de ter acesso a melhores e mais adequados cuidado de saúde. Apesar do crescente interesse, as barreiras para a implementação de uma adequada e atempada terapêutica nutricional na gestão da malnutrição associada à doença, persistem.
Começando, desde logo, pela falta de conhecimento entre os profissionais de saúde, que de uma forma transversal necessitam de formação contínua sobre as diretrizes e recomendações nutricionais, já que nos seus currículos académicos a nutrição clínica não está incluída. Urge que a formação académica dos profissionais de saúde inclua tópicos como a gestão nutricional da malnutrição e respetiva terapêutica com recurso a suplementos nutricionais orais, bolsas de nutrição entérica por sonda e/ou sacos de nutrição parentérica. A formação dos profissionais de saúde é, desta forma, um pilar estrutural, o qual consideramos como uma alavanca de melhoria no acesso aos cuidados nutricionais nos anos vindouros, e no qual iremos continuar a investir. Iremos continuar a apostar na formação continuada dos profissionais de saúde, que procuram cada vez mais informação, robusta e credível, sobre nutrição entérica, oral e sonda, e nutrição entérica e parentérica.
E estamos a apoiar vários projetos para que, desde o início do seu percurso profissional, todos os profissionais de saúde possam ter acesso à evidência mais recente e às guidelines nesta área clínica, e que as consigam integrar nas suas práticas diárias de acompanhamento clínico. Acreditamos que a investigação clínica, a par da formação, é essencial para que as boas práticas nutricionais sejam efetivamente implementadas e disseminadas.
Nesse sentido, apoiamos, de forma pioneira, diversas sociedades médicas com Prémios e Bolsas Anuais de Nutrição Clínica que prestigiam os melhores trabalhos na área da terapêutica nutricional em Portugal.
Constatamos que estamos longe de conseguir que todos os doentes portugueses, que necessitam destas terapêuticas, tenham uma acessibilidade, não só de forma equitativa, mas também justa, aos produtos e serviços que necessitam para cumprir as suas terapêuticas nutricionais.
Contudo, existem serviços de apoio ao domicílio, no caso da Nutrição Clínica o serviço KabiCare, o qual pode e deve ser recomendado a todos os doentes malnutridos ou com risco nutricional que necessitem de nutrição clínica, para que após a alta hospitalar a terapêutica nutricional não tenha de ser descontinuada, com o impacto negativo amplamente conhecido na recuperação do doente e no aumento das complicações clínicas, com consequente aumento dos custos de saúde.
É de louvar todos os esforços que as diversas sociedades e associações médicas e profissionais, têm feito, ao longo dos últimos anos, para ativar e estimular a nutrição clínica, nas suas diversas vertentes, assim como para que os seus membros possam contribuir, de forma mais efetiva, para a malnutrição seja diagnosticada e que os doentes malnutridos ou em risco de malnutrição tenham acesso a um atempado acompanhamento nutricional. Têm igualmente trabalhado arduamente para que o vazio legal, relativo à falta de acessibilidade da nutrição clínica em Portugal, deixe de ser uma realidade em breve.
Se noutros países europeus, a acessibilidade à nutrição clínica, no ambulatório/domicílio, é uma realidade legislada há décadas, em Portugal continuamos sem comparticipação às terapêuticas nutricionais e sem perspetiva de quando poderá passar a ser uma realidade efetiva para todos os doentes que necessitam delas para obter um adequado estado nutricional.

MALNUTRIÇÃO
Não será por falta de empenho das sociedades médicas e associações de doentes, por isso continuamos a questionar-nos porque é que a acessibilidade para a nutrição clínica em Portugal não é ainda uma realidade?
Temos acesso à evidência clínica extensa e robusta, assim como exemplos de diversos países, que demonstram a eficácia, não só nos parâmetros clínicos como económicos, da melhoria alcançada com uma adequada terapêutica nutricional. Verificamos, assim, que a alteração e reforma de medidas governamentais, relativas à nutrição clínica, iriam contribuir para uma melhor gestão dos recursos humanos e financeiros das instituições de saúde.
Sabemos, também, que as adequadas terapêuticas nutricionais permitem melhorar o estado nutricional dos doentes, o que leva a uma melhoria da tolerância e eficácia das terapêuticas farmacológicas (muitas vezes, muito dispendiosos), tendo ainda um impacto significativo e positivo na qualidade de vida dos doentes e familiares, pela redução da mortalidade e morbilidade, como infeções e dificuldade na cicatrização de feridas, e pela melhoria na mobili- dade e independência destes doentes.
Reformulamos assim a nossa questão: o que faltará para que as entidades decisoras em Portugal possam olhar para a acessibilidade da nutrição clínica como um direito que devem garantir aos seus doentes? Não temos ainda uma resposta, mas estamos certos do nosso caminho e manteremos a motivação para cuidar da vida de todos os doentes. E tudo faremos, ao nosso alcance, para que a nutrição clínica e os profissionais que se dedicam a esta causa possam alcançar a valorização que a nutrição entérica e parentérica merecem e a acessibilidade vital para os doentes que delas necessitam.

 

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