Cancro da mama, prevenção e tratamento

Isabel Pazos, Coordenadora do Grupo de Mama – Oncologia Médica – no IPO de Coimbra, explica, em entrevista à Revista Business Portugal, a importância do autoexame e os estigmas a que as mulheres, sofredoras desta doença, estão expostas.

À semelhança de outras patologias oncológicas, o cancro da mama assume uma especificidade própria. Pedimos-lhe que nos descreva como se manifesta a doença, os fatores de risco associados, que medidas adotar ao nível da prevenção, a importância do autoexame e do diagnóstico médico, quais os sintomas e os tratamentos disponíveis.
O cancro da mama é o tumor maligno mais frequente na mulher. Em Portugal em 2018 registaram-se 6974 diagnósticos de cancro da mama num total de 58199 diagnósticos de cancro, o que perfaz uma incidência 12 por cento (*).
As neoplasias malignas da mama são um grupo heterogéneo de lesões, podem ter origem nos lóbulos e nos ductos da glândula mamária, que diferem no comportamento biológico e na aparência microscópica e isto vai gerar uma classificação biológica que determinará a escolha do tratamento.
O cancro da mama desenvolve-se em três fases principais: a fase de iniciação onde aparece uma lesão no DNA celular e os mecanismos de reparação habituais não conseguem elimina-la, pelo que essa alteração se vai transmitir às células filhas subsequentes; uma segunda fase onde essa alteração multiplica-se e cresce e finalmente uma terceira fase onde as células tumorais invadem e migram para outros órgãos.
A forma de apresentação do cancro da mama pode ser como: uma tumefação, uma escorrência mamilar, pele em casca de laranja, retração da pele da mama ou retração/inversão do mamilo, ulceração, ou bem por sintomas que derivam da metastização a outros órgãos (falta de ar, fraturas ósseas patológicas/espontâneas, disfunção hepática).


É fundamental que as mulheres saibam explorar as suas mamas, as vezes 4 minutos podem salvar uma vida, e que perante uma alteração, por pequena que seja, consultem o seu médico.


Neste momento o cancro da mama é a primeira causa de morte em mulheres europeias entre os 40-49 anos. A taxa de mortalidade por cancro da mama para os países civilizados tem vindo diminuir devido ao diagnóstico precoce e a um melhor tratamento. Em Portugal em 2018 a mortalidade foi do 6 por cento, 1748 doentes faleceram por cancro da mama/ 28960 doentes que faleceram por cancro (*)
A sobrevivência aos 5 anos vai depender do estadio em que se diagnostique a doença e vai desde quase 100 por cento em estadio I a 5 por cento em estádio metastizado. Uma de cada 8 mulheres no mundo ocidental vai apresentar um cancro da mama ao longo da sua vida, assim sendo, a prevenção e o diagnóstico precoce vai ser uma prioridade para os organismos governamentais responsáveis pela saúde. A DGS estabelece como prioridades a promoção e prevenção no diagnóstico e tratamento das doenças oncológicas garantindo a equidade e a acessibilidade dos cidadãos, com o objetivo de chegar ao 100 por cento dos cidadãos em 2020.(**)
O rastreio do cancro da mama abrange as mulheres entre os 50-69 anos. Tem como objetivos diminuir a mortalidade associada ao cancro da mama e diagnosticar de forma precoce com vista a aumentar as possibilidades de cura e proporcionar tratamentos menos agressivos.


Os fatores de risco associados a maior risco de padecer cancro da mama são: ser portadores de mutação do gene BRCA1/2, ter um familiar em primeiro grau com o diagnóstico de cancro da mama, menarca em idade inferior 12 anos, menopausa em idade superior a 55 anos, idade do parto superior a 30 anos, reposição hormonal após menopausa, consumo de álcool, obesidade, biopsia mamária previa com hiperplasia atípica.
O diagnóstico e tratamento do cancro da mama devem ser orientados por uma equipa multidisciplinar para garantir a melhor estratégia de tratamento para cada doente.
Os tratamentos do cancro da mama incluem a cirurgia, a quimioterapia, a radioterapia, a hormonoterapia, a terapia biológica… todos eles de forma isolada ou combinada podem ser utilizados no tratamento do cancro da mama, segundo o tipo biológico do tumor e o estadio da doença.

A prevalência do Cancro da Mama tem vindo a aumentar significativamente nas últimas décadas, sobretudo nos países ocidentais. Na sua opinião, a que se deve este aumento exponencial?
A prevalência é a proporção de população que tem a doença num período de tempo determinado e inclui todas as doentes que foram diagnosticadas no passado, que estão vivas e estão curadas ou não.
A prevalência tem vindo aumentar por aumento da incidência e pela melhora nos resultados dos tratamento (novos fármacos e mais eficazes).
A prevalência estimada aos 5 anos do cancro da mama em Portugal em 2018 foi de 26.329.(*)

Algumas mulheres conseguem vencer esta árdua batalha, mas outras não. Em que consiste o cancro da mama metastizada?
O cancro da mama metastizado significa que o tumor para além da mama encontra-se em outros órgãos como pode ser ossos, fígado, pulmão, cérebro, pele…
Dentro da doença metastizada o prognóstico não só depende do tipo biológico de cancro da mama e do órgão afeto, se não também do número de metástases, do número de locais afetados, dos sintomas associados…, assim podemos encontrar-nos com doentes com cancro da mama metastizado com longas sobrevivências como nas doentes com metástases ósseas.
Com os novos medicamentos de hoje em dia, a sobrevivência tem vindo a aumentar de forma muito importante.

As mulheres que não conseguem superar a doença são muitas vezes olhadas como derrotadas, enquanto as que conseguiram superá-la são vistas como umas lutadoras e vencedoras. Não será esta visão injusta e desumana quando, ainda para mais, há um fator de reincidência que tanto peso tem nos casos de insucesso?
Hoje em dia não se pode considerar as doentes com cancro da mama metastizado como umas pessoas derrotadas, muito pelo contrario, são umas autênticas heroínas.
Confrontam a doença de frente e vão a luta com todas as armas que lhes podemos proporcionar, com todos os medicamentos que temos disponíveis. É evidente que não conseguimos salvar a todas as doentes e que dependendo do tipo de tumor e do local da metastização os resultados são diferentes.

Ainda sobre as mulheres com cancro da mama matestizada, que tipo de necessidades têm estas mulheres e que soluções existem ao nível de novas terapêuticas que lhes permitam aumentar a esperança média de vida e a qualidade da mesma?
Nós últimos anos o tratamento do cancro da mama levou um grande avanço e reflete-se no aumento da sobrevivência, nomeadamente no cancro da mama metastizado. Por exemplo, para os tumores hormonosenssíveis a associação hormonal com os inibidores das CDK (ribociclib, palbociclib, abemaciclib) os inibidores de mTor (everolimus), para os tumores HER2 positivos a associação antiHER2 com trastuzumab e pertuzumab, têm vindo revolucionar os resultados, aumentando o tempo para a progressão da doença e a sobrevivência global das doentes com cancro de mama metastizado.
Estas novas terapêuticas não só vão aumentar a esperança de vida como também, devido a uma toxicidade controlável, a melhorar imenso a qualidade de vida.

Outubro é Mês Internacional da Prevenção do Cancro da Mama. Enquanto Coordenadora do Grupo de Mama do IPO de Coimbra, que conselho que gostaria de deixar às mulheres portuguesas?
Em primeiro lugar ressaltar a importância de hábitos de vida saudáveis no que diz respeito a alimentação, exercício físico regular, deixar hábitos tóxicos, dedicar uns minutos á auto-exploração, a adesão ao rastreio do cancro da mama. Em segundo lugar, não deixar passar por alto qualquer alteração na mama, esconder o problema não leva a que o problema desapareça. Assim quando mais precoce seja o diagnóstico melhor serão os resultados dos tratamentos.

 

(*) “World Health Organization – IARC Globocam”
(**)Programa Nacional para as Doenças Oncológicas (2017)

You may also like...