Ganadaria Condessa de Sobral – o ‘torrestrella português’ dos Montezes

Bem junto do rio Guadiana, perto de Beja, encontramos as herdades de Montezes e Varginha onde pasta a ganadaria brava Condessa de Sobral. Constituída em 1880 falámos de uma exploração dedicada à criação do toiro bravo, que tem atravessado fronteiras, escrevendo-se a sua história tanto em Portugal, como em Espanha. Hoje o principal objetivo da ganadaria é recuperar um encaste emblemático, melhorando-o e criando o próprio “Torrestrella Português”.
A história mais recente da Ganadaria Condessa de Sobral narra-se com o início do novo século, quando em 2001 todo o efetivo da exploração foi substituído progressivamente por vacas e sementais de Torrestrella. Nessa altura, a propriedade foi adquirida pela Herdade dos Montezes – Agricultura e Produção Animal Sociedade Unipessoal Lda, esta administrada por D. Alvaro Domecq Romero, que adquire 60 vacas de “Torrestrella” e mantém 60 vacas de D. Joaquim Sobral, procedência Jijona. Esta última seria totalmente eliminada em 2006.
Assim se começavam a dar os primeiros passos na introdução de um encaste com origem em Espanha, que viria a ser incrementado, quando em 2015 a sociedade foi adquirida pela família Vázquez Gavira, administrada por D. Manuel Vázquez Gavira, que desde essa altura tem impulsionado a ganadaria com o encaste Torrestrella, tendo adquirido um lote de vacas e sementais desta linhagem pura.
“Queremos continuar a lutar por este encaste criado por D. Alvaro Domecq. Falamos de um toiro único e diferente que apresenta uma enorme nobreza e mobilidade durante a lide. Apesar de termos adquirido esta propriedade à família Domecq, continuamos a ser assessorados por D. Alvaro, uma visita assídua da Herdade dos Montezes, pretendendo criar uma linhagem Torrestrella exclusivamente portuguesa. D. Alvaro Domecq foi o criador deste encaste em Espanha, portanto para além de ser nosso amigo, continua a ajudar-nos na nossa missão de melhorar e criar o ‘Torrestrella Português’. Esta é a sua casa de sempre. Aliás quando decidimos comprar esta herdade, mantivemos esse trato de prosseguir o seu trabalho no que se refere ao toiro de linha Torrestrella”, refere o administrador Manuel Vázquez Gavira.
A família Vázquez Gavira dedica-se desde sempre à criação de gado manso e gado bravo, sendo proprietária de inúmeras herdades em Espanha, como nos revela Manuel Vázquez Gavira: “Efetivamente somos agricultores e ganadeiros em Espanha, e agora em Portugal. O meu avô Salvador Gavira foi um ganadeiro espanhol importante, criador também ele de um encaste próprio, mais propriamente a linha Gavira”.
Fundada em 1880 por Filiberto Mira de Olivenza (Badajoz) com reses de casta jijona procedentes de Marquês de la Conquista e aumentada por António Soler (1902) com outras reses de Campos Varela, às quais sua viúva, Casimira Fernandez Soler, agrega sementais Conde La Corte, assim se escreve o início desta exploração dedicada à criação do toiro de lide.
Em 1937 a ganadaria foi adquirida à viúva de Soler por D. Cláudio Moura, que aumenta o efetivo com sementais Conde La Corte. Mais tarde, já na década de 50, após introdução de sementais Conde La Corte e Dr. Silva, foi a ganadaria vendida a D. Diogo d’Affonseca Passanha que aumenta com reses de Urquijo (1957), sendo a mesma dividida, por morte deste em 1963, em dois lotes que se destinam a seus filhos. Entretanto, a D. Maria Ana (Condessa de Sobral) cabe o direito ao ferro primitivo de Soler, bem assim como as reses desta origem, cruzando algumas com sementais de Urquijo, enquanto anuncia em nome de Diogo Passanha, Herdeiros. Chegados à década de 70 passa a anunciar-se como ganadaria de D. Maria Ana Passanha até ao ano de 1988, data a partir da qual se anunciaria Condessa de Sobral.
Inscrita na Associação Portuguesa de Criadores de Toiros de Lide desde a década de 30 do século passado, esta ganadaria é também uma das ganadarias portuguesas mais antiga inscrita na Unión de Criadores de Toros de Lidia, podendo portanto lidar nos dois países. Esta temporada a ganadaria lidou uma novilhada em Madrid e esteve presente nas praças portuguesas de Alcochete, Albufeira e Nazaré.
A Importância da Equipa
Há mais de 30 anos que nesta casa se mantém a mesma base no que se refere aos cuidados veterinários e ao maneio da vacada, responsabilidade de Francisco Camacho, médico-veterinário, e de Manuel Madeira, maioral, que representam um pilar estrutural para o bom funcionamento da exploração.
Nos Montezes o maneio do gado bravo é feito totalmente a cavalo, de forma tradicional, e é realizado pelo maioral em conjunto com os vaqueiros Rui Gomes Madeira e Jorge Pica (antigo forcado do grupo amador de Póvoa de S. Miguel).
Aqui na ganadaria a assistência veterinária e a prevenção das doenças representam um investimento obrigatório e primordial para a sustentabilidade da exploração, com vista a combater antecipadamente possíveis doenças e por outro lado prevenir a inutilização de algum toiro, que acabaria por trazer prejuízo à ganadaria.
Situada em pleno Baixo Alentejo, a sociedade agropecuária apresenta um efetivo de animais na ordem dos 470 bovinos, dos quais aproximadamente 370 são gado manso e perto de 100 vacas de ventre bravas, que constituem a Ganadaria Condessa de Sobral. “Temos ainda um núcelo de vacas de raça Mertolengo Puro, de onde retiramos a nossa camada de cabrestos e que também comercializamos para outras ganadarias”, sublinha o maioral Manuel Madeira.
Todos os animais são alimentados com pastagens naturais, mantendo-se apenas no caso do gado bravo o acompanhamento durante o inverno à base de silagem de milho, feno e palha, alimentos esses produzidos dentro da herdade. “Procuramos que os terrenos com melhores características sejam direcionados para a criação do gado bravo, de forma a manter o nível e a exigência necessários para criarmos este belo animal, que é o toiro bravo”, acrescenta Manuel Madeira.
No que se refere à seleção, Manuel Vázquez Gavira afirma que “pretende efetivamente melhorar as características do encaste Torrestrella, procurando sobretudo o toureio apeado, embora reconheça que temos bons resultados no que diz respeito ao toureio a cavalo. Este toiro tem como principais características a nobreza e o galope intenso, que se traduz em mobilidade na arena. Por isso mesmo, nos últimos dois anos a vacada tem sido aumentada com origem Torrestrella pura, de forma a cimentar este encaste em Portugal”.
Quanto à escolha das futuras mães dos toiros de lide, a seleção é feita numa primeira fase com o picador e depois a novilha é toureada com a muleta. “Temos em atenção as notas, mas acima de tudo o animal tem de ser bravo no cavalo e depois mostrar humilhação e mobilidade na muleta. Relativamente aos refugos da tenta chamamos sempre um grupo de forcados para vir cá treinar, uma forma de ajudar a manter esta tradição portuguesa, que é tão emblemática e atrativa para todos”, termina o maioral.