JBI GROUP: O grupo de empresas cujo ADN está na terra

É em Tavira que podemos encontrar o JBI Group, um grupo de empresas totalmente dedicado à produção de framboesa, abacate e mirtilo. Com a área de cultivo da framboesa estabilizada, é nos abacates que João Bento Inácio, fundador das empresas, aposta. Até ao final do próximo ano, o JBI Group vai plantar mais 100 hectares (ha) deste fruto a juntar aos 120 ha que já apresenta. A Revista Business Portugal foi conhecer este projeto, que nasceu de um sonho do filho de agricultores, apaixonado pela terra e pelo Algarve.

Aos 20 anos de idade, João Bento Inácio, decidiu dedicar-se à agricultura a tempo inteiro e instalou-se por conta própria. “Na altura candidatei-me a um projeto apoiado pela comunidade europeia, para plantação de hortícolas, com apenas 3000 m2. Durante a década de 90 até ao ano de 2000 a área total explorada foi de sete hectares, tendo-se mantido até 2010. Com a abertura das fronteiras, em 1986, e a perda progressiva de rentabilidade das hortícolas cultivadas na região do algarve, e que eram valorizadas até então por serem as primeiras a serem produzidas e a chegar aos principais mercados do país e às grandes metrópoles de Lisboa e Porto, surgiu a necessidade de organizar a produção e de criar massa crítica, de modo a atuar de forma distinta e, em simultâneo, chegar a outros mercados que valorizassem os excelentes produtos que produzíamos. Em 1996, em conjunto com outros produtores da região algarvia, fundámos a Organização de Produtores (OP) Madre Fruta.
Cada vez se trabalha melhor na agricultura, quer ao nível de novas tecnologias, desde os sistemas de rega aos nutrientes, quer ao nível da maquinaria utilizada, que otimiza a produção”. Atualmente todos estes processos são realizados com a ajuda de máquinas que utilizam tecnologia de ponta e um bom exemplo disso são os sistemas de rega. “É possível monitorizar a rega e a introdução de nutrientes ao segundo e programar as quantidades necessárias mediante o crescimento da cultura evitando o desperdício, baixando os custos de produção, tornando, consequentemente, a produção mais eficiente”.
Com o decorrer dos anos, foi necessário pensar na internacionalização e em novos produtos. “Procurei culturas alternativas às hortícolas produzidas na altura e reconverti algumas áreas na produção de morango em hidroponia. Mantivemos esta dualidade de culturas até 2008, mas sempre em busca de melhorar e otimizar as produções. Em simultâneo, realizámos alguns ensaios com o objetivo de compreender o comportamento da framboesa no Algarve. Os resultados foram excelentes e começámos, quase de imediato, a aumentar áreas de produção, tendo a partir de 2010/11, a estratégia, passado exclusivamente pela framboesa.
As áreas de cultivo começaram a crescer e em 2016 totalizávamos 35 hectares de produção. Crescemos em Faro, onde temos atualmente 11 hectares, e em 2013 começámos a trabalhar uma antiga exploração de citrinos, em Tavira, onde investimos em 15 hectares. Posteriormente, no ano seguinte, expandimos para a Zambujeira do Mar com mais nove hectares onde incluímos também a produção de mirtilo. Uma vez estabilizada, pretendemos manter a área atual de produção de pequenos frutos, não havendo, para já, previsão de aumento de áreas destas culturas”.
Sentindo a necessidade de diversificar a produção o CEO do JBI Group decidiu investir numa nova cultura. “Em 2014 decidi avançar com a plantação da cultura do abacate em apenas quatro hectares, no ano seguinte plantei mais 21 e tenho vindo a aumentar ao longo dos anos. Atualmente, tenho 120 hectares de abacates plantados em seis quintas entre Tavira e Castro Marim e o projeto até 2020 incluem mais 100 ha de investimento”.

A fomação é um passo fundamental
Na framboesa e mirtilo, a eficiência passa por contratar o número suficiente de pessoas para realizar as campanhas que, quando atingem o seu pico, chegam a ter entre 600 a 700 pessoas a trabalhar nas diversas quintas. “Para que a equação resulte da melhor forma é necessário ter uma logística muito bem organizada. São três as fontes de contratação de mão de obra, nomeadamente habitantes locais, trabalhadores provenientes de empresas de trabalho temporário e trabalhadores recrutados pela OP Madre Fruta oriundos principalmente da Bulgária, Roménia e Ucrânia. Neste último caso a logística aumenta porque queremos garantir que os trabalhadores se sentem em casa e que são bem acolhidos. Fazemos questão de recebê los no dia da chegada e de instalá-los na casa onde irão residir, onde os aguarda uma primeira refeição já preparada. Posteriormente, acompanhamo-los às compras de bens alimentares e de primeira necessidade começando assim a adaptação aos locais e às rotinas. Muitos acabam, inclusivamente, por ficar”.
A formação, relativamente à colheita de fruta, à higiene e segurança alimentar e aos procedimentos pós-colheita a adotar, é fundamental para que a fruta chegue nas condições devidas ao armazém e se consiga obter o máximo de rendimento da sua colheita: “a fruta é avaliada mediante parâmetros de qualidade e para nós é fundamental que a qualidade seja elevada, pois colocamos um excelente produto no mercado e o valor de transação é mais alto”. Toda a fruta está certificada em GLOBAL GAP, GRASP e TESCO. Todas as infraestruturas e produção de pequenos frutos estão seguradas.

“A minha equipa é a base do sucesso das empresas JBI Group”
A responsabilização e a delegação de tarefas são o lema da empresa. “Tenho responsáveis e equipas de supervisores na exploração que monitorizam todas as tarefas e colheitas de forma a otimizá-las e, para além disso, motivamos os trabalhadores com prémios de produtividade e de equipa. É essencial manter os trabalhadores motivados e fazemos questão que se sintam integrados, por isso, mantenho grande parte da equipa quase desde o início e faço questão de reforçar que eles são a base do sucesso do JBI Group. Tenho cerca de 200 trabalhadores fixos a trabalhar todo o ano, mas esse número aumenta para o triplo no pico das campanhas”.

O mercado ainda não está saturado de abacate
A produção do abacate continua a ocupar uma grande parte dos terrenos do JBI Group e o mercado continua a pedir esta fruta.
A concorrência não está nos produtores nacionais. “Nós somos colegas de produção, não somos concorrentes, a nossa concorrência está fora do país e é essa a mensagem que temos passado a todos os produtores nacionais”. Na Europa só se produz abacate em Espanha, Portugal e na ilha Sicília em Itália. No caso de Portugal, a campanha coincide com a de Espanha, nomeadamente Málaga, “a nossa produção fica pronta nos meses de dezembro a abril e felizmente tem havido mais procura do que oferta, o que é muito positivo para nós. O abacate é o único produto agrícola que, nos últimos 12 anos, tem subido o preço médio pago à produção, tendo o seu consumo subido 176 por cento, na Europa, nos últimos dez anos. A América do Sul produz num ciclo contrário ao nosso, excetuando a nossa grande concorrente, a Colômbia, que produz exatamente na mesma altura que nós e estão a ampliar a sua área de produção. O Chile e Perú têm ciclos contrários ao nosso, à semelhança da República Dominicana e ao maior produtor mundial de abacate que é o México”.
O consumo de abacate está a aumentar no mundo inteiro e João Bento Inácio acredita que está a apostar numa cultura com futuro. “Portugal é um concorrente que tem muito potencial mas, para já, o nosso crescimento (a nível mundial) corresponde a milésimas. Não podemos olhar apenas para o mercado interno e europeu, temos de atravessar fronteiras e traçar objetivos a nível mundial porque a nossa produção é pequena, mas a qualidade dos nossos frutos é reconhecida e muito apreciada. Temos dos melhores citrinos do mundo, o abacate é muito apreciado, bem como a framboesa. Há muitas pessoas que afirmam nunca terem comido uma framboesa tão boa como a nossa e acredito que a diferenciação provém das condições edafo climáticas extraordinárias que temos nesta região, é necessário potenciar as mesmas de uma forma sustentada e equilibrada, tornarmos a agricultura do Algarve mais forte quer social quer economicamente para a região e, consequentemente, para o país”.

Novo ano, novas culturas
De olhos postos no futuro, o CEO do JBI Group, quer apostar na produção de um novo fruto: a manga. “Nestes últimos dois anos, concretizámos com sucesso uma área experimental, pelo que decidimos, em 2019, investir em três hectares de produção de manga. Acredito que temos condições muito favoráveis para produzir mangas de excelente qualidade e apesar da manga ser muito sensível às amplitudes térmicas acredito que é uma boa aposta. Temos de nos adaptar e escolher as zonas com microclimas que se coadunam com as exigências da produção deste fruto e tirar a maior rentabilidade possível”.

O pequeno agricultor que criou o JBI Group
O crescimento foi acontecendo de forma natural, tanto na contratação de pessoal como na aquisição de terrenos de produção. “É uma questão de organização porque temos tempo para tudo e tive a sorte de encontrar pessoas extraordinárias que ainda hoje compõem a equipa do JBI Group, mas também apresento boas condições laborais e dou-lhes autonomia para fazerem o seu trabalho sem estarem dependentes de mim. Traço objetivos para o futuro e transmito-os porque considero que é essencial toda a equipa saber qual o rumo traçado para a empresa onde trabalha. Encaro as dificuldades que encontro como um desafio e os desafios são novas oportunidades para crescermos e evoluirmos com mais e melhor organização”.

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