Associação de Farmácias de Portugal: “As Farmácias e os Farmacêuticos têm um papel crucial na saúde dos portugueses. O Estado deveria valorizar mais o seu papel”

Nunca como agora se falou tanto sobre o estado da Saúde em Portugal e sobre a necessidade imperiosa do país adotar um modelo sustentável que garanta o acesso e a qualidade dos cuidados de saúde prestados à população. Na semana em que se comemora o Dia do Farmacêutico e pouco depois das comemorações oficiais do 40º aniversário do Serviço Nacional de Saúde (SNS), Manuela Pacheco, Presidente da Associação de farmácias de Portugal (AFP), explica em entrevista, como as farmácias são um parceiro fundamental do SNS. Na visão da dirigente o “Estado deveria valorizar mais o papel das farmácias”.

Na sua opinião, Portugal tem um bom sistema de saúde?
Analisando os rankings internacionais – como o Euro Health Consumer Index- não há dúvidas de que a avaliação é positiva. O Serviço Nacional de Saúde é, indiscutivelmente um legado precioso para todos os portugueses. No entanto, os problemas relacionados com a sustentabilidade financeira do SNS, por um lado, e a pressão de fatores sócio-demográficos (Ex: progressivo envelhecimento da população portuguesa), por outro, têm exposto algumas fragilidades do SNS.

O que pode ser feito para melhorar a prestação de cuidados de saúde da população portuguesa?
Parece-nos claro que nas atuais condições, o Estado, sozinho, não tem os recursos financeiros, humanos e técnicos necessários para atender a todas as necessidades de saúde de toda a população. A solução, no nosso entender, deverá passar pelo reforço de parcerias entre o Estado e outros agentes do setor da saúde, como é o caso das farmácias. Recordo que as farmácias disponibilizam, à sociedade civil um conjunto alargado e vital de serviços, tanto na área da prevenção da doença, como na área terapêutica, mas também na promoção da saúde. Além de serem as naturais fornecedoras de medicamentos aos cidadãos, as farmácias são muitas vezes o primeiro e último contacto dos cidadãos com o sistema de saúde. Esta proximidade junto dos cidadãos faz com que as farmácias sejam um parceiro fundamental do Sistema Nacional de Saúde. Aliás, muito antes do Serviço Nacional de Saúde ter sido criado, já as farmácias e os farmacêuticos cuidavam da saúde dos portugueses.

Que medidas gostaria de ver implementadas no futuro que pudessem contribuir para a valorização das farmácias?
O papel fundamental que as farmácias desempenham é, felizmente, reconhecido por diversos agentes do setor. Desde logo começando pelos próprios cidadãos até à classe médica. Falta, no entanto, o devido reconhecimento por parte do Estado, por parte do Serviço Nacional de Saúde. As farmácias e os farmacêuticos têm um papel crucial na saúde dos portugueses. O Estado deveria valorizar mais o seu papel.
É preciso lembrar que todos os dias as farmácias e os farmacêuticos acompanham os cidadãos, evitando muitas deslocações desnecessárias aos hospitais e prevenindo o aparecimento ou o desenvolvimento de patologias que comportariam custos elevados para o Estado (em internamentos, tratamentos ou em baixas médicas). Se os serviços farmacêuticos prestados pelas farmácias permitem ao Serviço Nacional de Saúde obter ganhos, porque não apostar num maior reconhecimento dos Farmacêuticos e numa colaboração mais estreita com o SNS?

Na sua opinião, como pode ser feita essa maior colaboração entre as farmácias e o Serviço Nacional de Saúde?
Na AFP defendemos, há muito, uma solução que passa pela possibilidade de as farmácias prestarem serviços que, até ao momento, são prestados pelo Serviço Nacional de Saúde, prevendo, para esse efeito, a atribuição de uma remuneração. Este passo permitiria não só o descongestionamento dos serviços do Sistema Nacional de Saúde, como garantiria um acompanhamento mais próximo da saúde da população portuguesa.
Temos já um exemplo de sucesso – o Programa Troca de Seringas – mas este é um caso isolado. O projeto TARV – que consiste na dispensa de terapêutica anti-retrovírica aos portadores de VIH/Sida em farmácias Comunitárias – tem também potencial para ser um bom exemplo de parceria entre o SNS e as farmácias, mas infelizmente e até ao momento trata-se apenas de um projeto-piloto. Esperamos que este serviço seja estendido a todo o país e que a experiência possa ser aplicada a outros grupos terapêuticos, nomeadamente, aos medicamentos oncológicos.
Gostaria ainda de lembrar que a Associação de Farmácias de Portugal (AFP) foi uma das entidades subscritoras do “Compromisso para a Sustentabilidade e o Desenvolvimento do Serviço Nacional de Saúde 2016-2018”. Este documento, assinado em 2016, já previa a valorização e o desenvolvimento do papel das Farmácias Comunitárias enquanto agentes de prestação de cuidados e serviços de saúde. Da mesma forma, o compromisso também previa a adoção sistemática de uma avaliação independente da efetividade, do valor económico e da satisfação dos doentes decorrentes das intervenções das farmácias na geração de ganhos para o sistema de saúde e para os cidadãos. Infelizmente, olhando para a implementação das medidas inscritas neste compromisso, constatamos que muito pouco se avançou nestes últimos três anos. Para o bem da saúde dos portugueses, defendemos que estas medidas deixem de estar apenas traçadas no papel e sejam efetivamente implementadas no terreno.

O Bilhete de Identidade da Associação de Farmácias de Portugal
A Associação de Farmácias de Portugal (AFP) foi criada em 1991, contando no início com um pequeno grupo de farmácias. Atualmente, a AFP representa cerca de 160 Farmácias em todo o País. A associação, presidida por Manuela Pacheco, tem como principal missão trabalhar de perto com as farmácias para melhor servir a comunidade. Além de divulgar junto das suas associadas informações relevantes sobre o setor da saúde, a associação presta também apoio logístico no sistema complementar de comparticipações e dá apoio jurídico-legal. As farmácias associadas beneficiam ainda de protolocos relevantes e de cursos e formações gratuitas promovidas pela AFP.

 

Projeto Inovador

AFP lança projeto pioneiro “Seringas só no Agulhão” para a recolha de seringas dos diabéticos

Na sequência da sua missão de “trabalhar de perto com as farmácias para melhor servir a comunidade”, a Associação de Farmácias de Portugal (AFP) lançou em junho passado um projeto-piloto inovador, que se destina à recolha das seringas usadas dos diabéticos, bem como de todos os cidadãos que necessitam de medicamentos injetáveis.
Intitulada “Seringas Só No Agulhão”, a campanha contou com a parceria da empresa especializada na gestão de resíduos hospitalares, Stericycle, e consiste na instalação de um contentor – o Agulhão – nas farmácias onde todos os cidadãos poderão colocar as suas seringas usadas. O objetivo desta campanha é encontrar uma resposta para a falta de soluções seguras e ecológicas de recolha das seringas usadas pelos doentes diabéticos, bem como de todos os doentes que necessitam de medicamentos injetáveis.
“Tivemos conhecimento das preocupações de alguns doentes diabéticos que se deparavam com a inexistência de um sistema de recolha de seringas usadas. Sabíamos que estes doentes tinham muitas vezes de colocar as seringas dentro de garrafas de plástico que depois depositavam no lixo comum. E como este não é, de todo, o destino mais adequado para este tipo de resíduos, a AFP tomou a iniciativa de criar esta solução inovadora e ecológica para dar resposta a um problema de saúde pública”, explica a Presidente da AFP, Manuela Pacheco.

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