“A qualidade será sempre uma premissa de sucesso”

 

João Marques, Gerente

A Casa Fernandes tem uma história com aposta em vários sectores, mas a olivicultura constitui a sua aposta de maior dimensão com a entrada no mercado com um produto elaborado totalmente à moda antiga desde a sua apanha até à saída do lagar. João Marques, em entrevista à Revista Business Portugal, fala do azeite puro que se diferencia no mercado, mas também a plantação de medronheiros e o desiderato de criar uma marca própria no futuro.

A Casa Fernandes é uma casa com uma robusta tradição agrícola, no cultivo de uma variedade de produtos agrícolas e alimentares, mas fortemente reconhecida pelo seu azeite, um produto diferenciado em todas as etapas de produção?

Sim, é um produto essencialmente elaborado com muito respeito pelo fruto. Um bom azeite começa no olival e na forma como o tratamos. Temos um sistema semi-automático de receção e moagem de azeitona, a partir daí, é extraído a frio e utilizamos ainda a figura do “Mestre Lagareiro” que procede à decantação do azeite. É um processo antigo e menos eficaz, mas que na minha modesta opinião, consegue retirar do nosso azeite da Beira Baixa todo o seu potencial e ainda identificá-lo como sendo da nossa região, da nossa Terra. Um azeite puro, de uma só variedade, a “galega” que se diferencia no mercado. Quero referir que há grandes marcas italianas e gregas que, tal como eu, acreditam neste processo. Existem outros produtos, mas o destaque vai para a área atual de plantação de medronheiros e para a criação de uma marca própria, no futuro. 

Da vasta extensão de olival, são vários e diversificados os azeites que produzem e comercializam. Os clientes têm a oportunidade de realizar visitas ao lagar e ao olival e degustar o azeite, para perceber de onde vem a qualidade do produto que compram?

Nesta altura recebemos muitas visitas. Pessoas oriundas de diversas zonas do país que nunca viram um lagar em funcionamento e, inclusive, alunos de escolas geograficamente próximas. Todos têm a oportunidade de comprovar a forma como trabalhamos que é completamente transparente e ainda a possibilidade de provar todas as nossas marcas, fazendo uma degustação. No olival, o que me interessa é demonstrar quer a nossa plantação quer o nosso fruto totalmente saudável, conseguindo assim transmitir algumas boas práticas que devemos ter. Também faço questão de reforçar algumas palavras de confiança e esperança para os mais jovens, para investirem nos seus sonhos e, se possível, na nossa terra! 

Desde a escolha do azeite, a sua exposição, ao tipo de azeite, é importante saber que o pós-produção e comercialização, também será determinante para um produto de qualidade e que seja uma continuidade da qualidade de todo o processo?

Nós temos uma política de grande proximidade com os nossos clientes que nos vão transmitindo o feedback sobre o nosso azeite. Tive que bater a muitas portas para revelar o que fazemos neste canto da Beira Baixa, por vezes recebido com desconfiança por completo desconhecimento da qualidade que a nossa zona oferece, mas no final da prova em 99% dos casos, conquistamos a confiança do consumidor. A qualidade mais que a quantidade será sempre uma premissa de sucesso para mim!

O negócio cresce de ano para ano e respondendo ao volume de procura, a Casa Fernandes faz aumentar também as plantações, mantendo se a qualidade e envolvendo o pequeno produtor? 

Temos crescido de ano para ano sempre na ordem dos dois dígitos e, penso que isso, é bastante revelador do nosso trabalho. Faz-me pensar em planos de novas plantações e, obviamente, consciencializar o pequeno produtor para a salubridade do fruto e a forma como o poderemos receber e adquirir no lagar. 

Quem está nestas zonas do Interior profundo e tem essa possibilidade, não deve apenas pensar nos lucros, mas também numa envolvência da sociedade e comunidade, ajudando a escoar o produto em excesso e dar a oportunidade ao pequeno produtor de participar na elaboração de um azeite, que chega já a todo o país. Este processo tem aumentado de campanha para campanha.

A vida e os locais dependem do lugar e da perspetiva de cada indivíduo, mas o azeite da Casa Fernandes, transmite toda a identidade da Beira Interior, onde os sabores e aromas delicados são preservados?

Tentamos que se mantenha essa característica. O maior prazer é alguém provar o nosso azeite em França, Lisboa, Porto ou Faro e possa de imediato identificá-lo como sendo de uma determinada zona. É isso que traz riqueza a este produto tão fantástico que temos à nossa disposição. Os nossos azeites caracterizam-se por azeites mais doces e suaves, provenientes de uma azeitona “galega” num estado de maturação avançado. Para além disso, estamos praticamente a meio da construção de um novo pavilhão com 140m2, que vai albergar uma linha nova de enchimento, rotulamento e embalamento, tornando assim esse processo mais eficaz. É um objetivo, que será finalmente uma realidade.

Estima-se que, este ano, Portugal atinga um valor recorde de 150 mil toneladas de azeite. Na Casa Fernandes qual a perspetiva de crescimento?

Este ano, tem sido de grande produção de azeite e com muita matéria-prima. As condições climatéricas foram favoráveis para que isso sucedesse. Na Casa Fernandes, à semelhança do país, estimamos um crescimento na ordem dos 40 por cento em relação à ultima campanha, o que nos dá uma das melhores, se não a melhor de sempre.

Não posso deixar de dizer que está nos planos futuros a construção de uma destilaria para a produção de aguardente de medronho e, ainda, lançar um desafio a quem me lê e tem possibilidades para isso. Realizar um concurso nacional de provas de azeite com os consumidores comuns como júris desse mesmo concurso, acho que seria muito interessante ver e comprovar que são os consumidores os principais atores e decisores dos melhores azeites.

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