Artigo de opinião Dr. Jorge Brandão: Chegou a altura de escutar o seu corpo

Estima-se que cerca de 7 por cento da população europeia sofra de neuropatia. Jorge Brandão, médico de Medicina Geral e Familiar e Vice-Presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, alerta para a importância da prática de hábitos de vida saudável e diagnóstico precoce, para retardar o seu desenvolvimento.

O que é a Neuropatia e quantas pessoas afeta?
A neuropatia corresponde a um quadro de lesões nos nervos motores, sensoriais e/ou autónomos que afetam diferentes fibras nervosas. A neuropatia periférica, a mais comum, ocorre quando há lesão no sistema nervoso periférico, como nos nervos dos braços e das pernas. Estas lesões comprometem a normal transmissão de impulsos nervosos e estima-se que afetem 7 por cento da população europeia.

Existem grupos de risco?
A causa mais comum da neuropatia periférica é a diabetes, ocorrendo em até 50 por cento dos doentes. Abuso de álcool, quimioterapia, infeções ou deficiências em vitaminas essenciais do complexo B são outros fatores de risco.

Quais as principais causas, sintomas e impacto desta patologia?
A lesão dos nervos pode estar relacionada com alterações metabólicas, como a diabetes ou a má-nutrição, mas também pode ser resultado de um trauma ou agressão direta ao nervo.
As manifestações mais comuns de neuropatia são formigueiro, dormência e picadas nos braços e pernas, que podem evoluir para um estado de dor, dificultando a realização de tarefas simples do quotidiano e afetando a qualidade de vida.

Os danos podem ser irreversíveis?
Quando diagnosticada precocemente, os processos que originam neuropatia podem ser revertidos ou, pelo menos, controlados, pelo que é importante que as pessoas reconheçam os sintomas de modo a travar os possíveis danos que, a longo prazo, se verificam a nível do sistema nervoso periférico, tornando-se irreversíveis quando a perda de fibras nervosas ultrapassa os 50 por cento.

Como pode ser feita a prevenção?
A neuropatia periférica está relacionada com alguns hábitos de vida que podem e devem ser alterados: reduzir o consumo de bebidas alcoólicas e tabaco, perder peso, fazer exercício físico, são algumas medidas simples que podem ajudar a prevenir ou retardar o desenvolvimento de neuropatia.
Indivíduos com hábitos alimentares que impliquem o baixo consumo de vitaminas B, como os vegetarianos, devem estar atentos aos sinais de neuropatia e avaliar junto do seu médico a possibilidade de fazer suplementação.

No caso da diabetes, a prevenção de neuropatia baseia-se num controlo apertado da glicemia e também requer que o doente e médico fiquem atentos aos primeiros sinais da doença.
Existe tratamento?
O tratamento depende em primeiro lugar ,da causa e da sua adequada correção.
Numa fase mais avançada, para o tratamento sintomático da dor, existem diversos fármacos e recomendações terapêuticas que propõem utilização de antidepressivos e/ou anticonvulsivantes. No entanto, estes medicamentos apenas permitem o alívio da dor. Como terapêutica adjuvante recomendam-se as vitaminas do complexo B, por estarem frequentemente deficitárias, sobretudo nos casos de neuropatia diabética, com tratamento prolongado com metformina. Estas vitaminas podem contribuir para a regeneração dos neurónios afetados e contribuir para o alívio dos sintomas e redução dos sinais clínicos, levando a melhoria da qualidade de vida destes doentes.

Qual o principal objetivo da campanha “Escute o seu corpo”?
“Escute o seu corpo” é o mote de uma campanha global, com o objetivo de combater a falta de informação e o subdiagnóstico da Neuropatia, de forma a prevenir e reverter lesões nos nervos afetados. É importante entender que sintomas que muitas vezes são desvalorizados, como perda de sensibilidade, formigueiro e ardor nos braços e pernas, podem ser indicadores de Neuropatia e que, caso estes sintomas existam, é importante mencioná-los ao seu médico.
Lançada com o apoio da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF), esta campanha foca-se em sensibilizar doentes, cuidadores e população geral, através de ações diferenciadas, como partilha de informação nos media, via website – www.escuteoseucorpo.pt e parcerias com instituições para rastreios.

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