Como está a indústria e o retalho voltados para a comunidade vegan em Portugal?

A questão ambiental, a sustentabilidade e a alimentação cruelty free são temas bastante atuais e que aos poucos nos levam a uma pequena revolução dos nossos hábitos de consumo.

Os grandes grupos industriais e de retalho, há algum tempo procuram soluções para a procura de novos produtos livres de proteína animal e o público é cada vez maior e mais exigente.

A revolução verde

Em Portugal, a comunidade vegetariana está a crescer e já conta com um milhão de pessoas.

Na verdade, nos últimos dois anos, de acordo com o estudo The Green Revolution, a população portuguesa que pertence a este grupo que engloba veganos, vegetarianos e flexitarianos cresceu 33%.

A preocupação com saúde, o bem-estar animal e a sustentabilidade são os principais incentivos para este tipo de alimentação.

Álvaro Carrilho, diretor de vendas da Upfield, uma fabricante de produtos de origem vegetal que está presente em grandes superfícies, como a Sonae, Auchan, El Corte Inglés e Aldi, em entrevista à ECO, garante que estamos perante uma “uma explosão de mediatismo em torno das preocupações ambientais e alimentação saudável e cabe [à empresa] dar essas alternativas, porque a procura existe”. “O futuro a curto prazo vai ser claramente de grande crescimento. Obviamente que a penetração destes produtos no mercado ainda é baixa, mas isso só quer dizer que o sentido de oportunidade é gigante”, completa.

Motivações que fazem aumentar a comunidade

Ainda em declarações ao ECO, David Lacasa, partner da Lantern, que lançou o estudo The Green Revolution, salienta que os primeiros grupos de veganos começaram a aparecer a partir do século XIX e que “os flexitarianos são uma tendência mais atual, mais moderna, que tem como base, acima de tudo, reduzir o consumo de carnes e de peixe e incorporar mais verduras na alimentação”.

Preocupações com a saúde (68%), bem-estar animal (30%) e sustentabilidade (29%) lideram as motivações dos consumidores flexitarianos. Já os vegetarianos e os veganos defendem a sua dieta com os argumentos da sustentabilidade (73%) e do respeito pelos animais (69%)

Supermercados e restaurantes

A procura aumenta e a oferta tem seguido a procura, com os supermercados a investirem cada vez mais em produtos vegan, tornando-os mais acessíveis a todos os que se identificam com este estilo de vida.

Segundo um estudo feito pela Associação Vegetariana Portuguesa (AVP), o hipermercado Auchan é aquele que melhor se posiciona no mercado português relativamente à oferta de produtos veganos, seguido das lojas Continente, e do Aldi, em segundo e terceiro lugares, respetivamente.

Segundo a associação, a “empresa Jerónimo Martins (Pingo Doce), uma das maiores neste setor, recusou-se a participar neste estudo”.

O projeto RankingVeg foi criado pela AVP em parceria com a organização alemã Albert Schweitzer Foundation, que desenvolveu e disponibilizou uma ferramenta padronizada para classificar os retalhistas alimentares com base na sua oferta de produtos veganos.

No entanto, comparando a outros países no mundo, Portugal ainda está um pouco atrás a nível de produção e venda de produtos vegan – e, até, a nível de promoções nesse setor. Acredita-se, no entanto, que esse cenário venha a mudar nos próximos anos.

A nível mundial, a oferta de supermercados vegan é muito maior e, inclusive, existem supermercados que têm apenas produtos vegan para compra.

No setor da restauração, nos últimos anos, o número de restaurantes vegetarianos e veganos aumentou drasticamente, tanto em Portugal, como em todo o mundo.

Em Portugal, Lisboa e Porto são as cidades que lideram a oferta que vai desde um menu vegetariano num restaurante convencional até um menu inteiramente vegetal num restaurante vegano.

Opinião dos Portugueses

Segundo um outro estudo da AVP, acerca da perceção dos consumidores portugueses sobre a oferta de produtos veganos, com mais de 2.000 participantes, os portugueses que procuram produtos veganos parecem ter preferência pelos retalhistas alimentares como a ALDI, Auchan e Continente, o que coincide com os achados do ranking desenvolvido pela Associação Vegetariana Portuguesa.

Por outro lado, no que toca à insatisfação com a oferta atual, as principais queixas dos consumidores prendem-se com os elevados custos deste tipo de produtos, e com o sabor e a textura e/ou consistência de alguns produtos.

A certificação de produtos pode também ser uma boa aposta para os retalhistas que investem neste segmento, já que 81,2% dos participantes indicou preferir produtos com certificado vegan, que garanta uma maior transparência.

You may also like...