“A Farmácia Oliveira é um projeto de família”

Ana Fernandes, Diretora Técnica

Ana Fernandes, Diretora Técnica da Farmácia Oliveira, em entrevista, salienta o papel fulcral das farmácias durante e no pós-pandemia, sublinhando ser do interesse geral o aumento da panóplia de situações em que as farmácias podem intervir, dada a sua proximidade ao utente e capacidade profissional.

A Farmácia Oliveira assenta a sua ação na promoção da excelência nas suas áreas de intervenção, procurando a obtenção de um elevado padrão de satisfação dos seus clientes. Quais são os principais serviços disponibilizados?
As farmácias, sendo um local de promoção de saúde, tornam-se espaços propícios para disponibilizarem vários serviços no âmbito da saúde, pois de certa forma transmitem uma segurança adicional ao utente e são de fácil acesso. Tal como em muitas outras farmácias, nós, na Farmácia Oliveira, tentamos abranger uma vasta gama de áreas, de forma a centralizarmos num espaço as necessidades dos utentes.
Disponibilizamos a medição de parâmetros bioquímicos, administração de vacinas e injetáveis, consultas de nutrição, consultas de ecografia 3D/4D, consultas da Medicapilar e, mais recentemente, a realização de testes à Covid. Organizamos ocasionalmente rastreios em colaboração com várias entidades de acordo com temas pertinentes à época, por exemplo, no verão realizamos um rastreio venoso. A Farmácia Oliveira é ampla, possui vários gabinetes, o que nos permite disponibilizar estes serviços com qualidade. Procuramos estar sempre atualizados de forma a ir de encontro às necessidades dos nossos utentes.

As farmácias continuam a fazer testes à Covid-19, embora neste momento, estes já não sejam comparticipados pelo SNS. Qual é a sua opinião sobre isso e que repercussões é que este fator poderá ter ou tem tido na procura?
A realização de testes à Covid nas farmácias foi, inicialmente, um tema controverso. É necessário termos um profissional de saúde alocado a um gabinete quase na totalidade do dia de expediente, o que em termos de logística humana altera o normal funcionamento da farmácia. No entanto, musculadamente, conseguimos fazer as alterações necessárias para a realização dos mesmos. O facto de a maioria das farmácias se encontrarem abertas em média cerca de 11 ou 12 horas por dia, possibilitou aos utentes conseguirem efetuar mais regularmente os testes, quer pela ampla disponibilidade horária, quer pelo número de farmácias a disponibilizar o serviço. Com o acréscimo da comparticipação dos testes, houve uma maior monitorização de casos, o que constatámos por experiência própria, visto termos dias em que não poderíamos aceitar mais marcações.
A descomparticipação dos testes pelo SNS ainda é um facto recente, no entanto, quando passaram a comparticipar apenas dois testes por mês, já notámos uma menor afluência na procura da realização de testes e agora sem a comparticipação a procura é ainda menor. Penso que ultrapassada esta altura em que está a ocorrer uma maior incidência de infeções, devido ao fim da obrigatoriedade de máscaras na maioria dos espaços, a tendência será para continuar a diminuir até que, eventualmente, desapareça com a integração do vírus na nossa vida.

Equipa Farmácia Oliveira

Numa altura pós-pandemia, são marcadas cada vez menos consultas, são receitadas praticamente as mesmas medicações aos utentes, já para não falar dos atrasos que são um dos maiores constrangimentos sentidos pelos doentes. Nesse sentido, crê que as farmácias se têm vindo a afirmar como o primeiro local onde estes se dirigem com o objetivo de serem orientados de uma forma rápido e eficaz?
A pandemia da Covid veio mostrar-nos algumas fragilidades a nível dos sistemas de saúde. A necessidade de distanciamento, que levou a um maior espaçamento de marcações de consultas médicas, o medo de frequentar locais passíveis de ter utentes infetados, a obrigatoriedade da máscara em si – que diminuiu a sensibilidade do facto humano – todos estes fatores levaram a um afastamento dos utentes de consultórios médicos, hospitais e centros de saúde. Verificámos, no entanto, uma maior aproximação à farmácia, como o primeiro local onde o utente se dirige para nos informar da sua sintomatologia e pedir a nossa opinião sobre a mesma e, se será necessário deslocar-se a um centro de saúde ou se podemos prover a ajuda de que precisa. Se antes já éramos uma ponte entre o utente e o SNS, a pandemia só veio demonstrar a importância da mesma, quer facilitando o acesso do utente à informação, quer descongestionando os hospitais e centros de saúde de situações que, como farmacêuticos, podemos resolver. Acho que seria do interesse geral, tentarmos aumentar a panóplia de situações em que podemos intervir, visto a nossa proximidade ao utente e capacidade profissional.

De que forma analisa o panorama atual do sector farmacêutico?
O sector farmacêutico passou de uma era em que as margens dos medicamentos estavam alinhadas com a média das margens na Europa, para uma era em que, com o decréscimo acentuado das margens, ser farmacêutico já implica ser gestor e economista.
A maioria das farmácias precisa de se fidelizar a Grupos de Compras para obter melhores condições de compra de medicamentos e, assim, conseguir subsistir no mercado. Os Grupos de Compras regem-se com obrigatoriedades de quotas de venda de determinados laboratórios, seus parceiros. Ou seja, eu, como farmacêutica e profissional de saúde, tenho que todos os meses verificar se estou alinhada com os objetivos pretendidos para cada laboratório, para não perder condições comerciais que, eu, como proprietária da farmácia, preciso de manter para enfrentar os encargos que tenho mensalmente. Acho que o sector farmacêutico perdeu parte da sua isenção como apenas profissional de saúde, o que é inglório para esta profissão.

No caso concreto da Farmácia Oliveira quais são os principais desafios em termos de futuro?
Estamos a sair de um período pandémico que alterou a economia do país e encontramo-nos num período de incertezas e perda de poder de compra devido à guerra, o que pode levar alguns utentes a não priorizarem a compra dos seus medicamentos, comprometendo assim a sua saúde. O farmacêutico tem um papel preponderante na adesão à terapêutica, sendo este um grande desafio atual. Outro dos desafios penso que seja estar mais alerta do que o habitual, focarmo-nos mais nos detalhes, e conseguirmos levar, quem precisa de ajuda, aos locais competentes uma vez que as pessoas se encontram frustradas, as depressões dispararam, existem problemas de saúde por diagnosticar, devido ao impacto negativo que a pandemia teve nesta área. Trabalhamos todos os dias para ir ao encontro das necessidades dos nossos utentes, procurando mantermo-nos sempre atualizados e tendo também uma palavra de alento.


Acredita que o cunho feminino traz algo de novo e diferenciador à liderança dos projetos? Que palavras gostava de dirigir às mulheres que veem na Ana Fernandes uma inspiração, no sentido de também elas criarem o seu próprio projeto e desenvolvê-lo com sucesso?
Penso que, hoje em dia, o que traz algo de diferenciador aos projetos é a perceção de que as pessoas não devem ser consideradas como números, mas sim como os seres humanos que são. Algo que tem vindo a diluir-se um pouco na cultura capitalista atual, mas não existe “o projeto” sem pessoas. A Farmácia Oliveira é um projeto de família, desde os meus primeiros dias de vida, a minha mãe levava-me para a farmácia, por isso é uma realidade que tive sempre presente em mim. Tenho funcionários que andaram comigo ao colo, que me conhecem há 40 anos, os laços profissionais também são afetivos, pelo que sempre os considerei como uma extensão da família. Quando temos um projeto pelo qual nutrimos carinho, com uma equipa que foi crescendo com este sentimento de “família”, penso que seja mais de meio caminho para o sucesso.

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