20 anos a contribuir para a melhoria da saúde vascular

A Doença Venosa Crónica (DVC) é muito prevalente e frequentemente substimada, nas palavras do Professor Catedrático da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto Armando Mansilha, distinguido, em 2020, com o Prémio “maior contributo científico internacional” da SPACV. Em entrevista à Revista Business Portugal, o Presidente da Sociedade Portuguesa de Angiologia e Cirurgia Vascular e da Sociedade Portuguesa de Flebologia, engrandece o trabalho desenvolvido pela sociedade científica que promove o progresso da prevenção, diagnóstico e tratamento das doenças vasculares.

Doença Venosa Crónica

Sintomas e tratamento

A doença venosa crónica é uma doença que se vigia para evitar a progressão e aparecimento de complicações, mas é crónica. Divide-se em vários estádios de gravidade progressiva e, nos mais avançados, designa-se por Insuficiência Venosa Crónica, quando os doentes apresentam manifestações cutâneas de cronicidade como a pigmentação, o endurecimento, o eczema e a úlcera, frequentemente com edema e varizes salientes associadas.

Para efeitos científicos e uma linguagem mais universal entre clínicos, pode designar-se de dor venosa o conjunto de sintomas associados, que incluem a sensação de cansaço, peso e inchaço das pernas, tensão acumulada, pernas irrequietas, desconforto e dor, que se apresentam, fundamentalmente, no final do dia, ou seja, são de predomínio vespertino. O calor e determinadas posições de ortostatismo agravam a sintomatologia, que pode ser aliviada com o frio e repouso.

O primeiro pilar do tratamento é a higiene venosa: modificação da postura, controlo do peso e prática de atividade física, hábitos que contribuem para que alguns dos sintomas possam ser minimizados e não ter um impacto tão grande na qualidade de vida das pessoas. O tratamento é diferenciado para os sinais e sintomas. Nos sinais verificamos pequenas varizes ou outras mais salientes que poderão ser tratadas com escleroterapia ou intervenções minimamente invasivas, para que o doente possa regressar à sua atividade laboral no dia seguinte. No tratamento para os sintomas podemos recorrer a compressão elástica e a medicamentos específicos. A doença venosa crónica tem na sua génese uma inflamação da parede da veia e, para este conceito de inflamação, existem os fármacos venoativos, úteis para o alívio dos sintomas em todas as fases da doença, e importantes também no processo adjuvante de cicatrização de uma úlcera.

Prevalência na população em geral e nas mulheres em particular

A Doença Venosa Crónica é muito prevalente a nível mundial e nacional, em ambos os sexos, e em praticamente todos os escalões etários dos adultos, mas sobretudo depois dos 50 anos. A Sociedade Portuguesa de Angiologia e Cirurgia Vascular fez um estudo a nível nacional nos cuidados de saúde primários para avaliar o impacto da doença na qualidade de vida e concluiu que o grupo mais afetado, em termos de sintomas, são as mulheres com mais de 50 anos.  Nos dois sexos a progressão para gravidades mais avançadas não apresenta diferenças com significado estatístico. No maior estudo epidemiológico feito até hoje, à escala mundial, o Edinburgh Vein Study, no qual foram seguidos cerca de mil doentes durante 13 anos, verificou-se que havia uma progressão da doença em 60 % dos casos, mas não foram detetadas diferenças entre homens e mulheres.

Sociedade Portuguesa de Angiologia e Cirurgia Vascular (SPACV): 20 anos a desenvolver a Especialidade de Angiologia e Cirurgia Vascular

Qual o papel da SPACV ao longo de duas décadas de existência?

A SPACV está numa fase de maturidade e o balanço é excecional! O início é sempre difícil e, portanto, há que salientar o enorme mérito e prestar o devido reconhecimento aos pioneiros que construíram a sociedade.

Temos congressos nacionais cada vez mais participados e com cariz internacional; acordos de cooperação institucional com as Sociedades Espanhola e Italiana de Angiologia e Cirurgia Vascular; até ao início da pandemia tínhamos reuniões regulares em Portugal, Espanha e Itália com as nossas congéneres; para além do congresso anual no qual atribuímos prémios e bolsas, temos mesas redondas com participação internacional e sessões multidisciplinares; e ainda vários núcleos temáticos que se dedicam a áreas específicas da Angiologia e Cirurgia Vascular: acessos vasculares e transplantação, anomalias vasculares congénitas e cirurgia vascular pediátrica, translação vascular, ética profissional, economia e gestão em cirurgia vascular, biologia vascular, pé diabético, imagiologia vascular, comissão para a medicina privada.

Temos igualmente a destacar a publicação periódica, trimestral, do órgão oficial da SPACV, a revista científica “Angiologia e Cirurgia Vascular”, que tem revisão por pares e está indexada a nível internacional na Scielo.

A SPACV está representada nos principais Fóruns Europeus e Internacionais de Angiologia e Cirurgia Vascular: UEMS Section and Board of Vascular Surgery no âmbito da União Europeia de Médicos Especialistas, European Society for Vascular Surgery, European Venous Forum, International Union of Angiology e International Union of Phlebology.

Tudo isto significa que conseguimos, ao longo de 20 anos, reconhecimento a nível nacional e internacional, temos conseguido uma boa articulação com a Ordem dos Médicos e respetivo Colégio da Especialidade, e estamos sempre disponíveis para ajudar a tutela nos assuntos da cirurgia vascular, pois é nossa intenção contribuir para a melhoria da saúde de todos.

Temos a perspetiva de que em setembro estaremos capazes de organizar o 20º congresso da SPACV de forma presencial, comemorativo dos 20 anos da sociedade. Com todos os médicos vacinados, a população vacinada e provavelmente já com alguma imunidade coletiva, acreditamos que seja possível ter um congresso presencial na Alfandega do Porto.

Qual a importância de todos os organismos conexos à Angiologia e Cirurgia Vascular na promoção da Doença Venosa Crónica?

Os fóruns internacionais, as reuniões, os congressos são momentos de partilha de conhecimentos entre todos. Para além disso, estes órgãos, as sociedades e as instituições a nível internacional regulam a nossa prática diária para a qual temos recomendações. Por exemplo este ano foram lançadas as recomendações sobre Trombose Venosa Profunda, de que sou um dos autores, que serão brevemente traduzidas pela Sociedade Portuguesa de Angiologia e Cirurgia Vascular para serem publicadas na nossa revista, porque temos este protocolo entre a revista nacional e a europeia e entre a Sociedade Portuguesa e a Europeia. É importante ter uma voz ativa para podermos não só contribuir, mas também beneficiar destas recomendações através de uma informação rigorosa, detalhada e atual.

Prof. Doutor Armando Mansilha MD, PhD, FIUA, FEBVS

Presidente, Sociedade Portuguesa de Angiologia e Cirurgia Vascular (SPACV)

Presidente, Sociedade Portuguesa de Flebologia (SPF)
Secretary General, UEMS Section and Board of Vascular Surgery

Editor-in-Chief, International Angiology Journal

President Elect, International Union of Angiology (IUA)

Past President, European Venous Forum (EVF)

Professor Catedrático Convidado, Faculdade de Medicina da Universidade do Porto

Diretor, Unidade de Angiologia e Cirurgia Vascular, Hospital CUF Porto

Chairman, Porto Vascular Conference

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