Casa Ermelinda Freitas: Um século de amor

Em ano de centenário da mítica Casa Ermelinda Freitas, a Revista Business Portugal não quis deixar este marco em branco. Em entrevista, Leonor Freitas, sócia-gerente, destaca o amor à terra e ao próximo, ao longo destes 100 anos.

 

Considera que o facto desta casa ter tido sempre uma mulher na sua gestão contribui para o seu sucesso e longevidade? Quais têm sido os maiores desafios destes 100 anos?

A Casa Ermelinda Freitas é o resultado de muito trabalho de quatro gerações da família, caminhando e envolvendo já a quinta. Este trabalho provém do amor à terra, ao próximo. Tive a sorte de ter tido a transmissão de saberes e sentimentos, pelos quais ainda hoje singo a minha maneira de estar na sociedade. Sem dúvida que as mulheres fizeram a diferença na gestão da Casa Ermelinda Freitas, o futuro tudo aponta que seja mais uma mulher a dar continuidade à gestão. Mas como gosto de dizer, não existem trabalhos para homens nem mulheres, mas sim as pessoas certas para os trabalhos certos.

Foi uma evolução de trabalho, de aprendizagem, de muito respeito e agradecimento aos colaboradores, ao fim ao cabo foram trinta anos de arredondar espinhos, mas também de ter a humildade de saber que nem sempre estamos no alvo, dando aqui um grande reconhecimento do sucesso da Casa Ermelinda Freitas a toda a equipa que aqui trabalha. Também temos que dar um grande obrigado aos nossos consumidores, que têm preferido os vinhos da Casa Ermelinda Freitas, ajudando assim a que a mesma chegasse onde chegou.

 

Leonor e Joana Freitas

Ao longo destes 100 anos foram conquistando várias distinções a nível nacional e internacional.  De todas as conquistas, há alguma(s) que se destaque(m) ou tenha(m) um valor sentimental especial?

Todos os prémios ganhos foram recebidos com emoção, mas também com grande sentimento de responsabilidade. Não posso esquecer a primeira Medalha de Ouro que ganhei com o Terras do Pó, em Bordéus ou o prémio do Melhor Vinho Tinto do Mundo, ganho no Vinalies Internationales, em Paris, em 2008, com o Syrah de 2005. Desde 1999 até 2020 já são mais de 1000 prémios a nível nacional e internacional.

Nos primeiros três meses deste ano, já obtivemos um total de 28 Medalhas de Ouro e 18 Medalhas de Prata, fazendo um total de 46 medalhas. De destacar o prémio de Best Of Show Península de Setúbal, atribuído ao vinho Vinha do Torrão Reserva, no concurso Mundus Vini 2020 – Edição Primavera, bem como as 3 ProdExpo Star, atribuídas aos vinhos Vinha da Valentina Reserva Signature, Vinha do Fava Touriga Nacional 2018 e Valoroso Chardonnay 2018, na competição ProdExpo 2020.

 

A Casa Ermelinda Freitas tem uma forte aposta na inovação e qualidade. Considera que este investimento constante é fundamental para o vosso crescimento?

Se uma empresa quer estar atualizada tem de estar em permanente investimento e só assim ela pode ser competitiva nos dias de hoje. Esta é a forma de estar da Casa Ermelinda Freitas: estamos em constante investimento na procura da modernização e competitividade, respeitando a tradição.

 

Que estratégia foi adotada para enfrentar o desafio imposto pela pandemia do novo coronavírus?

Vamos continuando a laborar e vendendo, sobretudo os vinhos mais económicos. Felizmente, o vinho ainda é um produto onde existe procura e consumo. A gerência e colaboradores da Casa Ermelinda Freitas continuam unidos e mantêm o trabalho, agradecendo assim aos consumidores a ajuda que têm dado, ao adquirir os nossos vinhos.

 

Com um sentido de responsabilidade social, sentiram a necessidade de apoiar na produção álcool gel e viseiras. Como surgiu a iniciativa?

Da constatação de que havia mais procura que oferta. Nós próprios tínhamos dificuldades em adquirir o álcool gel e o que encontrávamos estava a um preço muito alto. Também senti uma grande necessidade de colaborar com as instituições mais desfavorecidas, como lares, prisões e outras instituições carenciadas de idosos, que não tinham acesso a estes produtos.

Como nós tínhamos o álcool, mas não sabíamos fazer o gel e o Instituto Politécnico de Setúbal não tinha o álcool necessário, mas sabia como o fazer, criamos uma sinergia. O IPS forneceu todo o seu conhecimento e a parte química para o processo de conceção, a Vinisol vendeu o álcool a um preço muito baixo, tendo sido assim possível criar esta conjugação de esforços, que permitiram uma grande aprendizagem em prol da nossa sociedade, podendo assim ajudar todos os que necessitam. Assim nasceu a iniciativa que juntou três entidades: Casa Ermelinda Freitas, Vinisol, e IPS, cuja envolvência permitiu fazer 6.000L de álcool gel.

Por outro lado, o IPS também estava a fazer viseiras e necessitava de mais alguns recursos, pelo que a Casa Ermelinda Freitas contribuiu com um donativo para ajudar a aumentar a produção, existindo também mais empresas na região a contribuir para esta causa.

Não há dúvida que juntando vontades, saberes e colaboradores podemos ser solidários e, com um pequeno gesto, ser uma grande mudança e ajuda na vida das pessoas e instituições.

 

Apesar dos contratempos causados pela pandemia, mantem uma perspetiva positiva sobre o futuro do setor e da Casa Ermelinda Freitas, em particular?

Eu estou preocupada com a economia, mas muito mais preocupada com as pessoas. Quando estivermos bem, lutaremos pela economia. Agora vamos lutar pelas pessoas. A minha grande preocupação é que cada funcionário seja um elemento ativo da saúde. Se conseguirmos ultrapassar os problemas da saúde, penso que os problemas económicos também serão ultrapassados, tendo a colaboração de todos – equipa e consumidores – e conseguiremos continuar a oferecer novos produtos, sempre com a melhor relação qualidade-preço. Esta tem sido sempre a preocupação da Casa Ermelinda Freitas, mais o será numa época tão difícil como a que estamos neste momento a atravessar.

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