Doença Venosa Crónica

J Pereira Albino, Assistente Hospitalar Sénior de Cirurgia Vascular; Coordenador da Cirurgia Vascular do H. Lusíadas Lisboa; Ex-Diretor do S. de Cirurgia Vascular do H. Pulido Valente

Na praia, sentado na areia, num dia de sol e olhando as pernas, Daniel verifica, de repente, que junto aos pés existem pequenas veias mais exuberantes do que estavam há um ano.

Coloca-se de pé e pergunta à mulher estendida na toalha ao lado: olha lá, não tenho varizes nas pernas?

Ela olha para as pernas e diz: de facto tens muitas varizes… tens de ir ver isso…

 

Esta é uma história típica de verão.

 

As varizes existem e, por vezes, são de grandes dimensões, sobretudo nos homens, onde estão muitas vezes encobertas pelos pêlos, mas que causam a início pouca sintomatologia.

Elas não são mais do que veias que se tornam tortuosas e dilatadas, por um mau funcionamento do sistema venoso superficial.

Isto deve-se a múltiplos fatores (hereditários, hormonais, excesso de peso), mas, em princípio, têm como origem principal o facto de a espécie humana não estar adaptada ao posicionamento de pé. Melhor dizendo, só existem varizes no “homo sapiens” e raramente existem nas outras espécies animais.

Claro está que não estamos perante uma patologia inócua.

De forma simplista, poderemos dizer que a acumulação de sangue no terço inferior das pernas, dado que os mecanismos de transporte estão afetados, origina sintomas como cansaço, aumento de volume da perna (edema) e, nas fases mais avançadas, origina quadros de dermatite e eventualmente de úlceras de perna.

Também sabemos que o doente com varizes, sobretudo de maiores dimensões, tem mais propensão para fenómenos trombóticos (formação de trombos nas veias), sejam superficiais ou mesmo mais profundos.

Assim, estamos perante uma situação que merece ser analisada.

Então o que é que o Daniel deve fazer?

Ele em primeiro lugar, deve procurar consultar o seu médico de família, que analisará o caso e, normalmente, pedirá a realização de um exame designado por ecodoppler e que permite um estudo muito perfeito do sistema venoso dos membros inferiores. Após esse exame, será determinada o tipo de varizes que está em presença e a partir dele será feita uma indicação da mais adequada forma de tratar, o que normalmente será realizada por um cirurgião vascular.

A forma mais comum deste tipo de patologia e que tem um caracter mais estético que funcional, são o aparecimento de pequenas varizes dispersas nas coxas e pernas (derrames) que causam pouca sintomatologia, mas que, sobretudo na população feminina, são muito inestéticas.

O seu tratamento, através de laser ou de esclerose de varizes, permite o seu desaparecimento, apesar de, claro está, que teremos de ter em conta que estamos perante uma patologia crónica.

Varizes mais importantes, do sistema superficial, nomeadamente das veias safenas, causam mais sintomas e tem um tratamento mais aprofundado que, contudo, hoje em dia, está cada vez mais facilitado. Estas varizes são, na maioria dos casos, tratadas através de cateterismos venosos em que se usam técnicas térmicas (laser, radiofrequência, vapor), injeções de esclerose com espuma ou a aplicação de uma cola biológica. Estes cateteres são introduzidos nas veias doentes por controlo ecoguiado e, quer através do calor quer por injeção de um produto químico, originam que as paredes das veias fiquem aderentes, e, portanto, tornando-as não funcionais, o que evita as cirurgias clássicas de retirada (por arrancamento) das mesmas.

Têm pós-operatórios fáceis, não dolorosos e com uma resolução completa destes quadros.

Como já percebemos, apesar destas extraordinárias melhorias no tratamento, que praticamente em cerca de 90 a 95 por cento dos casos pode ser feito em ambulatório, com uma estadia media hospitalar de 3,5 horas, estamos perante uma doença crónica em que é necessário evitar a sua recorrência.

Assim, nas formas avançadas, recomenda-se o uso sistemático de meias elásticas e em todas as formas de doença é fundamental evitar o aumento de peso e o sedentarismo. A finalizar, somente chamar a atenção que um dos fatores que mais origina o aparecimento e agravamento da doença venosa é a gravidez, pelo que após cada parto, é necessária uma avaliação criteriosa deste tipo de patologia.

 

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