60 anos a valorizar a região de Alcanhões

De norte a sul de Portugal, a tradição do vinho implementa-se em cada região quase como uma forma de arte, com identidades distintas. No Ribatejo os vinhos são marcas de história e de contrastes, sendo a região uma das denominações vitivinícolas de referência no mapa dos vinhos nacionais. Nesse sentido, com uma nova direcção, jovem e dinâmica, a Adega Cooperativa de Alcanhões tem vindo a desenvolver a valorização do vinho da respectiva freguesia, de todo o concelho de Santarém, do qual é a única Adega Cooperativa, e também da região Tejo.
O Ribatejo sublimado, o prodígio de uma paisagem que deixa de ser, à força de se desmedir. Não é um panorama que os olhos contemplam, é um excesso da natureza. Uma região única, com a sua própria identidade na produção de vinhos. Localizada na freguesia de Alcanhões, no concelho de Santarém, a Adega Cooperativa de Alcanhões tem passado por diversas fases ao longo da sua existência. Erguida em 1957, teve inicialmente um grande impacto em todo o concelho, tendo perdido alguma preponderância com o decorrer dos anos. No entanto, após um período menos bom da sua história, teve em 2016 a reformulação da sua direcção que, desde então, tem vindo a desenvolver um trabalho notável, criando uma nova dinâmica na produção e na valorização, não apenas dos seus vinhos como também da região. Em conversa com a Revista Business Portugal, o presidente da Adega, Pedro Luís, o enólogo João Sardinha e o diretor comercial João Baldeante, falaram sobre a adega e o trabalho que têm vindo a desenvolver.
Um dos primeiros passos na reformulação da adega foi a renovação da imagem, de modo a ter um maior impacto como “marca” e ganhar um maior destaque junto do consumidor. Seguiu-se a reestruturação da estratégia de mercado e da comercialização, no qual o papel de João Baldeante tem sido indispensável. Na produção, o objectivo passa por diminuir a comercialização a granel, aumentando a quantidade de produtos embalado, em garrafa ou B&B., uma forma que permite valorizar as uvas entregues pelos associados, no final de cada vindima. Sendo o vinho apenas o produto final de uma série de etapas, a importância de acompanhar todo o processo da sua produção passou a ser um dos principais compromissos – ter uvas de qualidade é fundamental para se obter um vinho de qualidade. Nesse sentido, o presidente Pedro Luís explicou: “o vinho faz-se na vinha, e é importante valorizarmos a produção e os viticultores da região. A nossa qualidade advém do controlo que temos na vinha”.
A Adega Cooperativa de Alcanhões trabalha apenas com uvas produzidas pelos seus associados, sendo este um factor relevante para a preservação da identidade dos vinhos produzidos na região.
Apenas com um ano de mandato, a nova direcção tem mudado por completo o paradigma da Adega de Alcanhões. Os passos para o futuro passam agora pelo aproveitamento da dinâmica criada. Existe um compromisso entre a adega e os seus associados, em que estes têm de produzir uvas com qualidade e a adega tem de produzir bons vinhos com essas uvas, efectuando uma comercialização rentável. “É um objectivo para a valorização da região e das gentes que trabalham de modo a produzirem qualidade que possamos oferecer aos nossos consumidores”, destacou Pedro Luís. O presidente realçou também a ambição de, aproveitando o aumento do fluxo turístico no nosso país, integrar a Rota da Vinha e do Vinho do Ribatejo, após a sua reactivação.
Com vinhos com uma excelente relação qualidade/preço, esta direcção promete que irá continuar a surpreender com os seus produtos.
Diferentes gamas e vinhos para todos os gostos …
A região do Ribatejo é repleta de vinhos de qualidade, sendo uma referência nacional até para os mais requintados palatos. O vinho desta Adega reúne as qualidades da região ribatejana, com uma personalidade muito própria. O enólogo João Sardinha é o responsável pela concepção dos diversos vinhos que a Adega tem para oferecer: “Os brancos são vinhos frutados, mas com uma boa capacidade de envelhecimento. Quanto aos tintos, apresentam boa cor, também frutados, e têm boa estrutura, com alguma acidez natural, às vezes mesmo com alguma agressividade na boca, mas queremos manter a personalidade da região”, destacou o enólogo. Na produção o segredo é, de certa forma, “não pretender imitar outros vinhos e respeitar a identidade da região e das diversas castas utilizadas”.
A Cooperativa comercializa diversos vinhos de diferentes gamas. O vinho com a marca Ribaleve, é a gama de entrada, um vinho mais leve e mais fresco, principalmente para o mercado de verão. A marca Adiafa, branco, tinto e também um licoroso abafado de sabor doce, suave e persistente. Quanto aos vinhos Terras do Paço, branco tinto e rosé, são vinhos mais intensos, de grande qualidade. A referência da Adega são os vinhos da marca Cardeal Dom Guilherme, produzidos com uvas de castas selecionadas, nomeadamente a Fernão Pires e Arinto nos brancos, a Touriga Nacional, Cabernet Sauvignon, Syrah, Castelão e Trincadeira. São vinhos que oferecem uma excelente relação de preço/qualidade, sendo certamente vinhos que deixarão surpreendido qualquer apreciador da arte vinícola. No seguimento da realização do 60º aniversário do início de atividade da empresa, criou-se o Cardeal Dom Guilherme, um vinho comemorativo desta data, que requereu cuidados especiais na produção.
Este ano foi apresentado pela primeira vez o Rosé Terras do Paço, produzido exclusivamente com uvas da casta Syrah, um vinho diferente em especial pelo seu aroma e sabor, bem como pela lindíssima cor de cereja.
Posição de Mercado
A abordagem de mercado tem sido definida pela nova direcção, passando essencialmente por “trabalhar com distribuidores e armazenistas, de norte a sul do país. São eles que possuem os seus próprios canais de distribuição”, esclareceu João Baldeante. Há também uma aposta no mercado internacional, exportando cerca de 40 porcento da produção para Angola, China, Polónia, Alemanha, Holanda, Suíça, Estados Unidos da América e, mais recentemente, a França. No concelho, os vinhos da cooperativa, podem encontrar-se na loja própria Adega. Podem também ser adquiridos em vários pontos de comércio em Santarém e também na loja que a Adega tem no Mercado de Santarém.