Dia Mundial do Cancro do Pulmão

Assinala-se a 1 de agosto, o Dia Mundial do Cancro do Pulmão, uma doença que, todos os anos, é diagnosticada a quatro mil portugueses. A nível mundial, afeta dois milhões de pessoas e representa um dos tipos de cancro com maior índice de mortalidade. Na grande maioria dos casos, o diagnóstico é tardio, o que, em parte, justifica o mau prognóstico e as elevadas taxas de mortalidade associadas ao cancro do pulmão.

O cancro do pulmão encontra-se entre as 10 maiores causas de mortalidade, sendo igualmente a neoplasia associada a maior mortalidade. Esta situação tem vindo a persistir ao longo dos anos e prende-se principalmente com 2 causas:

– A maior causa de cancro do pulmão é o tabagismo, responsável por cerca de 90% de todos os casos diagnosticados. Apesar de todas as campanhas de sensibilização acerca dos malefícios do tabaco, esta dependência mantém-se elevada, com cerca de 15% de indivíduos fumadores no nosso país, abrangendo um valor de cerca de 20% a nível da União Europeia. Continua a verificar-se uma taxa elevada de experimentação do tabaco em idades precoces nos jovens portugueses e se contabilizarmos os novos produtos com nicotina, como o cigarro eletrónico e o tabaco aquecido, a taxa de consumidores tem aumentado, verificando-se inclusive em jovens de camadas mais diferenciadas a adesão a estas novas formas em detrimento do tabaco tradicional. A sensibilização e a luta anti-tabágica são claramente medidas cruciais de intervenção de saúde publica, que devem envolver a desconstrução dos mitos associados a estas novas formas de consumo, apresentados de forma errada com sendo menos prejudiciais para a saúde, nomeadamente respiratória.

– Os doentes na altura do diagnóstico apresentam já fases avançadas da doença, devido ao facto de uma lesão neoplásica se poder desenvolver de forma silenciosa, dado que não ocorre dor exceto em lesões periféricas com envolvimento pleural e/ou de estruturas da parede torácica e ser necessária a afetação de um território significativo do pulmão para que ocorra dispneia. Quando ocorrem sintomas como tosse, expetoração hemoptoica (expetoração com sangue) ou dispneia (falta de ar), tal representa habitualmente que a lesão é central e muitas vezes tem uma localização que torna impossível a recessão cirúrgica, por prévia invasão das estruturas mediastínicas. Por outro lado, quando se verificam sintomas constitucionais, como astenia, anorexia ou emagrecimento, habitualmente o doente já se encontra com deterioração do estado geral o que muitas vezes condiciona a possibilidade de um tratamento adequado dada a exigência dos tratamentos locais como a radioterapia ou sistémicos como a quimioterapia, imunoterapia ou as chamadas terapêuticas-alvo.

Adicionalmente, o processo de diagnóstico e estadiamento é hoje muito extenso e demorado. O diagnóstico, efetuado habitualmente através da colheita de uma amostra histológica pela broncofibroscopia ou biopsia transtorácica guiada por TAC torácica, exige hoje não só o tipo histológico do tumor, mas igualmente a avaliação de uma série de marcadores relacionados com o tratamento, nomeadamente relacionados com a imunoterapia, ou com a pesquisa de mutações para os quais existem terapêuticas alvo. Esta informação, incontornável para o tratamento, exige do ponto de vista laboratorial algum tempo para uma correta aferição desta investigação. Por outro lado, o estadiamento necessário para a ponderação terapêutica exige a avaliação por tomografia emissora de positrões que é um exame efetuado em poucos locais, não sendo acessível na maior parte dos Hospitais, levando a tempos de espera demasiado prolongados para a realização do mesmo. Esta demora pode conduzir, em casos em que a dinâmica da doença é mais agressiva no sentido da sua progressão, a situações em que aquando do estudo completo, o doente encontra-se já com um estado geral mais comprometido, não sendo possível equacionar todo o potencial terapêutico disponível, pela potencial toxicidade do mesmo.

Em conclusão, o cancro do pulmão é um enorme e multifacetado desafio, desde a sua prevenção que envolve principalmente a luta contra o tabagismo, a sua deteção precoce que passará em grande parte com programas de rastreio que estão neste momento a ser equacionados e desenhados para posterior execução e o seu diagnóstico em tempo adequado que exige a implementação de vias verdes de cancro do pulmão que leva a que nenhum doente deixe de ter acesso às terapêuticas mais eficazes relacionados com o seu estadiamento e caracterização tumoral.

Prof. Doutor António Morais

Presidente da Sociedade Portuguesa de Pneumologia

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